Como conseguir atendimento psicológico gratuito

Através da Rede de Atenção Psicossocial do SUS, é possível conseguir atendimento psicológico gratuito. Saiba onde e como acessar.

Conheça a Rede de Atenção Psicossocial do SUS e saiba como acessar os serviços de saúde mental pela rede pública

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Publicado em: 21 de setembro de 2022

Revisado em: 21 de setembro de 2022

Conheça a Rede de Atenção Psicossocial do SUS e saiba como acessar os serviços de saúde mental pela rede pública

 

Saúde mental é um tema cada vez mais presente no nosso dia a dia. Se por um lado conseguimos ampliar o debate sobre esse tema, por outro, o contato com serviços de saúde mental como psicoterapia e consultas psiquiátricas ainda está longe de ser acessível a todos.

Neste especial, vamos falar sobre quais são os caminhos disponíveis para conseguir atendimento psicológico e psiquiátrico gratuito. 

 

Conhecendo a Rede de Atenção Psicossocial do SUS (RAPS)

O SUS conta com uma estrutura voltada exclusivamente para a Atenção Psicossocial, a RAPS, instituída em 2017, fruto da luta antimanicomial e da Política Nacional de Saúde Mental, estabelecida há mais de 20 anos. Um dos principais objetivos da RAPS é consolidar um modelo de atenção aberto e de base comunitária, em que a pessoa com transtornos mentais (incluindo o abuso de substâncias psicoativas) recebe um tratamento humanizado e é incentivada a criar vínculos com a sua comunidade, indo contra a ideia de isolar essas pessoas em hospitais psiquiátricos e tirá-las do convívio social.

A RAPS é dividida em seis eixos principais: 

  1. Atenção Primária à Saúde: Unidades Básicas de Saúde (UBS), consultórios de rua, centros de convivência e cultura;
  2. Atenção Especializada: Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) nas suas diferentes modalidades;
  3. Atenção às Urgências e Emergências: SAMU 192, sala de Estabilização, UPA 24 horas e portas hospitalares de atenção à urgência/pronto-socorro;
  4. Atenção Residencial de Caráter Transitório: Unidade de Acolhimento, serviço de Atenção em Regime Residencial;
  5. Atenção Hospitalar: Enfermaria especializada em hospital geral, Serviço Hospitalar de Referência (SHR) para atenção às pessoas com sofrimento ou transtorno mental e com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas;
  6. Estratégias de Desinstitucionalização e Reabilitação: Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT) e Programa de Volta para Casa (PVC). 

Você pode localizar a unidade da RAPS mais próxima de você no mapa aqui:

 

UBS

Por regra, a UBS costuma ser o primeiro contato com o atendimento de saúde mental gratuito. 

Primeiro, é preciso marcar uma consulta com o clínico geral. No dia da consulta, converse com o médico e diga como está se sentindo para pedir um encaminhamento para o psicólogo.

Dado o encaminhamento, é só agendar a consulta com o psicólogo diretamente na sua UBS (caso haja profissional disponível). É preciso ter em mente que, por causa da alta demanda e do baixo número de especialistas nas estruturas de atenção primária, o tempo de espera pela consulta pode ser longo. 

Caso o próprio clínico ou o psicólogo identifique que o seu sofrimento se encaixa num quadro moderado ou grave, ele pode realizar o encaminhamento para uma unidade do CAPS.

Veja também: Falta de informação ajuda a estigmatizar transtornos mentais

 

CAPS

Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) contam com uma rede multidisciplinar de profissionais para cuidar da saúde mental do paciente de maneira integral, da qual fazem parte psicólogos, médicos psiquiatras, enfermeiros, assistentes sociais e terapeutas. 

Os CAPS são divididos em subtipos:

  • CAPS I e II: Atendimento a todas as faixas etárias, para transtornos mentais graves e persistentes, inclusive pelo uso de substâncias psicoativas. Nesses CAPS, não há estrutura para acolhimento noturno/estadia. 
  • CAPS III: Conta com até 5 vagas de acolhimento noturno e observação. Atende a todas as faixas etárias; transtornos mentais graves e persistentes inclusive pelo uso de substâncias psicoativas.
  • CAPS i: Atendimento a crianças e adolescentes, para transtornos mentais graves e persistentes, inclusive pelo uso de substâncias psicoativas.
  • CAPS ad Álcool e Drogas: Atendimento a todas faixas etárias, especializado em transtornos pelo uso de álcool e outras drogas.
  • CAPS ad III Álcool e Drogas: Funciona 24h e disponibiliza de 8 a 12 vagas de acolhimento noturno e observação. Atende a todas faixas etárias; transtornos pelo uso de álcool e outras drogas. 

Não se preocupe, pois o médico responsável pela sua avaliação na UBS fará o encaminhamento já de acordo com a sua necessidade e a disponibilidade de CAPS na sua região. 

Outra possibilidade é comparecer diretamente no CAPS, nos dias e horários reservados para o acolhimento e triagem de novos pacientes. Como os dias e horários variam de unidade para unidade, o ideal é entrar em contato via telefone para se informar. 

Uma vez no acolhimento, você terá a oportunidade de conversar com um profissional que será o seu profissional de referência. Ou seja, a pessoa que irá acompanhá-lo de perto durante todo o seu tratamento. Como introduzimos brevemente, esse profissional pode ser um psicólogo, um assistente social, um terapeuta etc. 

Não tenha vergonha e fale tudo o que lhe incomoda e o que está acontecendo com você. O profissional não está ali para julgá-lo, mas para acolhê-lo e definir, juntamente com você, as melhores estratégias de tratamento. 

