Cobertura vacinal no Brasil avança depois de anos de queda. Veja na coluna de Mariana Varella.
O Programa Nacional de Vacinação (PNI), institucionalizado em 1975, é considerado, nacional e internacionalmente, um dos maiores e mais eficientes programas de vacinação do mundo.
Antes do PNI, as campanhas de vacinação eram descentralizadas, definidas por estados e municípios. Assim, a cobertura vacinal refletia a desigualdade brasileira: havia estados com coberturas altas e outros, com taxas de vacinação baixíssimas.
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Hoje o PNI tem capacidade para distribuir, de forma gratuita, mais de 300 milhões de doses por ano em 38 mil salas espalhadas por todo o território nacional. O planejamento da compra de vacinas e insumos, o armazenamento e a distribuição de doses, a escolha dos imunizantes incorporados ao calendário, a definição do público-alvo e o lançamento das campanhas são organizados pelo Ministério da Saúde de forma centralizada, considerando as necessidades de cada região.
Os profissionais do programa, altamente qualificados, foram responsáveis por manter a qualidade da vacinação no país, independentemente das mudanças de governo dos últimos quase 50 anos. O resultado foi a erradicação de doenças como sarampo e poliomielite e o controle de várias doenças infectocontagiosas que antes atingiam, muitas vezes de forma fatal, milhões de crianças anualmente.
Isso mudou a partir de 2016, quando a cobertura vacinal de todas as vacinas oferecidas pelo PNI começou a cair, e piorou significativamente no governo anterior, que instaurou a disseminação de desinformação acerca dos imunizantes contra a covid-19 e incentivou a hesitação vacinal, agravada por outros problemas de acesso às vacinas e pela pandemia.
Como resultado, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) lançou, em abril de 2022, um relatório em que afirmava que o Brasil tinha a segunda pior taxa de vacinação em bebês da América Latina, ficando atrás apenas da Venezuela.
A Organização Mundial da Saúde (OMS), por sua vez, divulgou em julho do ano passado que o Brasil estava entre os dez países com maior quantidade de crianças com a vacinação atrasada. Um índice vergonhoso para um país que já ostentou as maiores coberturas vacinais do mundo.
Baixa cobertura vacinal
De acordo com o Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (Ipes), a cobertura vacinal da BCG chegou a 100% em 2015; 86,7% em 2019; e 73,3% em 2020. A vacina da pólio, por sua vez, alcançou uma cobertura de 88,3% em 2015; caiu para 84,2% em 2019 e para 75,9% em 2020.
Segundo o Observatório da Atenção Primária à Saúde da associação Umane, o país atingiu a menor cobertura em 20 anos em 2021, quando a média nacional ficou em 52,1%.
A tendência de queda, no entanto, foi revertida no ano passado. Dados preliminares do Ministério da Saúde revelam que, entre janeiro e outubro de 2023, oito vacinas recomendadas pelo calendário de vacinação infantil apresentaram aumento nas coberturas vacinais, quando comparado com todo o ano de 2022.
Os imunizantes contra a hepatite A, poliomielite, DTP (difteria, tétano e coqueluche), pneumocócica, meningocócica e tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola), todos indicados para crianças de 1 ano de idade, apresentaram crescimento na cobertura. A vacina contra a febre amarela, que deve ser aplicada aos nove meses de idade, também registrou aumento.
Além disso, o governo começou a oferecer a vacina contra a covid no Calendário Nacional de Vacinação, para crianças de seis meses a 5 anos. O esquema vacinal será de três doses, a serem aplicadas com intervalos definidos.
O Ministério da Saúde também prometeu ofertar a vacina contra a dengue a partir de fevereiro, para público-alvo ainda não definido.
Os resultados revelam que os esforços do atual governo para aumentar a cobertura vacinal têm sido bem sucedidos. Mais: mostram que campanhas planejadas, organizadas e comunicadas com empenho surtem efeito e atraem a população.
Felizmente, o movimento antivacinista, que ganhou força durante a pandemia de covid, não encontra tantos adeptos no Brasil quanto em países da Europa e nos Estados Unidos, exatamente pelo sucesso do PNI.
A estratégia de regionalização, a ampliação do horário de funcionamento das salas de imunização e a busca ativa de não vacinados, entre outras medidas implementadas pelo atual governo, ajudaram a mudar o cenário de queda da cobertura vacinal.
Os resultados são ainda mais louváveis se considerarmos que o atual Ministério da Saúde sequer recebeu dados acerca das vacinas que haviam sido distribuídas em território nacional pelo governo anterior, como informações sobre lotes a vencerem, quantidades de imunizantes disponíveis, entre outros.
Apesar de animadores, os números ainda precisam melhorar. A OMS recomenda que a cobertura vacinal para as vacinas infantis seja de 90% a 95% do público-alvo definido nas campanhas.
Esperamos que o Ministério da Saúde siga com os esforços para melhorar o acesso da população aos imunizantes, como a organização de ações de vacinação nas escolas e a divulgação de campanhas.
Os brasileiros sempre aderiram às campanhas de vacinação. É só ninguém jogar contra e os governos fazerem as vacinas chegarem aos braços da população.