Os efeitos tardios do tratamento de câncer podem surgir meses ou anos após o término do tratamento e vão depender do tipo de droga ou da combinação de medicamentos utilizada.
Quando falamos dos efeitos colaterais do tratamento oncológico, automaticamente pensamos nos efeitos imediatos, como: queda de cabelo, perda de libido, fadiga, infertilidade, etc. Um tratamento intensivo como esse gera uma sobrecarga no sistema imunológico, portanto é provável que o paciente tenha uma resistência menor às infecções no período inicial; no entanto, aos poucos o sistema imunológico vai se recuperando.
Contudo, é preciso levar em consideração os efeitos colaterais de longo prazo, que ocorrem meses ou anos após o término do tratamento.
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Por que os efeitos tardios ocorrem?
Os efeitos tardios do tratamento do câncer podem advir de qualquer um dos principais tipos de tratamento, como quimioterapia, terapia hormonal, radiação, cirurgia, terapia-alvo e imunoterapia. Tudo vai depender de qual medicamento ou combinação de medicamentos utilizados, bem como da dose prescrita. Em geral, a quimioterapia em altas doses têm maior risco de causar efeitos tardios do que o tratamento com doses mais baixas (mas isso também varia para cada paciente).
O dr. Thiago Assunção, oncologista do Instituto Paulista de Cancerologia (IPC), explica que a maioria absoluta dos efeitos colaterais do tratamento de câncer é aguda e ocorre por danos a células de tecidos (efeito citotóxico) que se regeneram rapidamente.
“Quando as células mais nobres (neurais ou cardíacas) são lesadas, sua recuperação pode ser mais lenta ou mesmo não ocorrer. Dessa forma, a depender da gravidade da lesão celular e do volume de tecido danificado, os danos podem aparecer mais tardiamente, em virtude também da perda natural desses tecidos pelo envelhecimento. Por isso sempre acompanhamos de perto esses pacientes.”
Quais efeitos adversos esperar?
Dentre os principais efeitos que podem ter consequência a longo prazo, é preciso ter especial atenção para algumas enfermidades como a neuropatia periférica, que se apresenta como dormência ou sensação de queimação, sobretudo nos dedos.
Segundo o dr. Thiago, os nervos periféricos transportam sinais do cérebro para diferentes partes do corpo. Esses sinais podem ter diferentes funções, incluindo motora (movimento), sensorial (dor, toque) ou autonômico (pressão arterial, temperatura). O problema é que medicamentos quimioterápicos podem prejudicar esses nervos.
“Também pode ocorrer uma condição denominada toxicidade cardíaca, em que há uma redução da função do coração, levando a uma insuficiência cardíaca. Os rins também podem reduzir sua capacidade de filtrar sangue e a medula óssea, de produzir células de sangue”, complementa o oncologista.
Os efeitos tardios da radiação e da cirurgia afetam apenas a área do corpo exposta aos tratamentos. Se a radiação for usada em outra parte do corpo que não seja a cabeça ou o pescoço, não haverá risco de cáries ou outros problemas, por exemplo.
Por isso a importância de o paciente relatar, durante as consultas de acompanhamento, qualquer sintoma que julgue diferente, para que o médico especialista consiga manejar ou encaminhar o paciente, se preciso, para um especialista.
Cérebro de quimioterapia
Segundo o especialista, o chemobrain, ou cérebro de quimioterapia, pode acometer até 75% de todos os pacientes oncológicos que realizam quimioterapia, devido ao efeito toxicológico dos fármacos nos neurônios. Isso gera um ambiente inflamatório com estresse oxidativo, precipitando a morte celular.
“Ele pode se apresentar como alterações de memória, humor ou dificuldade de concentração. A incidência desse efeito colateral é variável e, como citado acima, depende de diversos fatores, como idade, por exemplo. Alguns pacientes podem ter efeitos perenes e que podem sumir depois de meses”, diz o dr. Assunção.
É possível evitar os efeitos tardios do tratamento de câncer?
Não está claro se os efeitos tardios podem ser evitados ou por que algumas pessoas podem sentir esses efeitos e outras não.
Embora essa situação possa ser extremamente frustrante, é possível tomar algumas medidas para ajudar o corpo a lidar com a situação, como por exemplo: fazer exercícios físicos diários, principalmente de força (musculação), seguir uma dieta saudável com muitas frutas e vegetais e trabalhar questões psicológicas para lidar com ansiedade. Evitar o uso de álcool e cigarro também é crucial.
Além dessas sugestões, é essencial manter as consultas regulares ao médico oncologista, para monitorar os possíveis efeitos tardios e intervir quando necessário.