Os tumores infantis têm características próprias que os diferenciam dos adultos. Leucemias e tumores do sistema nervoso central são os mais comuns.
Atualmente, o câncer é a segunda causa de morte em crianças e adolescentes no Brasil, com cerca de 12 mil casos por ano, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca). Ainda assim, ele é considerado uma doença rara, quando comparamos com as estimativas de cânceres em adultos, que ultrapassam 700 mil casos anuais.
É importante destacar que o câncer infantojuvenil tem algumas características que o diferem dos cânceres em adultos.
“Enquanto nos adultos a maioria dos cânceres ocorre por um grande acúmulo de mutações de células de crescimento lento, geralmente de origem epitelial, e muitas vezes relacionados à exposição contínua de fatores externos, como a luz solar e substâncias carcinogênicas, como o tabaco, nas crianças o processo é diferente. As células atingidas são as embrionárias, que se multiplicam de maneira muito mais rápida e tendem a ser mais agressivas. Outra característica é que eles não estão ligados ao estilo de vida. Mas a boa notícia é que respondem melhor ao tratamento”, esclarece Fabricio Tera Romagnol, oncologista pediátrico da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo.
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Há ainda a questão hereditária, que corresponde a pouco menos de 5% a 10% dos casos. Ainda assim, mesmo que a criança tenha genes que aumentem o risco de câncer, não significa que ela necessariamente irá desenvolvê-lo. “Algumas crianças herdam mutações no DNA que podem aumentar o risco de câncer. Por exemplo, a síndrome de Li-Fraumeni, que resulta de uma mutação herdada do gene supressor de tumor TP53, aumenta o risco de uma pessoa desenvolver leucemia, bem como alguns outros tipos de câncer”, explica Analiz Marchini, oncologista pediátrica da Hemomed.
Não à toa, ainda segundo o dr. Romagnol, o câncer pediátrico é chamado de câncer do crescimento; já o do adulto, de câncer do envelhecimento.
Leucemias e linfomas
Quando olhamos apenas para os tumores pediátricos, a leucemia linfoblástica aguda (LLA) aparece em primeiro lugar, seguida dos tumores do sistema nervoso central (SNC) e os linfomas na terceira posição. Biologicamente, as LLAs são doenças que ocorrem de forma mais frequente na infância entre 1 e 10 anos de idade e são raras nos adultos. Já os linfomas, apesar de serem mais comuns nos adultos de forma geral, correspondem a 15% dos tumores infantis.
Segundo a oncologista Analiz Marchini, a causa da maioria dos casos de leucemia e linfoma infantil é desconhecida, já que grande parte das crianças não tem fatores de risco conhecidos. “Os pesquisadores já sabem que certas alterações no DNA podem transformar as células normais da medula óssea e sistema linfático em células neoplásicas. Além disso, certas doenças hereditárias podem aumentar o risco de leucemia, mas a maioria dos casos de leucemia em crianças não parece ser causada por mutações hereditárias”, explica a médica.
Outro ponto levantado pelos pesquisadores, segundo o dr. Romagnol, é o desbalanço de células imaturas. “Até perto dos 10 anos existe uma quantidade maior de tecido linfoide no organismo, podendo ocorrer um eventual desequilíbrio no crescimento dessas células.”
Tumores cerebrais
Assim como nas leucemias e linfomas, os tumores cerebrais surgem de tecidos diferentes daqueles que afetam os adultos, ou seja, são oriundos de células embrionárias que passam a se multiplicar de maneira desordenada.
O meduloblastoma é um dos tipos de tumores no cérebro mais comuns e agressivos em crianças. São tumores invasivos e de crescimento rápido que se desenvolvem na região de trás da cabeça (que contém o tronco encefálico e o cerebelo).
O tratamento e a chance de recuperação (prognóstico) dependem da localização no cérebro, ou se ele se espalhou, por exemplo. A boa notícia é que as crianças têm melhores chances de sobreviver e apresentar um prognóstico melhor quando comparadas a adultos.
Osteossarcoma
O osteossarcoma é um tumor ósseo maligno que pode se desenvolver em qualquer osso do corpo, mas geralmente se forma nas extremidades mais largas dos ossos longos da perna ou do braço. Assim como no caso dos tumores sanguíneos, linfáticos e do sistema nervoso central, esse tipo de tumor se inicia em células ósseas imaturas (osteoblastos) que formam um novo tecido ósseo.
Retinoblastoma
Retinoblastoma também é mais comum em crianças e esse tipo de tumor se inicia na retina – tecido fino que reveste a superfície interna da parte posterior do globo ocular.
A doença ocorre quando as células nervosas da retina desenvolvem mutações genéticas que fazem com que as células continuem crescendo e se multiplicando de maneira desordenada, formando o tumor.
Esse tipo de câncer, além de prejudicar toda a estrutura do olho, também pode pode invadir estruturas próximas, incluindo o cérebro e a coluna vertebral.
Como identificar o câncer pediátrico precocemente?
Um dos desafios dos tumores pediátricos é o diagnóstico precoce, já que os sintomas, além de variados e inespecíficos, são parecidos com os de doenças mais comuns. Muitas vezes, as crianças ficam doentes ou apresentam hematomas que passam despercebidos ou são confundidos com outras patologias.
Os doutores Romagnol e Marchini listaram os principais sinais a que pais e cuidadores devem ficar atentos:
- Manchas e hematomas espontâneos pelo corpo, não relacionados a machucados ou traumas;
- Febre recorrente e sem foco infeccioso;
- Dor de cabeça contínua e progressiva, associada a vômitos principalmente pela manhã, com despertar durante o sono;
- Aumento do volume, presença de massa ou dor progressiva em qualquer parte do corpo, como abdômen, pescoço, pernas e braços;
- Presença de pupilas esbranquiçadas assimétricas, desenvolvimento de estrabismo ou qualquer alteração repentina da visão;
- Perda de peso progressiva e inexplicável.
Nesses casos, a criança deve ser encaminhada a um médico para o diagnóstico correto.