Técnica utilizada há mais de 30 anos serve para dar mais segurança aos profissionais, principalmente se a área de remoção do câncer de cérebro for bastante sensível. Saiba mais sobre cirurgias no cérebro.
Os tumores no sistema nervoso central (SNC) estão entre os 11 tipos de câncer mais comuns no Brasil, sem contar o câncer de pele não melanoma. Os tumores que surgem nessa região são causados pelo crescimento de células anormais nos tecidos, e quase 90% dos tumores do SNC ocorrem no cérebro.
O tratamento de um tumor cerebral depende de sua localização, tipo e até mesmo de seu grau de avanço e comprometimento do cérebro, mas na maioria dos casos, o tratamento inicial costuma ser cirúrgico e pode ser complementado com doses de quimioterapia ou radioterapia.
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Agora, imagine que em alguns casos, essa cirurgia, denominada craniotomia, pode ocorrer com o paciente acordado e consciente de tudo que está acontecendo no centro cirúrgico. Circulam pela internet vídeos de pacientes que, enquanto os médicos realizam a cirurgia, estão tocando violão, pintando ou até cantando Taylor Swift. Mas, afinal, como isso é possível?
Denominada “awake surgery” (cirurgia em paciente acordado, em tradução livre), essa técnica cirúrgica é utilizada na medicina há mais de 30 anos e serve para dar mais segurança aos profissionais, principalmente se a área de remoção do tumor for bastante sensível.
“A cirurgia para a retirada de tumores cerebrais com o paciente acordado é imprescindível nos casos em que as lesões se localizam próximo ou dentro de áreas consideradas vitais, como a área que controla os movimentos do corpo ou a que controla a fala. O ponto positivo é que esse método previne ou minimiza os danos às funções cerebrais, já que monitoramos o paciente em tempo real”, explica o neurocirurgião Pedro Deja, presidente do Instituto Paulistano de Neurocirurgia.
Para garantir que a fala não esteja sendo afetada, o paciente conversa, lê alguns textos e realiza contagens de números durante o procedimento. Tudo isso com a cabeça presa na mesa cirúrgica e sem se mexer. Se, de repente, o paciente não conseguir nomear um objeto ou não conseguir pronunciar nenhuma palavra, o neurocirurgião saberá que a área que estimulou está conectada a uma área crítica da fala.
No Brasil, essa técnica já é utilizada há anos por alguns hospitais públicos e privados de referência.
Indicações das cirurgias de cérebro
As craniotomias em paciente acordado podem ser indicadas, embora nem sempre, para tratamento de gliomas (incluindo glioblastoma, astrocitomas e oligodendrogliomas), já que esses tumores tendem a ocorrer nos lobos frontal e temporal, que controlam a fala e a função motora.
É importante destacar que o paciente também deve se sentir confortável com a ideia de permanecer acordado durante a cirurgia e ciente de tudo que pode ocorrer durante uma operação desse porte, a fim de minimizar a ansiedade.
Além disso, cabe uma avaliação neuropsicológica para avaliar se o paciente seria um bom candidato ao procedimento.
“Isso é importante para garantir uma cirurgia mais segura e com os melhores resultados possíveis”, complementa o dr. Deja.
O paciente sente dor?
O tecido cerebral não possui receptores de dor, portanto, embora o paciente possa sentir uma leve pressão ou vibração durante a cirurgia, ele não deverá sentir dor.
Segundo informações do MD Cancer Center, nos Estados Unidos, é utilizado um anestésico local (semelhante aos usados no consultório do dentista) para anestesiar os músculos, a pele e os ossos que o cirurgião precisará cortar para chegar ao cérebro.