Câncer de pulmão em não fumantes pode estar associado a fatores como exposição à radiação, ao gás radônio, fumo passivo e poluição ambiental.
Um fato vem chamando a atenção dos especialistas acerca do câncer de pulmão: o aumento do número de casos da doença entre pessoas que nunca colocaram um cigarro na boca. Os fatores que estão por trás dessa incidência foram pauta do II Workshop de Câncer de Pulmão, promovido pelo Instituto Lado a Lado pela Vida, no último dia 11/05/2017, em São Paulo.
Para se ter uma ideia desse aumento, na década de 1990, nos Estados Unidos, cerca de 5% a 8% dos casos de câncer de pulmão ocorriam em não tabagistas. Dados atuais mostram que hoje essa taxa chega a 20%. Exposição à radiação, ao gás radônio e fumo passivo são fatores importantes relacionados à enfermidade.
Veja também: Inca lista cânceres que podem estar relacionados ao trabalho
A poluição ambiental, em especial nas grandes cidades como São Paulo, a quarta mais motorizada do país, foi incluída entre as principais causas do câncer de pulmão, segundo a Agência Internacional de Pesquisas sobre o Câncer (Iarc), vinculada à Organização Mundial de Saúde (OMS).
“Fizemos uma pesquisa recente que media o acúmulo de fuligem de carbono no pulmão de uma pessoa exposta ao trânsito diário de São Paulo. Só para ressaltar, essa fuligem possui componentes cancerígenos semelhantes aos do cigarro. Por meio de alguns cálculos conseguimos chegar à conclusão de que duas horas de trânsito equivalem a fumar dois cigarros por dia. Infelizmente, cada hora que passamos presos no trânsito corresponde a inalar um composto cancerígeno sem que isso tenha sido uma escolha. Portanto, um motorista preso no engarrafamento está mais exposto a poluentes do que um pedestre ou um ciclista”, alerta o prof. dr. Paulo Hilário Nascimento Saldiva, patologista da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).
Saldiva completa dizendo que a poluição causa a morte precoce de mais de 3,5 milhões de pessoas ao ano em escala global, devido a doenças respiratórias, cardiovasculares e câncer de pulmão. “Como está cada vez mais difícil morar na região central da capital, as pessoas moram mais distantes e nesse meio tempo no trânsito inalam poluição. Por isso seria necessário pensar em políticas públicas o quanto antes, porque o Brasil ainda está numa posição intermediária [em relação aos níveis de poluentes no ar] comparado ao resto do mundo.”
Algumas dicas podem amenizar a exposição, mas, infelizmente, para quem vive nas grandes cidades ela se torna inevitável. De qualquer maneira, quem utilizada automóvel deve evitar passar por vias de tráfego intenso, buscar rotas alternativas, manter o filtro do ar-condicionado em boas condições e optar pelo transporte público sempre que possível.
Tabaco
É importante destacar que o tabaco ainda é o principal fator de risco para o câncer de pulmão. São consideradas de alto risco fumantes e ex-fumantes que tenham deixado de fumar em um intervalo de até 15 anos.
A maioria dos cânceres de pulmão não provoca sintomas até que esteja disseminado. Fique atento, entretanto, a sinais como: tosse frequente, dor no peito, perda de apetite, tosse com sangue, entre outros. Lembre-se: a chance de cura é maior quando o câncer é diagnosticado em estadio inicial; apesar disso, a taxa de identificação precoce desse tipo de tumor no país é em torno de 16%.
Na opinião do dr. Marcelo Cruz, oncologista clínico da Universidade Northwestern, em Chicago, EUA, o grande problema no Brasil ainda está nas diferenças de tratamento entre o usuário do plano de saúde e o do SUS. “Enquanto, normalmente, um paciente com suspeita de câncer de pulmão da rede particular leva em média três meses para ter um diagnóstico fechado, no SUS esse período sobe para 12 meses, por conta da demora para marcar exames. E isso é muito grave, porque o tumor de pulmão é agressivo e espalha-se rapidamente, portanto quanto mais tempo o indivíduo ficar sem tratamento, pior o prognóstico.”