Síndrome de Ramsay Hunt: como reconhecer?

Causada pelo vírus da catapora, a síndrome de Ramsay Hunt afeta os nervos facial e auditivo e pode provocar paralisia no rosto. Conheça.

A síndrome de Ramsay Hunt é causada pelo mesmo vírus da catapora e pode provocar complicações graves, como a paralisia facial.

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Publicado em: 24 de junho de 2022

Revisado em: 17 de agosto de 2022

A síndrome de Ramsay Hunt é causada pelo mesmo vírus da catapora e pode provocar complicações graves, como a paralisia facial.

 

Recentemente, o cantor Justin Bieber cancelou shows por ter sido diagnosticado com a síndrome de Ramsay Hunt. A condição, apesar de não ser tão frequente, é causada por um vírus muito conhecido entre os brasileiros: o varicela-zóster.

O varicela-zóster é o agente responsável pela catapora (varicela), doença que tende a aparecer pelo menos uma vez na vida, em especial durante a infância. Uma vez no organismo, o vírus fica adormecido em um gânglio do nervo facial, podendo ressurgir em situações de baixa imunidade ou estresse.

A síndrome de Ramsay Hunt, portanto, acontece quando o varicela-zóster afeta o nervo facial e auditivo. Em alguns casos, como o do artista, a infecção nessa região provoca paralisia facial.

 

Quais são os sintomas?

Entre os principais sinais da síndrome, estão dificuldade para ouvir, acompanhada de dor, zumbido no ouvido e sensação de tontura. É comum também que surjam lesões próximas a orelha, canal auditivo, língua ou céu da boca. 

Já a paralisia tem a ver com a estrutura do nervo facial. Ele é comprido e fica dentro do osso do crânio, como se estivesse passando por um túnel. Por isso, quando inflama, não tem espaço para expandir.

“O papel do nervo, de levar informações do sistema nervoso central para os músculos da face, fica comprometido, limitando a mímica facial. Daí a paralisia”, explica o dr. Fernando Gomes, neurocirurgião e neurocientista do Hospital das Clínicas de São Paulo.

Outras consequências relacionadas ao comprometimento do nervo facial são a alteração no lacrimejamento e no paladar.

 

Como diferenciar a síndrome de Ramsay Hunt de um AVC?

Um dos principais sinais de um acidente vascular cerebral (AVC) é também a fraqueza no rosto, deixando-o assimétrico, com a boca torta e a sobrancelha caída. 

A diferença para a síndrome de Ramsay Hunt é que esta atinge a face inteira: desde a testa até o maxilar, influenciando na movimentação dos olhos, dos lábios e do queixo. O AVC, por sua vez, não compromete o funcionamento normal da parte superior do rosto.

Por outro lado, existem várias outras causas da paralisia facial, como a paralisia de Bell, a sífilis ou a doença de Lyme. Por isso, o dr. Fernando Gomes destaca a importância de prestar atenção nos outros sintomas e buscar ajuda especializada.

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Como acontece a transmissão?

A síndrome de Ramsay Hunt não é contagiosa, mas a transmissão do varicela-zóster pode ocorrer pelo contato direto com as lesões causadas pelo vírus. Se a pessoa nunca teve catapora ou nunca tomou a vacina contra varicela, a probabilidade de ser contaminada é maior.

Além do risco existente nas bolhas da pele, o contágio também é possível ao utilizar roupas ou compartilhar toalhas de banho e objetos que tenham estado em contato com a pele de alguém infectado.

Por outro lado, isso não significa, necessariamente, que haverá o desenvolvimento da síndrome de Ramsay Hunt. Como a catapora, ela pode ou não se manifestar a partir do contato com o vírus.

“Por que algumas pessoas acabam manifestando e outras não? É difícil explicar. Mas, a partir do momento em que a pessoa tem o vírus incubado e uma predisposição a apresentar o sistema imunológico mais fragilizado, ela pode aparecer”, explica o neurologista.

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Como fazer o diagnóstico?

Ao perceber um dos sinais citados, o paciente deve buscar um otorrinolaringologista ou um neurologista. O diagnóstico acontece observando os sintomas apresentados, bem como realizando um exame no ouvido.

O teste de Schirmer, que avalia o lacrimejamento; o teste de gustometria, que avalia o paladar; e o PCR ajudam na detecção da síndrome.

 

Importância do tratamento

“Um dos tratamentos é feito com medicamento antiviral, o qual possui eficiência comprovada. Anti-inflamatórios, como os corticoides, também auxiliam a diminuir o inchaço do nervo”, elenca o dr. Fernando Gomes. A recuperação pode levar de semanas a meses, dependendo do grau de comprometimento do nervo.

Analgésicos, anti-histamínicos e colírios entram no método terapêutico a fim de, respectivamente, aliviar as dores, diminuir a vertigem e evitar que o olho fique seco.

Para casos mais graves, especialmente aqueles que envolvem a paralisia facial, a intervenção cirúrgica pode ser necessária. Existem técnicas que visam descomprimir o nervo ou fazer a interposição, inervando os músculos da face com outros nervos que estejam viáveis, como o da língua. Frequentemente, as cirurgias vêm acompanhadas de fonoaudiologia para reaprender a movimentar o rosto.

“São situações mais dramáticas. Por isso, o tratamento clínico precisa ser feito o quanto antes”, alerta o neurocirurgião.

Se não tratada corretamente, a compressão do nervo inchado dentro do osso pode levar a lesões isquêmicas que alteram a capacidade de recuperação após a inflamação, deixando sequelas. A pessoa pode se recuperar, mas ficam algumas complicações, como sorriso um pouco torto, dificuldade para abrir e fechar os olhos, entre outras.

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Formas de prevenção

As principais formas de prevenção, especialmente para quem nunca teve contato com o varicela-zóster, é lavar as mãos regularmente e nunca compartilhar objetos pessoais. O Programa Nacional de Imunizações (PNI) disponibiliza ainda a vacina contra a catapora para crianças a partir de 12 meses e também adolescentes e adultos suscetíveis que não tiveram a doença previamente.

Para quem estiver contaminado, o recomendado é evitar coçar as lesões na pele e cobri-las, diminuindo o risco de transmissão para outras pessoas. 

Já para aqueles que tiveram contato com o vírus, o qual costuma aparecer em situações de baixa imunidade, a dica é manter um estilo de vida regrado e tranquilo. “Dormir bem, evitar excessos, se alimentar de forma balanceada e cuidar do equilíbrio emocional são alguns dos caminhos”, recomenda o dr. Fernando.

Existe ainda a opção da vacina contra o herpes-zóster, manifestação tardia de quem teve catapora, a qual é encontrada na rede particular e indicada para quem tem mais de 50 anos e já teve a varicela alguma vez na vida. Recentemente, foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) um novo imunizante que se estende a pacientes imunocomprometidos com mais de 18 anos – também disponível apenas nas clínicas particulares do país.

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