Cirurgias no cérebro podem ser feitas com o paciente acordado?

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Publicado em: 27/06/2024

Revisado em: 27/06/2024

Técnica utilizada há mais de 30 anos serve para dar mais segurança aos profissionais, principalmente se a área de remoção do tumor for bastante sensível.

 

Os tumores no sistema nervoso central (SNC) estão entre os 11 tipos de câncer mais comuns no Brasil, sem contar o câncer de pele não melanoma. Os tumores que ocorrem nessa região são causados pelo crescimento de células anormais nos tecidos, e quase 90% dos tumores do SNC ocorrem no cérebro.

O tratamento de um tumor cerebral depende de sua localização, tipo e até mesmo de seu grau de avanço e comprometimento do cérebro, mas na maioria dos casos, o tratamento inicial costuma ser cirúrgico e pode ser complementado com doses de quimioterapia ou radioterapia.

 

Veja também: Por que os tumores cerebrais podem ser tão agressivos?

 

Agora, imagine que em alguns casos, essa cirurgia, denominada craniotomia, pode ocorrer com o paciente acordado e consciente de tudo que está acontecendo no centro cirúrgico. Circulam pela internet vídeos de pacientes que, enquanto os médicos realizam a cirurgia, estão tocando violão, pintando ou até cantando Taylor Swift. Mas, afinal, como isso é possível? 

Denominada “awake surgery” (cirurgia em paciente acordado, em tradução livre), essa técnica cirúrgica é utilizada na medicina há mais de 30 anos e serve para dar mais segurança aos profissionais, principalmente se a área de remoção do tumor for bastante sensível. 

“A cirurgia para retirada de tumores cerebrais com o paciente acordado é imprescindível nos casos em que as lesões se localizam próximo ou dentro de áreas consideradas vitais, como a área que controla os movimentos do corpo ou a que controla a fala. O ponto positivo é que esse método previne ou minimiza os danos às funções cerebrais, já que monitoramos o paciente em tempo real”, explica o neurocirurgião Pedro Deja, presidente do Instituto Paulistano de Neurocirurgia.

Para garantir que a fala não esteja sendo afetada, o paciente conversa, lê alguns textos e realiza contagens de números durante o procedimento. Tudo isso com a cabeça presa na mesa cirúrgica e sem se mexer. Se, de repente, o paciente não conseguir nomear um objeto ou não conseguir pronunciar nenhuma palavra, o neurocirurgião saberá que a área que estimulou está conectada a uma área crítica da fala.

No Brasil, essa técnica já é utilizada há anos por alguns hospitais públicos e privados de referência. 

 

Indicações

 

As craniotomias em paciente acordado podem ser indicadas, embora nem sempre, para tratamento de gliomas (incluindo glioblastoma, astrocitomas e oligodendrogliomas), já que esses tumores tendem a ocorrer nos lobos frontal e temporal, que controlam a fala e a função motora. 

É importante destacar que o paciente também deve se sentir confortável com a ideia de permanecer acordado durante a cirurgia e ciente de tudo que pode ocorrer durante uma operação desse porte, a fim de minimizar a ansiedade. 

Além disso, cabe uma avaliação neuropsicológica para avaliar se o paciente seria um bom candidato a esse procedimento.

“Isso é importante para garantir uma cirurgia mais segura e com os melhores resultados possíveis”, complementa o dr. Deja. 

 

O paciente sente dor?

 

O tecido cerebral não possui receptores de dor, portanto, embora o paciente possa sentir uma leve pressão ou vibração durante a cirurgia, ele não deverá sentir dor. 

Segundo informações do MD Cancer Center, nos Estados Unidos, é utilizado um anestésico local (semelhante aos usados ​​no consultório do dentista) para anestesiar os músculos, a pele e os ossos que o cirurgião precisará cortar para chegar ao cérebro.



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