No final do acolhimento, o especialista responsável por atendê-lo irá repassar todas as próximas etapas do tratamento e agendar o seu retorno. Nesse retorno, você terá mais detalhes sobre as próximas etapas do seu tratamento, como se há indicação de acompanhamento psiquiátrico para introduzir medicação, se é interessante incluir a parte de assistência social de alguma forma etc. 

 

CAPS e a queda do risco de suicídio

Médico e doutor em Ciências Sociais, Marcelo Kimati, que já atuou como coordenador nacional de saúde mental do Ministério da Saúde, ressalta o papel do CAPS para um plano de tratamento contínuo.

“No caso de pessoas com transtornos crônicos, por exemplo, é impossível pensar um tratamento pautado principalmente nos PS ou unidades de Pronto Atendimento. Ainda que uma boa abordagem numa situação de urgência seja importante, não soluciona o problema, uma vez que os transtornos crônicos exigem tratamento contínuo e multidisciplinar, com foco na identificação precoce do risco de suicídio, não apenas medicamentoso.”

Embora seja um modelo que mostra resultados – munícipios que contam com pelo menos um CAPS têm redução de até 14% no risco de suicídio, segundo publicado pelo Ministério da Saúde em 2018 –, esse é um serviço caro quando comparado à manutenção dos hospitais psiquiátricos tradicionais. 

Isso porque o CAPS ad III Álcool e Drogas, categoria com maior capacidade de atendimento, pode acolher só 12 pacientes por vez para internação. O fator crucial para o seu sucesso, que é o baixo número de pacientes por unidade para fortalecer os laços entre pacientes, profissionais e comunidade, é também o que dificulta sua expansão. Atualmente, são pouco mais de 2.900 CAPS para um total de 5.570 municípios brasileiros.

“Você tem, em um hospital psiquiátrico ideal, um técnico de enfermagem para 25 pacientes ou dois técnicos para uma unidade de 40, 50 pessoas. Num CAPS III com leito, há um técnico de enfermagem para cada 2 ou 3 leitos. Por isso ocorre muito menos suicídio em um CAPS que funciona 24 horas do que num hospital psiquiátrico. Essa rede de saúde mental é muitíssimo mais cara do que os hospitais psiquiátricos. Mas é um modelo que consegue mudar a epidemia do suicídio”, destaca o médico.

Veja também: É possível prevenir o suicídio

 

Clínicas-Escola

Como o estágio é obrigatório para os cursos de psicologia, é comum que as faculdades que ofertam esses cursos também disponibilizem uma agenda para atendimento psicológico gratuito (o mesmo vale para a psiquiatria). 

Nesse caso, a dinâmica é um pouco diferente. Como as vagas são limitadas, as agendas costumam abrir no início de cada semestre, momento no qual é possível realizar o seu cadastro prévio – via internet ou pessoalmente, o ideal é checar com a instituição por telefone. A partir desse momento, é preciso aguardar o contato da clínica para passar pela triagem, na qual o profissional irá avaliar o seu caso. 

Caso o profissional conclua que o seu caso se encaixa nos parâmetros para seguir com o tratamento na clínica, você será comunicado e saberá dos próximos passos. 

Como se tratam de clínicas-escola, vale lembrar que, na maioria das vezes, o atendimento é feito por estudantes, mas que estão sempre amparados por supervisores já formados e capacitados. 

 

ONGs, coletivos e demais instituições

Além da estrutura pública governamental, é possível recorrer a algumas organizações não governamentais que realizam atendimento psicológico e psiquiátrico gratuito. Conheça algumas iniciativas:

  • Casa 1: atendimento da população LGBTQIAP+;
  • Projeto Geni: idealizado pelo humorista Yuri Marçal e voltado para pessoas negras;
  • Casa das Marias: focado em mulheres negras e indígenas;
  • Ipefem: atendimento para mulheres, com prioridade para aquelas em situação de violência doméstica;
  • Prematuridade.com: conta com um núcleo de saúde mental para famílias com bebês internados na UTI Neonatal e outro voltado para gestantes de alto risco.

 

Medicamentos gratuitos

O SUS disponibiliza diversos medicamentos antidepressivos, ansiolíticos e antipsicóticos nas farmácias da rede pública. É possível retirar as medicações também com a receita de um médico particular. Para saber se o seu medicamento faz parte dessa relação, basta acessar esse link ou entrar em contato diretamente com a UBS da sua região.

Veja também: Como os antidepressivos agem no cérebro?

Em caso de crise

Se você ou um ente querido estiver em crise, é possível receber atendimento especializado em uma unidade dos Ambulatórios Multiprofissionais de Saúde Mental, equipados com psiquiatras, psicólogos, assistentes sociais e outros profissionais que atuam na área. Basta buscar por “Ambulatórios de Saúde Mental” + o nome da sua cidade para encontrar o endereço mais próximo.

Se não for possível sair ou caso queira apenas conversar sobre o que está sentindo, acesse o chat do Centro de Valorização da Vida (CVV) ou ligue através do 188; a ligação é gratuita e o serviço está disponível 24 horas por dia. 

O CVV é formado por voluntários e promove o apoio emocional e a prevenção do suicídio. Algumas cidades contam com pontos físicos do grupo, onde são realizados encontros para os “sobreviventes do suicídio” (pessoas que perderam alguém próximo ou realizaram alguma tentativa de suicídio), exibem filmes e debatem sobre saúde mental. Para saber se há alguma unidade na sua cidade, clique aqui

Em caso de emergência ou de ameaça de suicídio, não hesite em acionar o SAMU 192. 

O importante é não sofrer sozinho. Compartilhe a sua dor, por mais difícil que seja. Às vezes, quando a dor emocional é muito grande, é difícil enxergar além da névoa. Mas lembre: sempre há alguém disposto a te ouvir e a passar por isso com você. Você não está só.

Veja também: Como ajudar uma pessoa que está pensando em suicídio?

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