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Neurologia

Uso do Botox vai além da estética: conheça outras aplicações da toxina

A toxina botulínica pode ser usada no tratamento do bruxismo, paralisia facial e enxaqueca
Publicado em 22/09/2022
Revisado em 01/11/2024

A toxina botulínica pode ser usada no tratamento de bruxismo, paralisia facial e enxaqueca.

 

Quando você ouve falar em botox, do que você lembra? Em geral, pensamos em procedimentos estéticos para diminuir rugas e aliviar marcas de expressão. Mas o uso da toxina botulínica não se resume a isso, e essa substância tem sido utilizada no tratamento de diversas doenças, transtornos e distúrbios.

Na verdade, os primeiros usos da toxina botulínica, que é produzida pela bactéria Clostridium botulinum, foram terapêuticos. 

Na década de 1970, o oftalmologista norte-americano Alan Scott, considerado o “pai do botox”, transformou a toxina em um medicamento quando começou a fazer pesquisas e testes com a substância para o tratamento de deficiências oculares graves. 

Na época, ele observou um “efeito colateral” curioso: a paralisia temporária de músculos faciais específicos, suavizando linhas de expressão ao redor deles. Isso despertou cada vez mais a atenção das pessoas nas décadas seguintes, e o uso cosmético do botox se popularizou em todo o mundo.

Mas o botox continuou e continua até hoje sendo utilizado para outros fins. Conheça alguns deles:

 

Enxaqueca

A enxaqueca é uma doença que se caracteriza por dor de cabeça latejante, em um ou nos dois lados da cabeça. Outros sintomas comuns são sensibilidade à luz, a cheiros e a barulho; náuseas; vômitos; sintomas visuais, como pontos luminosos; formigamento e dormência no corpo; e tontura.

O tratamento com toxina botulínica é indicado em casos de enxaqueca crônica, segundo Pablo Lorenzon, neurologista do Ambulatório de Cefaleia do Hospital Universitário Lauro Wanderley da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). “É quando a pessoa apresenta 15 dias ou mais de dores de cabeça por mês, sendo ao menos oito crises de enxaqueca típica, por pelo menos três meses”, afirma.  

Ele explica que o botox é aplicado em 31 a 39 pontos ao redor da cabeça; as sessões duram em média entre 15 e 20 minutos e são realizadas a cada três meses. “De acordo com a melhora da frequência e intensidade das crises, é possível espaçar as aplicações ou até suspender o uso, mantendo ou não algum medicamento preventivo por via oral.”

Pablo Lorenzon fala ainda que a toxina interfere na comunicação entre o nervo e o músculo, inibindo a liberação local de neurotrans­missores relacionados à dor. “Por esse mecanismo, ela [a toxina] bloqueia parte da transmissão de dor realizada pelos nervos, particularmente do nervo trigêmeo, que é quem recolhe a sensibilidade da maior parte da cabeça.”

O neurologista afirma que a aplicação de botox para o tratamento de enxaqueca é um procedimento seguro, embora efeitos colaterais sejam registrados em cerca de 10% dos pacientes. Esses efeitos podem durar alguns dias e tendem a ser locais, como dor e hematoma no local da aplicação da injeção e dor cervical.

Ainda de acordo com o especialista, o botox não funciona como tratamento preventivo da enxaqueca episódica, que ocorre com frequência menor que 15 dias por mês.

Veja também: Tratar enxaqueca é difícil? – Por Que Dói? | Especial #03

 

Hiperidrose

A hiperidrose ocorre quando as glândulas sudoríparas produzem mais suor do que o normal. Essa condição pode afetar qualquer parte do corpo, embora seja mais comum na região das axilas, mãos e pés.

“Quando a pessoa tem excesso de suor na axila, já tentou fazer tratamento clínico com desodorante e mesmo assim não melhorou, uma opção é aplicar a toxina botulínica na região da axila, para bloquear a glândula sudorípara”, afirma Rita de Cássia Rosa, dermatologista em Pernambuco e membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD).

Ela acrescenta que esse bloqueio dura entre seis e oito meses, podendo chegar, em alguns casos, a até 12 meses.

A dermatologista conta que o tratamento com botox é simples, sendo realizado no consultório, com a aplicação da toxina botulínica nas duas axilas. 

“[A toxina] começa a fazer efeito depois de mais ou menos uns três dias, e o efeito máximo é visto em 15 dias. Diminui bastante a sudorese e dá um conforto muito bom para o paciente”, relata.  

Sobre a ocorrência de efeitos colaterais, Rita de Cássia Rosa diz que eles são raros nesse tipo de tratamento. “Pode acontecer um excesso de suor compensatório em outra região do corpo, mas isso é muito raro de acontecer.”

 

Bruxismo

Bruxismo é um transtorno em que a pessoa aperta, desliza ou bate os dentes, principalmente enquanto dorme. É algo involuntário e causa dores de cabeça e nos músculos do rosto, além de desgaste dos dentes e doenças nas gengivas.

O uso do botox pode ser uma opção de tratamento do bruxismo. “[Nesse caso,] nós aplicamos a toxina botulínica no masseter, que é o músculo da mastigação, justamente para bloquear a força desse músculo”, detalha Rita de Cássia Rosa. 

Segundo ela, a aplicação do botox, que também é feita em consultório, pode ser no masseter ou no músculo temporal, que fica localizado na lateral da cabeça.

“O que o botox faz é um relaxamento da musculatura. Faz com que o músculo não contraia mais. O efeito dura em torno de quatro a seis meses.”, afirma. 

Veja também: Bruxismo: por que você precisa aprender a desencostar os dentes?

 

Paralisia facial

Paralisia facial é o enfraquecimento ou paralisia dos músculos de um dos lados do rosto. Um dos sintomas mais comuns é a dificuldade para realizar movimentos simples, como franzir a testa, levantar a sobrancelha, piscar ou fechar os olhos, sorrir e mostrar os dentes.

Nesses casos, como um lado do rosto fica diferente do outro, o tratamento com o botox pode ser indicado para suavizar essa assimetria. 

“Como a pessoa com paralisia facial fica sem conseguir movimentar nada ou pouco um lado e fica muito diferente do outro, que está normal, o que fazemos é bloquear os músculos que estão normais para não ficar com aquela face muito diferente”, explica Rita de Cássia Rosa.

Tanto no tratamento da paralisia facial quanto do bruxismo, é preciso haver muito cuidado para que a aplicação da toxina botulínica seja feita nos músculos certos.

“O que pode acontecer é a toxina bloquear um músculo que não era planejado para tratamento, e aí vai haver alterações causadas por esse bloqueio da musculatura da face. Então, o que pode acontecer é alterar o sorriso ou uma baixa do lábio, por exemplo”, alerta.  

 

Não é um tratamento definitivo

Em todos esses casos citados, a aplicação do botox não pode ser considerada um tratamento definitivo. É preciso que esse tratamento seja refeito de tempos em tempos, dependendo do tipo de doença, transtorno ou distúrbio. 

“O nosso organismo vai fazendo novas terminações [nervosas]. Então, não é um tratamento definitivo. Sempre quando envolve a toxina botulínica, é preciso pensar em um retratamento; tem que fazer tratamento de manutenção porque ele [o botox] não bloqueia para sempre [a ligação entre os músculos e o cérebro]”, explica Rita de Cássia Rosa.

Veja também: Toxina botulínica | Entrevista

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