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Neurologia

Variantes genéticas podem influenciar diretamente no risco de demência, demonstra novo estudo

Publicado em 15/10/2024
Revisado em 15/10/2024

Publicado recentemente, o estudo mostrou que nas famílias em que há casos de demência, o risco de um membro ter demência ao longo da vida é de cerca de 20%.

 

A demência, em suas várias formas, afeta cerca de 55 milhões de pessoas em todo o mundo. A doença de Alzheimer é a mais prevalente. Embora diversos fatores ambientais e comportamentais contribuam para o risco de desenvolver demências, o componente genético também desempenha um papel significativo. 

Um estudo publicado recentemente na revista Nature Genetics¹ reforça a ligação entre certas variantes genéticas e o risco de desenvolver doenças neurodegenerativas, particularmente quando associadas a fatores ambientais e à associação de fatores genéticos combinados entre si. 

Apresentado pela dra. Natividad Olivar e pelo dr. Roberto Giugliani, Coordenador da Vertical de Doenças Raras na Dasa Genômica, o estudo destaca como variantes genéticas podem influenciar diretamente no risco de demências em uma parte significativa da população. 

Segundo o dr. Giugliani, “levantamentos² realizados indicam que uma em cada quatro pessoas com mais de 55 anos tem um familiar próximo com demência. Nessas famílias em que há casos de demência, o risco de um membro ter demência ao longo da vida é de cerca de 20%, enquanto para um indivíduo da população em geral é de cerca de 10%”. 

“Em apenas cerca de 5% dos casos², a demência tem causa claramente genética, com transmissão de geração em geração. Esses casos geralmente se manifestam cedo, antes dos 60 e 65 anos de idade, e estão associados a genes relacionados com um composto proteico chamado beta-amiloide, que se deposita nos neurônios e desencadeia processos que resultam na doença de Alzheimer”, continua o doutor. 

Isso aponta para uma relação direta entre a genética e a doença, especialmente em casos mais raros e precoces. No entanto, para a grande maioria dos casos de demência (95%)², o fator genético não é tão claro.

 

Novas descobertas 

Além disso, o estudo traz avanços significativos para a compreensão das causas das demências. O dr. Giugliani explica que nele foram analisados² os genomas de mais de 100 mil pacientes com Alzheimer, comparando-os com genomas de mais de 600 mil controles. “Foram identificados 75 genes potencialmente relacionados com a condição”, explica. 

Embora o efeito de cada gene seja pequeno, a combinação de alterações em dois ou mais genes, somada a fatores ambientais desfavoráveis, pode aumentar significativamente o risco de desenvolver Alzheimer ou outra forma de demência.

        Veja também: Dormir mal pode aumentar o risco de demência

 

Genética e fatores ambientais

“O principal vilão para originar as demências parece ser o depósito anormal de um peptídeo em células nervosas, chamado de beta-amiloide², levando à formação de placas que são características na maioria dos casos de demência”, explicou o Dr. Giugliani. Esse peptídeo é produzido continuamente em nosso corpo, mas normalmente não se acumula. Quando há mutações genéticas ou fatores ambientais que interferem no seu metabolismo, ele pode se acumular de forma anormal, resultando em demências.

Além da beta-amilóide, outra proteína chamada Tau² também pode ter seu metabolismo alterado e contribuir para alterações celulares que levam à demência. “A deposição anormal de beta-amilóide e/ou as alterações na proteína Tau podem desencadear uma cascata de eventos que envolvem a morte neuronal, inflamação e, eventualmente, demência”, acrescenta.

 

Perspectivas

A pesquisa sobre demências e variantes genéticas não se limita à compreensão de causas, mas também visa encontrar formas de prevenir e tratar essas condições. Dr. Giugliani destacou que “a idade é o maior fator de risco para o Alzheimer”. A prevalência da doença aos 65 anos é de 5%, mas chega a 40% aos 80 anos². Com o envelhecimento da população global, isso se torna uma preocupação crescente.

A associação de fatores genéticos e ambientais abre portas para novos tratamentos e intervenções preventivas. “A combinação de fatores de risco ambientais, como hipertensão, diabetes, colesterol elevado, traumatismo craniano, perda auditiva, sedentarismo, isolamento social, e estilo de vida, pode ser alvo de intervenções para diminuir o risco de desenvolver demências”, explica.

No futuro, o melhor entendimento das funções dos genes associados à demência pode levar a intervenções mais personalizadas, especialmente para indivíduos com perfis genéticos desfavoráveis. Embora ainda não haja uma cura definitiva, a esperança é que o conhecimento crescente sobre a genética e as demências contribua para avanços significativos na medicina preventiva e nos tratamentos disponíveis.

        Veja também: Como cuidar de uma pessoa com demência?

 

FONTES:

1 Bellenguez, C., Charbonnier, C., Gabel, S., & outros. (2024). New insights into the genetic etiology of Alzheimer’s disease and related dementias. Nature Genetics, 56(4), 412-436. Recuperado em 9 de outubro de 2024, de https://www.nature.com/articles/s41588-024-01234-5.

2 Loy, C. T., Schofield, P. R., Turner, A. M., & Kwok, J. B. J. (2024). Genetics of dementia. The Lancet, 392(10141), 579-595. Recuperado em 9 de outubro de 2024, de http://dx.doi.org/10.1016/S0140-6736(13)60630-3.

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