Quando não tratado adequadamente, o refluxo pode evoluir para uma forma mais grave, que altera as células do esôfago, tornando-se um fator de risco importante para câncer de esôfago.
O refluxo é uma doença bastante frequente na população brasileira, atingindo cerca de 5 milhões de pessoas, segundo informações do Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva (CBCD). A princípio, ele é caracterizado por aquela famosa sensação de queimação gástrica, mesmo que você tenha comido pouco ou algo leve.
O gastrocirurgião Rodrigo Barbosa explica que o refluxo é uma condição em que o ácido do estômago retorna para o esôfago, causando, assim, sintomas como azia, regurgitação ácida e dor no peito. “A grande questão é que, quando o refluxo ocorre com frequência e de forma crônica, pode levar a complicações, como desenvolvimento de esofagite, úlceras no estômago e até câncer.”
Esôfago de Barrett
Para entender a relação entre refluxo e câncer de esôfago, é preciso, antes de tudo, compreender como o sistema digestivo funciona.
Primeiramente, a digestão começa no momento em que o alimento é colocado na boca. Depois, passa pela faringe, esôfago e estômago até, enfim, chegar aos intestinos. Em seguida, na parte inferior do esôfago, há uma válvula que se abre para dar passagem aos alimentos e se fecha imediatamente depois, para impedir que o suco gástrico penetre no esôfago, pois a mucosa que o reveste não está preparada para receber uma substância tão irritante.
O refluxo acontece quando há um problema com essa válvula, e o ácido viaja de volta para o esôfago, causando, desse modo, enorme desconforto gástrico.
“Imagine que esse dano constante, que pode levar anos para aparecer, possa levar à inflamação crônica e à formação de tecido anormal no esôfago, conhecido como esôfago de Barrett”, explica Alexandre Jacome, oncologista clínico e membro do Comitê de Tumores Gastrointestinais Baixos da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC).
Ainda segundo o oncologista, o esôfago de Barrett pode causar uma lesão pré-maligna (displasia) que muda a composição das células que revestem o estômago, que ficam muito lisas, semelhantes ao revestimento do intestino delgado ou da palma da mão. Isso aumenta o risco de desenvolver câncer de esôfago (adenocarcinoma de esôfago), principalmente se não houver tratamento adequado.
Veja também: Doença do refluxo – O que significa?
Como reduzir o risco do câncer de esôfago?
O tratamento para o esôfago de Barrett depende de vários fatores, que incluem o grau da doença e a saúde geral do paciente. Além de medicamentos usados para controlar o refluxo ácido, em alguns casos, a cirurgia ou procedimentos endoscópicos podem ser recomendados.
O tratamento também vai depender dos estágios da doença, que variam de metaplasia (alteração reversível em que uma célula adulta é substituída por outra de outro tipo celular) intestinal sem displasia a displasia de alto grau. Vale lembrar, também, que a presença de displasia não é considerada câncer, porém é um fator de risco importante.
- Metaplasia intestinal sem displasia: presença de esôfago de Barrett, porém sem nenhuma alteração cancerosa visível nas células do revestimento do esôfago;
- Displasia de baixo grau: as células mostram sinais precoces de alterações pré-cancerosas que podem levar ao câncer de esôfago;
- Displasia de alto grau: As células do esôfago apresentam um alto grau de alterações pré-cancerosas, que se acredita ser o último passo antes do câncer de esôfago.
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Prevenção do refluxo
Por fim, para prevenir que o refluxo se torne uma doença crônica e até evolua para um câncer é necessário uma mudança de hábitos. O dr. Barbosa lista algumas recomendações importantes:
- Diminua o consumo de alimentos e bebidas que desencadeiam o refluxo, como alimentos gordurosos, condimentados e cítricos e café, álcool e refrigerantes;
- Mantenha um peso adequado, pois o excesso de peso pode aumentar a pressão no estômago e favorecer o refluxo;
- Não faça refeições muito tarde, próximo à hora de dormir, pois isso favorece o surgimento do refluxo;
Além disso, siga as orientações médicas quanto ao uso de medicamentos para controlar o refluxo, como antiácidos, inibidores de bomba de prótons e medicamentos para fortalecer o esfíncter esofágico.