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Pediatria

Quarentena muda rotina dos pais de crianças com autismo

pai e filho com autismo na quarentena brincam em casa
Publicado em 02/04/2020
Revisado em 11/08/2020

Em tempos de quarentena pelo novo coronavírus, pais de crianças com autismo estão tendo que se reestruturar a nova rotina.

 

Pais de crianças com o Transtorno do Espectro Autista (TEA) tiveram suas rotinas transformadas nas últimas semanas por conta da instauração da quarentena – devido ao novo coronavírus –  em grande parte do país. No momento, a grande dificuldade para as famílias é encontrar alternativas para complementar a rotina das crianças que tinham uma agenda cheia de terapias presenciais (muito importante para o desenvolvimento psicossocial), além da própria rotina escolar.

Veja também: Autismo na adolescência

Andréa Werner, jornalista, escritora, ativista e mãe do Théo, de 12 anos, relata que as primeiras semanas foram bastante difíceis, que ele teve muitas crises de choro e se sentia bastante angustiado com a situação. “Ele nunca gostou de fim de semana, porque ele não gosta de ficar em casa. O Théo também possui interesses bem restritos, não liga para jogos ou videogames. Então, qualquer coisa o entedia muito rapidamente. A única coisa que o distrai é ficar assistindo a vídeos no tablet, mas ele não pode ficar sozinho, não dá pra desgrudar um segundo. Quando ele fica muito ansioso, agitado, a gente coloca ele no carro só pra dar uma volta. Isso tem ajudado”, explica.

 

Recomendações

 

A terapeuta ocupacional Mariana Tonetto explica que manter uma rotina é de extrema importância para as crianças com autismo. Para tentar – pelo menos – facilitar esse período de adaptação dos pais e das crianças por conta da nova dinâmica, ela deu algumas dicas:

  • Tente explicar para as crianças o que está acontecendo e por que é necessário ficar em casa neste momento. Para que elas compreendam melhor é necessário, além da voz,  utilizar outros recursos, como desenhos, imagens e colagens. “Você vai falar e mostrar, contar uma historinha mesmo, de tudo que está acontecendo, do que pode e não pode neste momento, dentro do nível de entendimento de cada criança”.
  • Crie uma rotina, com horários pré-definidos de despertar, refeições, atividades motoras, atividades relaxantes, hora do banho. “Faça como se fosse um cronograma mesmo e tente seguir”.
  • Atividades motoras intensas e sensoriais são de extrema importância neste período, pois elas precisam se movimentar, gastar energia. Mariana recomenda atividades simples, como: pular, se jogar no colchão, fazer atividades com peso (pegue mantimentos e leve de um lado para o outro, colocando-0s numa bacia, por exemplo) e cambalhotas, engatinhar (coloque várias cadeiras e faça a criança passar por baixo).
  • Atividades táteis, com geleias, massinhas e espuma de barbear podem ser interessantes. Para algumas crianças, esse estímulo tátil aumenta a concentração, para outras pode haver muita afobação, animação, ou então, dependendo do caso, resistência, de forma que não entra na categoria de uma atividade calmante. Portanto, é importante perceber como a criança reage.
  • Nesse momento, em que muitos pais estão fazendo home office e que, possivelmente, há mais gente dentro de casa, algumas crianças podem se sentir incomodadas com o barulho e o fluxo de pessoas. Como dica, ela recomenda criar um espaço seguro, em um cantinho da casa, e fazer uma espécie de cabaninha, com cadeiras, lençóis e almofadas. “Sempre que ele se sentir muito ansioso, desconfortável, sugira levá-lo para lá”.

Outra sugestão que tem funcionado para a Andréa é trazer o filho, na medida do possível, para algumas atividades de rotina da própria casa. “Eu trago ele para lavar roupa junto comigo, peço para ele ir dando as roupas para colocar na máquina. Peço ajuda para dobrar uma coberta. Tem que ir insistindo, repetindo”, relata.

Um ponto importante levantado pela terapeuta ocupacional ao dar essas sugestões, é que na grande maioria das vezes as crianças não irão acatar as instruções das tarefas logo de início, pois muitas vezes elas não irão entender os comandos, mas é preciso insistir e realizá-las pelo menos em dois períodos do dia (cerca de 20 minutos), para que elas  assimilem devagar. “Sei que não deve estar sendo fácil para os pais esse período de confinamento, mas vai trabalhando com as crianças essas atividades aos poucos. Se a criança conseguir fazer um minuto de atividade, tudo bem. Mais tarde, você tenta de novo e vai sempre adaptando, conforme as necessidades dela.”

Lembre-se ainda que a rotina é estressante dentro de casa, ainda mais em tempos de pandemia. Na medida do possível, tente tirar algum tempo para você, para que seja possível manter seu bem-estar psicológico.

 

Vídeo: Assista ao vídeo do neuropediatra Nuno Lobo Antunes sobre formas de brincar

 

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