A polirradiculoneurite aguda, também conhecida como síndrome de Guillain-Barré, é uma doença neurológica que afeta os nervos e causa perda de sensibilidade.
A polirradiculoneurite aguda, ou síndrome de Guillain Barré, é uma doença neurológica, autoimune e de ínício agudo, que causa a inflamação das raízes e nervos periféricos do corpo humano.
O dr. Edson Issamu, neurologista do Hospital São Camilo, em São Paulo, elucida: “Funciona assim: o cérebro possui um prolongamento, como se fossem fios, que levam o estímulo cerebral ao restante do corpo. Eles vão descendo por um canal atrás da coluna vertebral, que é uma formação chamada medula. É dela que vêm os nervos, que vão para os braços e pernas, por exemplo. E esses nervos se formam por pequenos filetes laterais, que chamamos de raízes. A polirradiculoneurite é a inflamação dessas raízes”.
Quais são as causas possíveis?
A dra. Cristina Massant, neurologista do Hospital Einstein, em São Paulo, conta que “a polirradiculoneurite é um quadro raro, mediado pelo sistema imunológico e pode acontecer poucas semanas após uma infecção (2/3 dos pacientes apresentam infecção prévia de vias aéreas ou gastrointestinal) ou após uma vacina, embora em uma parte dos casos não seja possível identificar um evento [infecção ou vacina] antecedendo os sintomas”.
Sendo assim, uma gripe ou diarreia, por exemplo, que são infecções corriqueiras, são capazes de levar a esse quadro. “Tudo que causa a formação de anticorpos pode desencadear uma polirradiculoneurite. Considerando que se trata de uma manifestação autoimune, o funcionamento é o mesmo, o corpo fabrica anticorpos que, por motivos desconhecidos, atacam as raízes dos nervos”, complementa o dr. Edson.
Já sobre a relação entre a doença e a vacinação, o dr. Edson destaca que o risco de desenvolver a doença é sempre muito menor do que a proteção que a vacina oferece: “Muito importante afirmar que quando a gente fala isso [relação entre vacina e a polirradiculoneurite aguda] pode-se ficar com a impressão de que a vacina é proibitiva porque causaria a doença. Estatisticamente, isso não é verdade. O benefício que se tem com a vacinação é infinitamente superior ao risco de se desencadear uma polirradiculoneurite”.
Quais são os sintomas da polirradiculoneurite?
A descrição dos sintomas é fundamental para compreender a gravidade da condição. A dra. Cristina detalha: “O principal sintoma da polirradiculoneurite é formigamento com fraqueza muscular que classicamente se inicia nos pés e pernas, e que piora de forma ascendente em horas ou dias, passando a comprometer os braços e, nas formas mais graves, os músculos da respiração. Pode haver dor associada, alteração da pressão arterial e frequência cardíaca, bem como paralisia facial”. O dr. Edson complementa: “A perda de sensibilidade é característica da polirradiculoneurite, uma vez que os nervos ficam com a atividade diminuída”.
Outro aspecto importante é a faixa etária que a doença autoimune costuma a afetar: “A ocorrência maior acontece na fase adulta, em que a pessoa está mais saudável, ou seja, com uma uma grande resposta imunológica, e maior produção de anticorpos”, diz o dr. Edson. Entretanto, crianças e idosos não estão isentos de desenvolver a síndrome.
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Quais são os diferentes tipos da polirradiculonerite?
A polirradiculoneurite pode se manifestar de duas maneiras distintas, como explica a dra. Cristina: “A polirradiculoneurite tem duas formas de manifestação: a forma aguda (ou síndrome de Guillain-Barré), em que os sintomas progridem em horas ou dias. Há algumas variantes clínicas – nem sempre os sintomas se iniciam nos membros inferiores, mas o mais comum é que se apresente como uma fraqueza ascendente; e a forma crônica, em que os sintomas progridem mais lentamente, em mais de quatro semanas ou meses”. Sendo assim, de maneira simplificada, pode-se afirmar que a polirradiculoneurite crônica é a sua forma aguda que não se resolveu.
Quais são e como funcionam os exames médicos utilizados para diagnosticar a condição?
O diagnóstico preciso é essencial para o tratamento adequado. “É muito importante ressaltar que o diagnóstico clínico é fundamental. Na forma aguda, inclusive, o diagnóstico pode inicialmente ser exclusivamente clínico”, esclarece a dra. Cristina, que continua: “Os exames complementares que apoiam o diagnóstico são o liquor e a eletroneuromiografia. No entanto, ambos podem ainda não evidenciar nenhuma alteração no início dos sintomas da polirradiculoneurite aguda (a eletroneuromiografia, em geral, se altera após 2 a 3 semanas de início dos sintomas)”.
O liquor é um exame em que se retira um líquido da região lombar, com a finalidade de examinar e verificar se há um padrão inflamatório. Já a eletroneuromiografia é um exame que usa eletricidade para medir a saúde dos nervos, músculos e junções neuromusculares e é utilizado principalmente em casos de polirradiculoneurite crônica. O exame de ressonância magnética também é capaz de identificar, em alguns casos, as áreas em que as raízes estão inflamadas.
Qual é o tratamento da polirradiculoneurite?
O tratamento é baseado na inibição de anticorpos e do efeito inflamatório das raízes. “Nós temos como opção a utilização da imunoglobulina humana endovenosa, que auxilia na regulação de anticorpos. Também pode-se administrar corticoides em altas doses”, diz o dr. Edson. “Outra opção, em alguns casos, é a plasmaférese, ou seja, a ultrafiltração do sangue, que pode ‘retirar’ os anticorpos que estariam causando a inflamação.”
O tratamento rápido e eficaz depende da agilidade com que o diagnóstico é feito. É por isso que o dr. Edson alerta para que não se demore em procurar um médico logo após o aparecimento dos sintomas. “O tempo de diagnóstico e o início do tratamento são muito importantes para evitar lesões na raiz e nos nervos de maneira definitiva. Quanto mais rápido se iniciar os procedimentos para retirada dos anticorpos e a desinflamação das raízes, maior a garantia de chance de recuperação motora da sensibilidade.”
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