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Obesidade

Quanto mais velho, menor é o impacto da obesidade para a saúde

Você não leu errado. Quanto mais idoso você se torna, menos indicado é perder peso. Conheça o paradoxo da obesidade.
Publicado em 20/05/2025
Revisado em 20/05/2025

Você não leu errado. Quanto mais idoso você se torna, menos indicado é perder peso. Conheça o paradoxo da obesidade.

A obesidade é um fator de risco conhecido para a longevidade. Isso faz com que as pessoas pensem que ela deve ser tratada da mesma forma em qualquer faixa etária. Mas, conforme envelhecemos, perder peso pode se tornar até uma contraindicação – é o que a ciência chama de “paradoxo da obesidade”.

Quantos mais jovem perder peso, melhor

“Para uma vida longa e saudável, com qualidade, precisamos evitar a obesidade desde o nascimento. E, na fase adulta jovem, se houver obesidade entre 20 e 29 anos, esse é o ponto crítico para atuar — com orientação de dieta, atividade física, medicamentos (se necessário) e, em casos extremos, cirurgia”, explicou o dr. Emilio Moriguchi, geriatra e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em entrevista ao Portal Drauzio durante o XXIV Congresso Brasileiro de Geriatria e Gerontologia, em Minas Gerais.

Em um estudo realizado com mais de 9 milhões de adultos sul-coreanos ao longo de oito anos, publicado na revista Frontiers in Cardiovascular Medicine, cientistas investigaram a relação entre a obesidade e o risco de problemas cardiovasculares, como fibrilação atrial (FA) e acidente vascular cerebral isquêmico (AVCI), em diferentes faixas etárias.

O artigo mostrou que a obesidade está fortemente associada ao risco cardiovascular em jovens adultos, dos 20 aos 39 anos. Segundo o especialista, se a pessoa é obesa nessa idade, isso pode determinar as condições de saúde dela para o futuro – especialmente ao considerarmos que a população está vivendo cada vez mais. Por isso, é fundamental prevenir a obesidade antes: na infância e adolescência.

No entanto, é a partir dessa idade que começa o paradoxo. A cada década vivida, o impacto da obesidade vai diminuindo. Até que a pessoa chega aos 60 anos, quando o risco de doenças cardíacas causadas por essa doença desaparece.

Quando mais velho, mantenha o peso

“Parece contraditório, né? O senso comum nos leva a pensar que a obesidade seria ainda mais prejudicial na velhice. Mas os estudos mostram o contrário”, afirmou o dr. Emílio Moriguchi durante a entrevista.

Ainda segundo o estudo sul-coreano, o risco de fibrilação atrial e AVC associados à obesidade se torna inexistente após os 60 anos, o que confirma a ideia de que a obesidade tem maior impacto no risco cardiovascular em adultos jovens. Em pessoas mais velhas, é possível que exista uma influência predominante de outros fatores.

Mas não para por aí: depois dos 60 anos, o cenário chega a inverter. Os dados mostram que ter sobrepeso ou obesidade leve (IMC entre 25 e 30, ou acima de 30) pode ser até mais benéfico para a saúde do que ser muito magro (IMC abaixo de 23).

Isso provavelmente acontece porque o baixo peso está associado à fragilidade ou desnutrição, o que também aumenta o risco de eventos cardiovasculares. Outra descoberta importante é que perder peso após os 60 anos é um forte preditor de piora na saúde, pois a perda de peso involuntária está associada a doenças e prognóstico ruim. 

“Não sabemos se a perda de peso ocorre porque a pessoa está ficando doente, ou se ela adoece por perder peso. Mas tudo indica que manter o peso está relacionado a um envelhecimento mais saudável. É claro que, se um idoso obeso desenvolve problemas como artrose, precisando operar um joelho, por exemplo, ele vai precisar perder peso para melhorar a qualidade de vida. Mas, em termos de prognóstico, a perda de peso pode não trazer benefícios e, em alguns casos, ser prejudicial”, destacou o dr. Emilio.

O geriatra salientou ainda que tais descobertas, aparentemente contrastantes com o que se imaginava sobre a obesidade, são corroboradas por outros estudos internacionais e também nacionais, como o Projeto Veranópolis. A iniciativa foi conduzida pelo dr. Emílio na cidade de mesmo nome, no Rio Grande do Sul, investiga há mais de três décadas a população acima de 80 anos no município, conhecido popularmente como “a terra da longevidade”.

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