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Pediatria

Chega ao SUS novo medicamento para o câncer mais comum entre crianças

O blinatumomabe apresenta mais benefícios comparado à quimioterapia quando a leucemia linfoblástica aguda (LLA) reaparece. Conheça o medicamento.
Publicado em 04/03/2024
Revisado em 15/03/2024

O blinatumomabe apresenta mais benefícios comparado à quimioterapia quando a leucemia linfoblástica aguda (LLA) reaparece. Conheça o medicamento.

 

Das leucemias, a leucemia linfoblástica aguda (LLA) é o tipo mais comum entre as crianças. Para a maioria desses pacientes, o tratamento com quimioterapia costuma funcionar: a doença não volta por cerca de cinco anos após o diagnóstico. No entanto, se houver recidiva, os riscos de agravamento do quadro aumentam vertiginosamente. 

Até então, não havia muito o que fazer nesses casos, a não ser novas sessões de quimioterapia. No entanto, em dezembro de 2023, um novo medicamento foi incorporado ao SUS. É o blinatumomabe, uma droga capaz de melhorar as chances de recuperação na hipótese de reaparecimento da LLA.

 

O que é a LLA?

A leucemia linfoblástica aguda, também conhecida como LLA, é o subtipo mais prevalente em crianças com menos de 15 anos que tenham leucemia — atinge cerca de 75% desses pacientes. Devido a erros genéticos, formam-se células blásticas leucêmicas no organismo, também chamadas de linfoblastos ou blastos leucêmicos. Essas células são disfuncionais e se replicam continuamente, acumulando-se na medula óssea e impedindo o desenvolvimento de células sanguíneas normais.

 

O que é o blinatumomabe?

“O blinatumomabe é como se fosse um anticorpo que pega a célula de combate da nossa imunidade e liga ao blasto da leucemia, fazendo com que essa célula cancerígena morra”, explica o dr. Wellington Fernandes, médico do Grupo de Leucemias Agudas do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP).

Depois do primeiro tratamento com quimioterapia, a maioria das crianças consegue permanecer livre da doença sem apresentar recaídas. No entanto, de 15% a 20% dos pacientes podem se deparar com o reaparecimento da LLA, o que diminui muito as suas chances de recuperação e sobrevivência. O blinatumomabe, da biofarmacêutica Amgen, surge então como uma opção para “zerar” a doença novamente.

Veja também: Quimioterapia: Medos e dúvidas | Entrevista

 

Quem pode recorrer ao novo medicamento?

De acordo com o dr. Wellington, o medicamento tem indicação para todas as faixas etárias. No entanto, no Sistema Único de Saúde (SUS), ele só está disponível para crianças e adolescentes até 18 anos de idade.

“O prognóstico da leucemia na criança é melhor, porém, parte desses pacientes pode ser refratária ou ter recaídas durante o tratamento. Portanto, vão se beneficiar da autorização do blinatumomabe nesse contexto”, comemora o hematologista.

Em comparação com a quimioterapia, o novo medicamento diminui em 67% o risco de reaparecimento da LLA, falha no tratamento ou morte, aumentando a sobrevida da doença (isto é, período em que não há sintomas do câncer após o tratamento) em aproximadamente 18 meses. Além disso, os efeitos colaterais do blinatumomabe são mais leves e menos numerosos em relação aos da quimioterapia.

Já no caso dos adultos, em que, de acordo com dados da American Cancer Society, metade dos pacientes logo volta a ter o câncer detectável, ainda não há previsão para a disponibilização do medicamento. Porém, as expectativas são boas.

“Acredito que há o interesse de submeter a aprovação da droga para a população adulta também, já que se tem milhares de evidências de que há benefícios para esse grupo”, opina o dr. Wellington.

 

Importância da incorporação do blinatumomabe no SUS

Em junho de 2022, a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec) recomendou a incorporação do blinatumomabe pelo SUS. A mesma comissão aprovou, em dezembro de 2023, o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) incluindo o medicamento no tratamento da doença em pacientes de até 18 anos que sofreram recidiva da doença.

A demora tem a ver com uma questão de financiamento: além da aprovação da droga, é preciso criar uma reserva orçamentária para que os hospitais públicos consigam adquiri-la e oferecê-la a seus pacientes.

“Muitas vezes, no SUS, a gente tem um delay [atraso] muito grande para que essas drogas estejam disponíveis. Mas a gente tem que lembrar que a maioria dos pacientes com câncer no nosso país, especialmente cânceres hematológicos, são tratados no SUS. Se a gente quer ter um tratamento que vai contemplar de modo democrático a maior parte dos pacientes com aquela doença, a preocupação tem que ser integrar essas drogas ao SUS, e não só ao mercado privado”, destaca o especialista.

Veja também: Leucemia linfoide aguda: quais os desafios desse tipo de leucemia em adultos?

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