Outras Histórias #52 | Sebastião Salgado

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Publicado em: 17 de maio de 2022

Revisado em: 24 de maio de 2022

Drauzio conheceu o trabalho de Sebastião Salgado através de série de fotografias que ele havia tirado no Kuwait. A partir daí, se tornou fã de carteirinha. Neste episódio do Outras Histórias, Drauzio nos conta como foi visitar a exposição mais recente do fotógrafo.

 

 

 

A primeira vez que o dr. Drauzio viu uma das fotografias feitas por Sebastião Salgado foi quando ele estava nos Estados Unidos. Matéria de destaque no The New York Times, as fotos dos técnicos americanos enviados para apagar o fogo nos postos de petróleo no Kuwait chamaram a atenção do médico. “Como sou brasileiro e não conheço esse fotógrafo?”, perguntou-se.

A partir de então, o dr. Drauzio começou a se interesssar cada vez mais pelo trabalho do fotógrafo, chegando até a entrevistá-lo e visitar a sua última exposição com retratos da região da Amazônia. Para ele, Sebastião Salgado é capaz de eternizar momentos, pessoas e lugares ao redor do mundo com muito respeito e dignidade. Ouça neste episódio.

A primeira vez que eu ouvi falar em Sebastião Salgado, o fotógrafo, eu estava nos Estados Unidos, num curso, e recebi o New York Times numa edição de domingo. No caderno de cultura, tinha uma série de fotografias que ele fez no Kuwait.

Naquela época, o Iraque tinha invadido o Kuwait e depois o Kuwait foi liberado. Os iraquianos, quando foram embora, eles puseram fogo nos poços de petróleo, e os poços de petróleo ficaram ardendo e jogando aquela fumaça preta para cima. E aí os americanos mandaram para o Kuwait técnicos para apagar o fogo nos postos de petróleo.

Imagino como deve ser difícil… Nunca se viu um fogo em poço de petróleo, mas imagina como era difícil fazer isso. E o Sebastião Salgado foi lá e fotografou aqueles homens, todos sujos de petróleo, assim, da cabeça aos pés. Eram imagens pretas, fantasmagóricas assim, com os poços de petróleo queimando no fundo.

E eu falei “pô, que fotógrafo tremendo. Eu sou brasileiro e não conheço” e me senti muito ignorante. Ele tava numa posição de destaque ali no jornal, naquela edição de domingo. Falei “esse povo aqui nos Estados Unidos deve conhecer o Sebastião Salgado antes de eu conhecê-lo”, e a partir daí comecei a ficar muito interessado nas coisas que ele fotografou sempre. E ele tem inúmeras fotografias feitas no mundo inteiro, na África, na Ásia, no Brasil… ele correu o  mundo.

Anos atrás, quando ele lançou um dos livros dele, nós fizemos uma entrevista; eu o entrevistei para um programa da Companhia das Letras, que é a editora dele, e aí fiquei muito impressionado com as histórias que ele contou e tudo, e até brinquei com ele e falei:

— Olha, Sebastião, eu já fiz bastante coisa na vida, fiz especialmente aquelas que eu achei que devia fazer. Então não tenho inveja dos outros, mesmo as pessoas muito realizadas na profissão e tudo. Não tenho esse sentimento. — Falei. — Mas você, eu invejo. Eu invejo porque você conheceu o mundo inteiro. — Ele andou por todas as partes, fotografando, e teve assim, um grau de penetração, nas sociedades que ele fotografou, impressionantes.

Agora, semana passada, eu fui ver a exposição dele no Sesc Pompeia, aqui em São Paulo, sobre a Amazônia, e eu fiquei muito tocado pelas fotos dele. Primeiro porque ele fotografou áreas que as pessoas normalmente não conhecem; a gente tá habituado a ver essas imagens da Amazônia como se a floresta fosse um tapete, e um tapete homogêneo. Não é verdade. A Floresta amazônica é muito diversa, você vê áreas que tem árvores altíssimas e, de repente, vem uma área de cerrado, com uma vegetação baixa. E especialmente essa região que ele mais fotografou, e que está aí na exposição, é a região do Alto Rio Negro e de Roraima.

O Alto Rio Negro é uma região montanhosa — o Médio e o Baixo Rio Negro são planos; o Alto Rio Negro é montanhoso —, e Roraima tem um célebre morro, Monte Roraima; Roraima também é uma região muito montanhosa e aquelas imagens daquelas rochas enormes, né, e a floresta embaixo… Muito impressionante, muito.

No Rio Negro também. No Alto Rio Negro você tem… A última cidade brasileira no Alto Rio Negro é São Gabriel da Cachoeira. Só para dar uma ideia da distância, se você vem pelo Rio Negro, sai de Manaus e vai para São Gabriel da Cachoeira, são quase mil quilômetros de distância pelo rio — que é um meio de transporte lá, né.

Isso aí é a distância de São Paulo a Porto Alegre. Tudo gigantesco na Amazônia, e ele ali, fotografou as populações indígenas — e as fotos são maravilhosas, sabe? Rostos, corpos, os homens super fortes, musculosos, com o peito cheio de músculos, os braços… As mulheres lindas e maquiadas com cores locais, com tinta preta no rosto. É uma diversidade muito impressionante.

A gente aqui, ignorante dos costumes indígenas, considera os indígenas todos iguais. A gente fala índios, não é? O que é um absurdo. São muitas culturas, é uma diversidade enorme de línguas. O Rio Negro tem 23 etnias indígenas, com línguas diferentes, com costumes diferentes, com aspecto físico diferente. Isso é uma grande riqueza para o nosso país, ela tem que ser preservada de qualquer maneira e o Sebastião Salgado, grande fotógrafo, faz isso com muito respeito e dignidade, respeitando a dignidade das pessoas que moram na floresta.

Veja também: Drauzio Entrevista | Sebastião Salgado

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