Dispraxia: um distúrbio infantil que pode passar despercebido

Dificuldade para andar, comer ou se vestir pode ser dispraxia. Mas esse déficit neurológico, muitas vezes, passa despercebido. Conheça.


Equipe do Portal Drauzio Varella postou em Neurologia

Doença é definida como um déficit neurológico que atua na execução de movimentos motores. Confira possíveis causas, além dos sintomas e formas de tratamento.

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Publicado em: 21 de setembro de 2022

Revisado em: 18 de dezembro de 2022

Doença é definida como um déficit neurológico que atua na execução de movimentos. Confira possíveis causas, além dos sintomas e formas de tratamento.

 

Quando uma criança tem dificuldade para realizar movimentos como andar, comer ou se vestir, em geral os pais e médicos não relacionam o problema à dispraxia. O distúrbio, caracterizado como um déficit neurológico que atinge predominantemente a execução de movimentos, é muitas vezes subdiagnosticado. 

“A dispraxia passa despercebida pela maioria dos pediatras e dos professores, porque é como se nós designássemos que a criança é desatenta, desastrada, e que ela não consegue desempenhar algumas atividades”, afirma Janaina Pimenta, médica residente em Pediatria no Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (HC-UFU).

Janaina explica que os movimentos motores são aqueles que existem nos grandes grupos musculares, chamados de motor grosso, e os pequenos grupos musculares, conhecidos como motor fino. Na dispraxia, os dois grupos são acometidos.

“No motor fino, há o músculo do pescoço, da mão, dos dedos. Músculos que façam com que a criança pegue objetos e que tenha uma coordenação nesse tipo de movimento. Por ser uma doença que costuma ser diagnosticada na fase pré-escolar, por volta dos 6 anos de idade, a dispraxia pode ser confundida com uma falta de vontade”, explica a médica.

 

Quais podem ser as causas?

A causa da dispraxia é controversa. A médica lista algumas das possibilidades de origem do distúrbio:

  • Hipóxia perinatal: quando há uma ausência ou diminuição da oxigenação cerebral durante o processo de nascimento;
  • Atraso do desenvolvimento neuropsicomotor desde o nascimento;
  • Fator genético: pais com sintomas similares na infância.

Outros fatores podem ser relacionados à pré-disposição de uma criança para desenvolver a dispraxia, entre elas, a prematuridade e o uso de álcool e drogas por parte da mãe durante a gestação. Entretanto, não há estudos que comprovem uma causa bem estabelecida.

Janaina lembra também que há uma vertente que defende a mudança do termo da doença. “Quando pegamos a literatura, vemos o termo ‘transtorno do desenvolvimento da coordenação’ ser muito usado”, comenta.

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Sintomas da dispraxia

A fase escolar, principalmente a partir dos 6 anos de idade, é o principal estágio em que surgem indícios da doença.

Atividades que exigem coordenação motora, como pular durante alguma brincadeira, chutar uma bola e recortar um papel, são visivelmente difíceis para uma criança com dispraxia. O atraso da fala e do desenvolvimento também são sintomáticos.

 

Como tratar?

Não há tratamento medicamentoso para a dispraxia. De acordo com a médica, o ideal é realizar uma terapia multidisciplinar formada por uma equipe com fonoaudiólogo, fisioterapeuta e terapeuta ocupacional, para que a criança fortaleça os movimentos. As técnicas utilizadas pelos terapeutas são lúdicas, como brincadeiras, desenhos e pinturas.

No período escolar, Janaina reforça a importância de um professor de apoio nos primeiros anos. “Pode haver um pouco mais de dificuldade de acompanhar exercícios como escrever, traçar e outras atividades de ligação. Isso pode diminuir o ritmo de aprendizagem, mas não significa que há um comprometimento cognitivo. Com o tratamento, ela passa a não ter mais esses déficits neurológicos e consegue acompanhar a sala de aula normalmente”, pondera.

Em casa, os pais podem ajudar. Práticas como amarrar o cadarço do tênis e abotoar um botão da camisa são exemplos de atividades que colaboram no tratamento da doença. A recomendação é de que essas tarefas sirvam como um exercício.

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Fatores de risco da dispraxia

Além do nascimento prematuro, bebês que nascem com um peso inferior a 1,5 kg também estão mais predispostos a terem dispraxia. Quanto ao sexo, o masculino tem duas vezes mais predisposição que o feminino a desenvolver o distúrbio.

“Outro fator sintomático é quando uma criança ainda não deu os primeiros passos até os primeiros 15 meses de vida”, completa a médica. 

 

Problemas com saúde mental e transtornos relacionados

Janaina comenta que crianças diagnosticadas com dispraxia têm um risco elevado de desenvolver outras condições, como o transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH), o autismo e a dislexia.

Além dos transtornos de aprendizagem, há uma associação do distúrbio com maior prejuízo na saúde mental. “São pessoas com maior índice de ansiedade e depressão, e consequentemente, sobrepeso e obesidade. Há também a relação com maior dificuldade para interagir e se estabelecer bem em grupos”, finaliza.

 

Sobre o autor: Caio Coutinho é estudante de jornalismo na Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e colaborador no Portal Drauzio Varella. Além do gosto por música, também tem interesse em temas de saúde mental e saúde da criança.

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