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Joelho com barulho significa desgaste na cartilagem?

Publicado em 22/11/2024
Revisado em 22/11/2024

Saiba quando os barulhos do joelho podem indicar problemas na cartilagem da maior articulação do corpo.

 

Durante a prática de alguma atividade física, você já ouviu estalos, rangidos ou cliques nos joelhos? Na maioria dos casos, segundo especialistas, esses barulhos são ruídos normais das articulações, causados pelo movimento do líquido e de pequenas bolhas de ar presentes nessas estruturas do corpo. No entanto, se esses sons vierem acompanhados de dor, inchaço ou travamento, eles podem ser sinais de desgaste na cartilagem do joelho.

As cartilagens são tecidos que revestem as extremidades dos ossos nas articulações, tendo como uma de suas principais funções suavizar o contato entre eles e atuar como amortecedores. No joelho, a maior articulação do corpo, três ossos principais compõem sua estrutura: fêmur, tíbia e patela. As cartilagens que revestem essas superfícies facilitam o deslizamento entre os ossos, proporcionando movimentos mais suaves.

 

Quais são as causas dos barulhos no joelho?

Segundo médicos consultados pela reportagem, o envelhecimento é a principal causa do desgaste da cartilagem. O dr. Lúcio Ernlund, ortopedista especializado em cirurgia de joelho e ombro, explica que essas estruturas – tanto as do joelho quanto as de outras regiões do corpo – passam por processos naturais de envelhecimento, assim como o cabelo que embranquece e a pele que se enruga. Com o tempo, sua composição vai se modificando.

“As cartilagens são extremamente lisas – tão lisas quanto gelo deslizando sobre gelo. Com o envelhecimento, no entanto, elas passam por processos naturais de desgaste, deixando de ser superfícies lisas e se tornando mais rugosas, o que gera atrito. Esse atrito entre as partes da articulação pode causar estalos e, em alguns casos, levar a inflamação, inchaço e dor.”

O fator genético também tem influência no desgaste da estrutura, segundo o dr. Ernlund, que também é diretor médico do Instituto de Joelho e Ombro (IJO), em Curitiba (PR). “Nós, seres humanos, temos uma genética semelhante, mas não idêntica. Algumas pessoas herdam dos pais uma predisposição ao desgaste precoce, o que as tornam mais propensas a seguir o mesmo padrão genético.”

O excesso de peso, segundo o dr. Frederico Scherner, ortopedista especialista em joelho, é outro vilão das cartilagens, pois aumenta a carga suportada pela articulação, acelerando o processo de desgaste e intensificando o risco de lesões. “Quando o joelho carrega mais peso do que deveria, isso contribui para a degeneração não só da articulação como um todo, mas também da cartilagem, que passa a se desgastar mais rapidamente”, explica.

        Veja também: O que pode causar a dor no joelho?

 

A prática do esporte pode causar desgaste da cartilagem do joelho? 

Vários estudos mostram que a atividade física, por si só, não causa desgaste nas articulações do joelho, desde que a pessoa não apresente lesões prévias. No entanto, quando o corpo já está em processo de envelhecimento, é fundamental ajustar o tipo de exercício praticado, diz o dr. Ernlund. “Uma pessoa de 60 anos, por exemplo, não deve realizar os mesmos exercícios de um jovem de 15 ou 20 anos.”

Em jovens saudáveis e sem histórico de lesões, a prática de atividade física é, em geral, segura, segundo o especialista. No entanto, lesões como torções, traumas ou quedas, podem antecipar o envelhecimento das articulações, alerta o médico. “Essas lesões, especialmente em esportes de impacto, aceleram o desgaste, e continuar praticando atividades intensas pode intensificar ainda mais esse processo.”

O dr. Scherner relata que um desses esportes de impacto é o futebol, que submete as articulações a uma sobrecarga maior. “O futebol, por exemplo, impõe bastante pressão nos joelhos, o que leva a lesões frequentes nessa região e, por consequência, acelera o processo de desgaste.” Contudo, o especialista ressalta a importância de ponderar a questão do desgaste com os inúmeros benefícios da atividade física para a saúde e a qualidade de vida. 

“Se colocarmos na balança os efeitos da atividade física e o desgaste no joelho, o benefício do exercício físico prevalece, principalmente porque há muitos estudos que mostram que uma musculatura bem fortalecida contribui para a saúde dos joelhos”, explica o médico. Para aqueles que sentem dores ou desconforto, segundo o especialista, é essencial buscar orientação médica antes de iniciar uma rotina de exercícios. “Existem dores que exigem modificações na atividade física, enquanto outras necessitam de tratamento antes de a pessoa retomar os exercícios.”

