O contato pele a pele entre mãe e filho logo após o parto traz inúmeros benefícios para ambos. Saiba o que é a golden hour ou hora dourada.
O primeiro encontro entre mãe e bebê geralmente é um momento muito esperado, intenso e especial, mas esse encontro também pode trazer diversos benefícios para a saúde, especialmente do bebê. A primeira hora de vida é tão importante que é chamada de “golden hour” (ou hora dourada, em tradução livre).
Raquel Lotti, enfermeira obstetra e consultora internacional em lactação IBCLC (International Board Certified Lactation Consultant, em inglês), explica que a primeira hora de vida é considerada a hora dourada porque é o momento em que o bebê faz a transição da vida intrauterina para a vida extrauterina, ou seja, é uma adaptação do bebê fora do útero.
Nesse momento, logo após o parto, é muito importante que o contato pele a pele entre mãe e filho seja estimulado. “O contato pele a pele na primeira hora de vida possibilita que o bebê faça a regulação térmica fora do útero, diminui os hormônios de estresse, melhora os parâmetros vitais e favorece a microbiota do bebê. O contato pele a pele pode ser feito também com o pai ou com a mãe não gestante em sala de parto”, explica Raquel.
“O benefício do contato pele a pele não é só para o bebê, mas para a mãe também. Diminui os níveis de estresse da mãe, libera ocitocina e estimula o vínculo”, completa.
Amamentação na hora dourada (golden hour)
Além dos benefícios mencionados, também é muito benéfico o início da amamentação nesse primeiro momento. “[A amamentação durante a hora dourada] favorece a contração uterina, evitando a hemorragia pós-parto, [favorece] o início da fase de descida do leite, evita hipoglicemia neonatal, estimula o vínculo mãe/bebê e o aumento do tempo de aleitamento.”
Outras estratégias que podem beneficiar a amamentação no pós-parto, segundo a especialista, incluem: manter o bebê 24 horas junto da mãe em alojamento conjunto; realizar o banho do bebê após as primeiras 24 horas de vida; ter uma rede de apoio; manter o ambiente calmo e o contato pele a pele.
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Contato pele a pele pode ser feito em qualquer parto
A enfermeira obstetra destaca que, independentemente da via de parto – natural ou cesárea –, o contato pele a pele deve ser sempre realizado. “Não existe contraindicação para o contato pele a pele. Caso a mãe seja HIV positivo, apenas a amamentação é contraindicada, mas não o contato pele a pele”, explica.
Essa medida só não pode ser colocada em prática quando ocorre alguma intercorrência com a mãe ou com o bebê durante o parto que necessite de intervenção imediata. Ainda assim, sempre que possível, após estabilização do quadro, o ideal é fazer o contato pele a pele.
O papel dos hospitais
Para Raquel, nos últimos anos a assistência ao parto tem mudado bastante no cenário nacional, mas ainda há muito o que melhorar. “Hoje muitas maternidades estão dando mais importância à hora dourada e ao alojamento conjunto, independentemente da via de parto. Seguir os 10 passos para o sucesso do aleitamento materno, da Iniciativa do Hospital Amigo da Criança (IHAC), é fundamental para a promoção do aleitamento”, destaca.
A iniciativa citada pela enfermeira é um selo de qualidade fornecido pelo Ministério da Saúde aos hospitais que cumprem os 10 passos para o sucesso do aleitamento materno, instituídos pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e pela Organização Mundial de Saúde (OMS). São eles:
- Ter uma política de aleitamento materno escrita que seja rotineiramente transmitida a toda equipe de cuidados de saúde;
- Capacitar toda a equipe de cuidados de saúde nas práticas necessárias para implementar esta política;
- Informar todas as gestantes sobre os benefícios e o manejo do aleitamento materno;
- Ajudar as mães a iniciar o aleitamento na primeira meia hora após o nascimento, conforme nova interpretação, e colocar os bebês em contato pele a pele com suas mães, imediatamente após o parto, por pelo menos uma hora e orientar a mãe a identificar se o bebê mostra sinais que está querendo ser amamentado, oferecendo ajuda se necessário;
- Mostrar às mães como amamentar e como manter a lactação mesmo se vierem a ser separadas dos filhos;
- Não oferecer a recém-nascidos bebida ou alimento que não seja o leite materno, a não ser que haja indicação médica;
- Praticar o alojamento conjunto (permitir que mães e recém-nascidos permaneçam juntos por 24 horas por dia);
- Incentivar o aleitamento materno sob livre demanda;
- Não oferecer bicos artificiais ou chupetas a crianças amamentadas;
- Promover a formação de grupos de apoio à amamentação e encaminhar as mães a esses grupos após a alta da maternidade.
Para quem faz questão do contato pele a pele logo após o parto, uma dica é adicionar esse direcionamento no Plano de Parto, um documento que reúne os desejos da mulher para o parto, como escolha do acompanhante, medidas em situações de emergência e o desejo de ter o contato pele a pele com o bebê logo após o nascimento, por exemplo.