Apesar de evitar a necessidade de deslocamento, trabalhar em casa pode ser muito cansativo. Entenda os motivos.
Raciocínio lento, dificuldade de concentração, sono excessivo, esquecimentos frequentes, irritabilidade. Esses são alguns sinais do cansaço mental, que geralmente ocorre quando a demanda que temos é maior do que a nossa capacidade de processamento de informações. Se você tem se sentindo assim, saiba que não está sozinho.
Essa sensação de exaustão da mente tem sido muito comum para quem está trabalhando no modelo de home office (trabalho remoto), e isso pode ter relação com a mudança na forma de comunicação com as pessoas, o excesso de telas, as reuniões online, a dificuldade de se desligar do trabalho (já que ele “se mistura” com a vida pessoal) e toda a mudança de rotina – que muitas vezes envolve cuidados com os filhos (que estão sem ir para a escola) durante o período de trabalho -, além da falta de um espaço apropriado para trabalhar, por exemplo.
Fora as questões específicas da parte profissional, o momento de incertezas, o estresse prolongado e a preocupação excessiva que temos sentido por causa da pandemia também podem levar à exaustão, assim como a quadros de ansiedade. Nesse último caso, o contrário também pode acontecer: a sensação de exaustão pode causar ansiedade devido à preocupação de não conseguir dar conta de todas as atividades.
Trabalhando em casa ou dormindo no trabalho?
O trabalho remoto pode ser uma maneira de economizar tempo de deslocamento, ter horários mais flexíveis e evitar a necessidade de se arrumar para sair. São as vantagens de trabalhar em casa.
Contudo, muitas pessoas têm dificuldade de se desligar do trabalho quando estão em home office, sem um horário para sair do escritório ou bater o ponto, por exemplo. E por vezes trabalham por muito mais horas do que o normal, até mesmo durante seu período de descanso ou nos dias de folga. Sem limites bem definidos entre vida pessoal e profissional, a sensação é de que estão dormindo no trabalho e não trabalhando em casa.
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“Essa é uma nova realidade para muitas pessoas e não acho que seja possível falar disso sem estimular um debate que envolva pessoas e empresas. Estabelecer limites entre trabalho e vida pessoal fica muito difícil quando os empregadores não se preocupam com a saúde dos empregados, quando se ignora o fato de que a produtividade no ambiente doméstico não é a mesma e nem todo mundo tem um ambiente adequado ao trabalho em casa”, aponta a psiquiatra dra. Bruna Campos.
Outro ponto importante é que hoje em dia é muito fácil falar com qualquer pessoa a qualquer hora. “Isso permite que, além das reuniões, emails e mensagens de whatsapp sejam enviadas 24 horas por dia, o que atrapalha muito a qualidade – e até mesmo a existência – dos descansos diário e semanal.”
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Reuniões em excesso e “Zoom fatigue”
As reuniões por chamada de vídeo lhe deixam cansado? Pode ser sinal da chamada “Zoom fatigue” (fadiga do Zoom, em português), uma referência à ferramenta de videochamadas que tem sido muito utilizada durante o trabalho remoto. Segundo a psiquiatra, o quadro é estudado por especialistas há algum tempo, mas ganhou notoriedade no último ano justamente por causa da pandemia.
Mas por que fazer uma chamada de vídeo pode ser tão cansativo? A dra. Bruna explica que, para entendermos corretamente a mensagem de outra pessoa durante uma conversa, nosso cérebro utiliza diversos sinais não verbais, como gestos, expressões faciais, postura e ambiente. “Em videochamadas, só vemos uma parte da pessoa, às vezes ouvimos o som com atraso, a conversa é interrompida mais vezes por problemas técnicos. Quando é um grupo, piora ainda mais: são muitas pessoas falando ao mesmo tempo e todos os fatores anteriores se multiplicam ainda mais. E isso consome muita energia”, explica.
Além disso, as telas também causam um desconforto visual maior, pois piscamos menos e passamos muito tempo olhando para uma distância específica, exigindo mais de um grupo de músculos e ligamentos específicos dos olhos. Esses fatores também contribuem para que cheguemos ao fim do dia mais cansados.
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Quando é síndrome de burnout?
O cansaço mental relacionado ao trabalho, quando persiste por um tempo muito prolongado, pode levar à exaustão e, consequentemente, a síndrome de burnout (distúrbio psíquico causado por esgotamento profissional).
“Os principais sintomas são sensação de exaustão física e emocional, apatia, desânimo, atitudes negativas no trabalho como isolamento, mudanças bruscas no humor, irritabilidade, alterações do sono, sentimento de incapacidade no trabalho, falta de motivação, pessimismo”, explica a médica.
O tratamento pode incluir medicamentos antidepressivos e psicoterapia. Exercícios físicos e atividades relaxantes podem auxiliar na melhora dos sintomas. Se perceber a presença dos sintomas, procure um psiquiatra.
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Como aliviar o cansaço mental
Parece simples e óbvio, mas diante da sensação de cansaço frequente, o primeiro passo é conseguir descansar. “Sem pensar nesse contexto estrutural do trabalho, seria muito cruel colocar toda a responsabilidade em separar vida pessoal e trabalho totalmente no ‘colo’ do trabalhador. Dito isso, podemos pensar em algumas estratégias individuais que, quando viáveis, podem ajudar muito as pessoas a se desligarem do trabalho no horário de descanso”, afirma a psiquiatra.
Veja algumas dicas que podem aliviar o cansaço mental:
- Programe pausas do trabalho durante o dia;
- Estabeleça horários de início e término do trabalho;
- Evite contato com informações de trabalho no horário de descanso;
- Durma horas suficientes (em geral, adultos precisam de 7 a 8 horas de sono por noite);
- Mantenha uma rotina regular de atividades físicas;
- Quando possível, comunique à equipe ou clientes que, nos horários de descanso, mensagens e e-mails não serão respondidos (e cumpra o combinado).
É importante também tentar separar um tempo para momentos de lazer, mesmo dentro de casa, para conseguir relaxar e descansar a mente. Procure fazer atividades de que gosta: ler um livro, assistir a um filme ou série, cuidar das plantas, ouvir música, dançar, tomar sol, aprender uma coisa nova que sempre teve interesse, entre outras.
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