 

Doenças associadas ao desgaste da cartilagem do joelho

Uma das doenças mais comuns associadas ao desgaste da cartilagem é a osteoartrite, chamada também de artrose. De acordo com estudo do Instituto de Métricas e Avaliação em Saúde (IIHME, na sigla em inglês), publicado na revista científica “The Lancet” em agosto de 2023, cerca de 595 milhões de pessoas tinham a condição em 2020, o que equivale a 7,6% da população global. O número é 132,2% superior ao total registrado em 1990. Envelhecimento, crescimento populacional e obesidade, segundo a pesquisa, são os principais fatores por trás da alta. 

Ainda de acordo com o material, as mulheres tendem a sofrer mais com a condição do que os homens. Em 2020, 61% dos casos de osteoartrite ocorreram em pessoas do sexo feminino, em comparação com 39% de individuos do sexo masculuno. Fatores hormonais, genéticos e diferenças anatômicas podem ser os motivos dessa diferença, aponta o levantamento. Até 2050, ainda segundo a pesquisa, cerca de 1 bilhão de pessoas vão desenvolver osteoartrite. 

        Veja também: Como prevenir problemas nos joelhos no dia a dia e durante as atividades físicas?

 

Linhas de tratamento

O tratamento para artrose no joelho e outras doenças associadas aos desgaste da cartilagem é dividido em dois: o clínico e o cirúrgico. “O objetivo do tratamento clínico não é curar a artrose ou outra condição, mas amenizar os sintomas, mantendo a pessoa sem dor por longos períodos, que podem durar meses ou até anos”, explica o dr. Ernlund. As alternativas incluem fisioterapia, fortalecimento muscular, exercícios para o condicionamento físico e o uso de medicações, como ácido hialurônico e colágeno, que ajudam a controlar os sintomas.

O ácido hialurônico é um dos tratamentos mais utilizados. Essa substância, que tem ação semelhante a um lubrificante natural nas articulações, é naturalmente produzida pelo corpo. No entanto, conforme a pessoa vai envelhecendo, há diminuição na produção e na sua ação. “A aplicação injetável dessa substância age como uma reposição natural, aliviando o desgaste nas articulações”, diz o dr. Ernlund. Produzido em laboratório por meio de engenharia genética, o ácido hialurônico injetável é aplicado diretamente no joelho, em média a cada dez meses. 

O dr. Scherner mencionou também a aplicação de plasma rico em plaquetas (PRP). Essa técnica consiste na utilização de células retiradas do próprio paciente (do sangue,  da gordura abdominal ou da medula óssea) para estimular a regeneração e reduzir a inflamação das articulações. “O PRP requer um preparo mais elaborado, mas oferece bons resultados para reduzir a inflamação e melhorar a saúde da articulação.” O tratamento é realizado por meio de injeções aplicadas diretamente na articulação afetada, e o intervalo entre as aplicações varia de acordo com a resposta de cada paciente e a gravidade da lesão.

Quando o tratamento clínico não é mais eficaz e os sintomas se agravam, a opção passa a ser o tratamento cirúrgico, que deve ser cuidadosamente analisado. “O tratamento cirúrgico é discutido apenas quando o clínico não traz mais resultados satisfatórios. Antes de indicar a cirurgia, é essencial avaliar o paciente com exames de imagem, consultas e um diagnóstico detalhado para entender por que o tratamento anterior não surtiu efeito”, conta o dr. Ernlund. Entre as cirurgias disponíveis estão implantes de próteses e cirurgias corretivas para realinhamento do eixo da perna, ambas indicadas conforme o perfil de cada paciente.

 

Tem tratamento no SUS?

O SUS oferece tratamento para doenças na cartilagem do joelho, como a osteoartrite. De acordo com a Diretriz Brasileira Para o Tratamento Não Cirúrgico da Osteoartrite de Joelho, de setembro de 2017, é recomendado aos profissionais de saúde que façam o diagnóstico clínico da doença por meio de anamnese (entrevista clínica) e exame físico, além de exames de imagem para confirmar o quadro. O sistema único de saúde, no entanto, não oferece os procedimentos de infiltração de ácido hialurônico e o PRP mencionados pelos especialistas consultados.

Um consenso brasileiro formado por médicos especialistas em medicina esportiva, ortopedistas, fisiatras e reumatologistas, aponta que a literatura sobre viscossuplementação (nome da infiltração por ácido hialurônico) é heterogênea e conflitante. No entanto, segundo o estudo, realizado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), “um exame cuidadoso dos artigos publicados mais recentemente indica que a viscossuplementação é uma opção segura com redução clinicamente importante da dor em pacientes com osteoartrite do joelho (especialmente pacientes mais jovens e aqueles com doença menos grave)”. O material foi publicado em 2019. Existe consenso sobre o tema também na Europa, de 2020. 

        Ouça: Por Que Dói? #17 | Dor no joelho

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