Notou que uma pupila está maior que a outra de repente? Nem sempre é sinal de problema — mas em alguns casos, merece atenção. Saiba quando se preocupar e o que fazer.
Se na poesia os olhos são a janela da alma, na ciência, esse título pertence às pupilas — responsáveis por regular a entrada de luz no olho. A “bolinha preta” no centro do globo ocular não é um simples detalhe, mas uma peça-chave do nosso sistema visual.
Os músculos da íris, a parte colorida do olho, controlam o tamanho da pupila. Quando há muita luz, ela se contrai; no escuro, se dilata. Esse mecanismo protege e ajusta a visão de acordo com o ambiente.
Depois que a luz atravessa a pupila, passa pelo cristalino, que a focaliza e a direciona até a retina. Lá, é transformada em sinais elétricos que seguem para o cérebro — e assim conseguimos enxergar. Por estar diretamente ligada ao sistema nervoso, alterações na pupila podem indicar problemas neurológicos, além de outras condições oculares.
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Anisocoria: pupilas em tamanhos diferentes
A anisocoria é o nome dado à diferença de tamanho entre as pupilas — uma fica mais dilatada que a outra. As causas podem ser diversas.
“Muitas vezes, trata-se de uma variação fisiológica, que é completamente benigna e ocorre em até 20% da população saudável. Outras vezes, pode ser causada por uso de colírios ou substâncias que afetam os músculos da íris. Mas também pode estar relacionada a doenças oculares, como uveítes, glaucoma ou traumas, e até a alterações neurológicas, como paralisia do terceiro nervo craniano ou síndrome de Horner. Ou seja, pode ser algo absolutamente inofensivo — ou um sinal de algo mais sério”, explica Flávio Mac Cord, diretor da Sociedade Brasileira de Oftalmologia (SBO).
Quando a diferença entre as pupilas é pequena (até 1 milímetro), está presente há muito tempo, não muda com a luz e não vem acompanhada de outros sintomas, provavelmente se trata de uma anisocoria fisiológica. Nesses casos, não há risco para a saúde ocular ou neurológica.
Mas quando surge de forma súbita e vem acompanhada de outros sintomas, o sinal de alerta se acende. “Se ela vier junto com dor ocular ou dor de cabeça intensa, queda da pálpebra, visão dupla, confusão mental ou fraqueza muscular, pode estar relacionada a um aneurisma, AVC, traumatismo ou até infecções como meningite. Nesses casos, é fundamental procurar atendimento médico com urgência”, reforça o especialista.
Outros sintomas que exigem atenção: fotofobia, visão turva ou dupla, tontura, fraqueza em um dos lados do corpo, dificuldade para falar ou alterações no estado de consciência. Pessoas com olhos escuros podem não perceber logo a diferença no tamanho das pupilas — por isso, a observação cuidadosa é importante.
Diagnóstico e tratamento
Ao perceber alterações nas pupilas, o ideal é consultar um oftalmologista. Ele fará uma avaliação completa, observando o comportamento pupilar em ambientes iluminados e escuros, entre outros sinais clínicos. “Se houver suspeita de causa neurológica, solicitamos exames de imagem, como tomografia ou ressonância magnética. Em alguns casos, usamos colírios específicos que ajudam a identificar a origem da anisocoria”, explica o dr. Flávio.
O tratamento depende da causa. Em casos fisiológicos, não é necessário intervir. Já quando há uma causa patológica — como inflamações, traumas ou distúrbios neurológicos — o foco será tratar a condição de base. A anisocoria fisiológica, por ser apenas uma característica individual, tende a ser estável ao longo da vida e não requer tratamento.
Nos casos patológicos, porém, pode haver reversão. Inflamações, efeitos de medicamentos ou traumas tratados rapidamente podem permitir que as pupilas voltem ao tamanho normal, total ou parcialmente.
“O uso de substâncias psicoativas como o LSD também pode provocar anisocoria, pois essas drogas estimulam a dilatação pupilar (midríase). Outras substâncias como cocaína, anfetaminas e medicamentos anticolinérgicos podem causar esse tipo de alteração, geralmente de forma transitória”, completa o médico.
E conclui: “A pupila é uma janela para o sistema nervoso central. Pequenas alterações em seu tamanho ou comportamento podem ser o primeiro sinal de uma doença séria, mas também podem ser variações normais do organismo”.
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