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Neurologia

Reação extrapiramidal: o que é, diagnóstico e tratamento

mulher com reação extrapiramidal cobre o rosto com gola da malha
Publicado em 23/02/2024
Revisado em 20/09/2024

A reação extrapiramidal é conhecida por afetar o controle dos movimentos e pode impactar significativamente a qualidade de vida.

 

Em janeiro de 2023, a jornalista Carla Bigatto relatou em uma rede social os momentos de agonia após receber uma medicação, destacando os sintomas preocupantes que a afligiram por oito horas. Sensação de inquietude extrema, incapacidade de encontrar conforto em qualquer posição e aversão física à própria roupa são apenas alguns dos aspectos perturbadores da reação extrapiramidal. 

O relato de Carla levanta questões importantes sobre a prevalência e o impacto dessa condição, bem como a necessidade de maior conscientização e precaução no uso de medicamentos que podem desencadear tais reações. 

 

Como acontece a reação extrapiramidal?

O sistema extrapiramidal atua no cérebro fazendo a regulagem fina dos movimentos, tornando-os harmoniosos, leves e precisos. Quando há uma disfunção do sistema extrapiramidal, perde-se o controle fino dos movimentos, surgindo tremores, rigidez muscular, movimentos involuntários (como tiques ou contorção), lentidão e desequilíbrio. Segundo o dr. Mauricio Hoshino, neurologista pela Universidade de São Paulo (USP) e membro do Colégio Médico Brasileiro de Acupuntura (CMBA), o sistema extrapiramidal funciona através da interação de vários neurotransmissores, sendo a dopamina um dos principais. 

“Disfunção extrapiramidal acontece quando há perda da função de neurônios dopaminérgicos (conjuntos de neurônios que sintetizam o neurotransmissor dopamina), seja por degeneração pela idade, trauma craniano, intoxicação por metais pesados e uso crônico de medicações antidopaminérgicas (classe de fármacos que bloqueiam os receptores de dopamina pelo antagonismo dos receptores), como antipsicóticos, antivertiginosos, antieméticos e alguns medicamentos para distúrbios gastrointestinais”, explica.

 

Diagnóstico e formas de tratamento

O diagnóstico das reações extrapiramidais é baseado exclusivamente na avaliação clínica dos sintomas pelo médico, juntamente com a história médica do paciente e a exclusão de outras condições que possam causar sintomas semelhantes. “Não há testes sanguíneos, exames de imagem ou marcadores biológicos para definição diagnóstica”, ilustra o neurologista.

Já o tratamento constitui-se na interrupção da etiologia (causa), se possível, prescrição de medicamentos que facilitam a ação da dopamina (finalidade de melhora motora e cognitiva, bem como de neuroproteção) e reabilitação multiprofissional visando treino motor, reforço muscular, alongamento de cadeias musculares, fonoterapia, estimulação cognitiva e adaptação das necessidades.

Se não forem tratadas adequadamente, as reações extrapiramidais podem causar sequelas, interferir na qualidade de vida, aumentar o risco de quedas e lesões e provocar, consequentemente, incapacidade funcional e dependência. 

Segundo o dr. Mauricio, a predisposição para desenvolver reações extrapiramidais está associada à predisposição genética, idade (os idosos são mais suscetíveis), histórico prévio de reações, além da dose e duração do uso do medicamento envolvido. Ademais, algumas condições neurológicas podem elevar o risco. “Não é possível saber de antemão quem vai apresentar reação ou não. Por ter manifestação motora típica, a melhor forma de documentar é gravar em vídeo os movimentos anormais e mostrá-los ao médico especialista”, completa.

“Triste saber só agora, aos 41 anos, que em pelo menos duas ocasiões da minha infância (e em outras tantas na vida adulta) aquela vontade de morrer ao estar internada nada mais era que uma reação cerebral evitável. Triste saber que sofri à toa (e tanta gente sofre todo dia)”, relatou a jornalista Carla Bigatto em janeiro de 2023.

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