Sociedade dos primatas – Parte 4 – Outras Histórias #73

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Publicado em: 8 de novembro de 2022

Revisado em: 23 de fevereiro de 2023

O que diferencia os homens dos animais não são as atitudes nobres ou bestiais, mas um sistema nervoso central mais complexo.

 

 

 

A evolução não cria mecanismos especiais para nenhuma espécie. O que costumamos chamar de “humanidade” entre os homens, isto é, as suas ações de generosidade, também pode ser encontrada entre os animais. Mas, então, o que nos diferencia dos outros primatas? Características com um sistema nervoso central mais complexo, o desenvolvimento da linguagem, a capacidade de criar projetos e colonizar outros planetas são algumas das respostas. Ouça no último episódio da série especial do Outras Histórias.

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Não pode ouvir agora? Acompanhe a transcrição a seguir:

Nesta série de podcasts, nós estamos falando sobre os grandes primatas. Quem são os grandes primatas? Os orangotangos; os gorilas; nós, seres humanos; os chimpanzés; e os bonobos.

Olá. Eu sou Drauzio Varella, e aqui você vai ouvir Outras Histórias.

Depois de tudo que nós dissemos, é importante deixar claro que a evolução não cria mecanismos especiais para nenhuma espécie. Se nós admitimos que o homem tem um lado animal em sua personalidade — que é despótico, sanguinário, herdado dos nossos ancestrais primitivos —, por que não considerar que nós devemos a eles também um lado mais nobre, humano, como a gente gosta de dizer?!

Quando um chimpanzé traz comida para o companheiro doente, quando uma gorila enfrenta o macho enorme para defender um filhote que não é dela, ou uma fêmea de orangotango coça as costas do filho, ou um bonobo coloca os lábios nos da fêmea e introduz a língua na boca, por que não dizer que tais atitudes representam altruísmo, solidariedade com o mais fraco, carinhos maternos e beijo na boca?! O que nos diferencia dos outros primatas não são as atitudes nobres, muito menos as bestiais, mas o fato de termos um sistema nervoso central mais complexo do que o deles.

O orangotango alfa dá gritos longos para atrair as fêmeas que estão na fase receptiva e assustar os subordinados; os gorilas e os chimpanzés berram para afastar intrusos; e os bonobos, quando brigam, gritam alternadamente na direção do adversário, como se trocassem ofensas num debate. Não há dúvidas que os grandes primatas não humanos conseguem dizer coisas fundamentais uns para os outros através da fala. O que eles não são capazes, é de recombinar sílabas sem sentido, de modo a formar milhares de palavras que podem ser agrupadas em sentenças com significados infinitos. A linguagem, sim, é uma característica tipicamente humana. Nada parecido com ela existe em qualquer espécie.

O nosso cérebro evoluiu passo a passo através de ancestrais comuns aos dos outros primatas. Não houve saltos qualitativos, nem acrobacias evolutivas, apenas um longo processo de competição e seleção natural, que conduziu aos cinco grandes primatas e seus 97% ou 98% de identidade genética, num meio de milhões de espécies sobreviventes das sucessivas extinções em massa, que ocorreram em nosso planeta.

Num mundo de reservas limitadas, a diferença genética de dois ou três por cento que surgiu entre nós e os outros grandes primatas foi decisiva pro homem povoar o planeta aos bilhões — número jamais sonhado por qualquer outro primata —, e o homem ainda se aventurar a viagens espaciais. Nessa pequena constelação exclusiva de genes humanos, estão aqueles que aumentaram a versatilidade do funcionamento cerebral.

O cérebro humano, comparado com o de orangotangos, gorilas, chimpanzés e bonobos não é apenas mais volumoso. É saliente na fronte, também apresenta maior capacidade computacional. Na evolução, não ocorreu simplesmente o crescimento volumétrico. Houve, na espécie humana, o crescimento diferencial de algumas áreas cerebrais.

O nosso cérebro é formado de células nervosas — os neurônios —, que se comunicam através de circuitos computacionais, montados pacientemente durante milhões de anos de competição e seleção natural. Cada estímulo que atinge o sistema nervoso central, percorre um circuito particular de neurônios, até chegar às estações centrais, que decodificam esses sinais recebidos.

Quando um raio de luz impressiona a nossa retina, por exemplo, o estímulo visual cruza o cérebro até a parte posterior da cabeça, no lobo occipital, onde se encontra o centro da visão. Nele, nossos circuitos de neurônios fazem a informação trafegar em velocidade vertiginosa aos centros cerebrais, que irão situar o estímulo no domínio do consciente. Em milionésimos de segundo, saberemos se aquela luz é de um barco, de um vagalume ou do automóvel ameaçador.

O desenvolvimento do lobo frontal na espécie humana colocou as representações internas do corpo online com as do mundo externo permanentemente. Desse universo online, resultou um crescimento exponencial da capacidade de elaborar projetos, como o de criar colônias em Marte, por exemplo, nos próximos anos.

Entre os três bilhões de espécies que já habitaram o nosso planeta, surgiu um grande primata, muito parecido com os outros — exceto pelo volume computacional do cérebro, capaz de processar informações como jamais se viu. Em apenas cinco ou seis milhões de anos, esse primata partiu para povoar outros corpos celestes. Certamente levará com ele algumas espécies exclusivas da Terra, com seus genes replicantes, a gerar novos indivíduos em progressão geométrica: dois, quatro, oito, 16, 32.

Semanalmente estarei aqui para contar Outras Histórias.

A trilha sonora foi feita pela In Sonoris, e a produção é da Júpiter – Conteúdo em Movimento.

Veja também: Sociedade dos primatas – Parte 3 – Outras Histórias #72

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