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Psiquiatria

Cleptomania: o que é, causas, sinais de alerta e tratamento

Trend das “clepto girls” nas redes sociais aumenta o estigma sobre pessoas que sofrem de cleptomania. Entenda.
Publicado em 21/02/2025
Revisado em 21/02/2025

Trend das clepto girls nas redes sociais aumenta o estigma sobre pessoas que sofrem de cleptomania. Entenda.

 

Talvez você já tenha ouvido falar das “clepto girls” nas redes sociais. Esse é um grupo formado por mulheres, especialmente adolescentes, que publicam furtos cometidos por elas mesmas em seus perfis. O termo faz alusão à cleptomania, mas a prática (que configura crime) não tem nada a ver com o distúrbio. 

Veja também: Transtornos de controle do impulso

 

O que é cleptomania?

Diferente de uma pessoa que furta para usufruto ou ganho financeiro, o cleptomaníaco o faz porque não consegue controlar o impulso de furtar. É uma compulsão, assim como a compulsão alimentar, por jogos de azar, por acumulação e tantas outras. A maioria dos objetos extraviados é de baixo valor, já que o que motiva a pessoa com o distúrbio é somente a vontade incontrolável de furtar o item. 

“É um sistema de recompensa diferente. A sensação de conseguir fazer algo que era desafiador e tomar aquilo para si é o que acaba gerando a repetição do comportamento”, explica a psicóloga Tatiane Mosso.

Ou seja, o cleptomaníaco tem a consciência de agir errado, mas não consegue parar. Ainda que a atitude provoque um prazer momentâneo, a sensação é seguida de vergonha, culpa, tristeza, ansiedade e tensão. Além disso, existe ainda o risco de sofrer com problemas legais e sociais, como processos na justiça, ou com o afastamento de amigos e familiares.

 

Causas da cleptomania

“A causa da cleptomania não é totalmente compreendida, mas para a psicologia, existem alguns fatores que podem estar envolvidos. Por exemplo: alterações neurobiológicas. Muitos estudos olham para a cleptomania associada a disfunções do sistema de recompensa do cérebro envolvendo questões hormonais de dopamina, serotonina e neurotransmissores ligados ao prazer e ao impulso”, afirma a especialista.

Traumas na infância, como abusos e negligência familiar, também podem influenciar na manifestação da cleptomania. Comorbidades psicológicas, como ansiedade, depressão, transtorno bipolar e especialmente o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), têm uma relação direta com o distúrbio. Vários pacientes relatam que furtar serve como uma descarga de tensão emocional para os sentimentos incômodos.

 

Diagnóstico e tratamento

Na maioria das vezes, o que leva o paciente a procurar ajuda é a queixa de não conseguir controlar os impulsos (gritar com alguém que não devia, expressar uma insatisfação de forma exagerada, bater a porta em momentos de estresse etc.). Ao longo das consultas, o psicólogo ou psiquiatra acaba identificando os sinais da cleptomania. Se os furtos forem motivados por alucinações, episódios de mania, raiva ou desejo de vingança e não puderem ser melhor explicados por outras questões, isso ajuda a fechar o diagnóstico.

“É importante fazer uma avaliação neuropsicológica para entender, para aquele indivíduo, quais são os aspectos que estão disfuncionais e exigem tratamento. A gente não pensa em uma cura definitiva, mas no gerenciamento dos sintomas”, explica Tatiane.

A psicoterapia é a estratégia de tratamento mais eficaz, pois ajuda o paciente a identificar os gatilhos que levam ao furto e desenvolver técnicas de autocontrole. A terapia em grupo pode complementar o tratamento, assim como, em alguns casos, o uso de medicação. 

Sobre a tendência das “clepto girls”, citadas no início desta matéria, a psicóloga alerta:

“Quando a pessoa vai lá e filma [o furto], é muito mais na ideia do ‘olha o que eu sou capaz de fazer sem ser pego’. E isso acaba sendo associado à autoestima, à possibilidade de quebrar regras e se colocar em um lugar diferente socialmente. É algo que, infelizmente, acaba reforçando o comportamento de outras pessoas que, às vezes, não têm ideia da complexidade do sofrimento de quem tem cleptomania. É muito perigoso”, diz.

A especialista ressalta ainda que a cleptomania não é uma questão de falta de caráter. É um transtorno psicológico que exige acompanhamento profissional adequado.

Veja também: 7 coisas que talvez você não saiba sobre TOC

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