A PrEP injetável se mostrou ainda mais eficaz na prevenção do HIV em comparação com a PrEP diária para mulheres cisgênero. No entanto, as estratégias são desconhecidas por esse grupo. Saiba mais.
Nos aplicativos de relacionamento, as mulheres também têm poder de escolha. Conversam e saem com diferentes homens de acordo com seus desejos, mas não estão livres do preconceito. Se a mulher leva o preservativo na bolsa, por exemplo, ela acaba sendo malvista.
Esse estigma vai na contramão da autonomia sexual que as mulheres conquistaram, principalmente no que diz respeito à escolha do melhor método de prevenção às infecções sexualmente transmissíveis, as ISTs. Por vergonha, pressão do parceiro ou medo de ser julgada, elas desconhecem as opções disponíveis para se proteger.
Entre elas, está a PrEP, a profilaxia pré-exposição ao HIV. Trata-se de uma estratégia composta por medicamentos antirretrovirais que pode ser utilizada por qualquer pessoa para evitar a infecção em caso de exposição ao vírus.
PrEP oral diária já está disponível para mulheres desde 2017
“Para as mulheres em geral, a recomendação no Brasil é a PrEP oral diária: dois comprimidos na primeira dose e depois um comprimido por dia. Para a proteção ser considerada eficaz, a mulher precisa estar tomando a PrEP diária há pelo menos sete dias”, explica Roberto Zajdenverg, infectologista e gerente médico da GSK.
A PrEP oral diária está disponível no SUS desde maio de 2017. No entanto, de acordo com o Relatório de Monitoramento de Profilaxias Pré e Pós-Exposição ao HIV, do Ministério da Saúde, em 2023, a porcentagem de mulheres cisgênero que utilizaram o medicamento representava apenas 6% do total.
Quando tomada na frequência adequada, a PrEP oral diária garante 96% de eficácia na proteção contra o HIV em mulheres cisgênero. Inclusive, ela é segura para gestantes e lactantes, sendo capaz de prevenir o risco de transmissão vertical do vírus para o bebê.
“As mulheres podem fazer a PrEP oral gratuitamente na rede pública, ou procurar em unidades mais distantes de casa, se tiverem vergonha. E se [a mulher] tiver plano de saúde, pode buscar atendimento com clínico-geral, infectologista ou via telemedicina, conseguir a receita e comprar o medicamento — inclusive genéricos com preço acessível”, informa o infectologista.
A PrEP em comprimido também existe no modelo sob demanda, para quem mantém relações sexuais mais pontuais e planejadas. Mas ela não é indicada para mulheres cisgênero, já que a proteção na mucosa vaginal exige exposição contínua aos antirretrovirais.
PrEP injetável: ainda mais proteção para as mulheres
O que há de novas possibilidades para mulheres cisgênero é a PrEP injetável, modalidade aplicada através de uma injeção intramuscular a cada dois meses. O HPTN 084, estudo publicado na revista científica The Lancet, comparou a eficácia da PrEP injetável em relação à PrEP oral diária em mulheres e mostrou a superioridade do modelo de longa duração em até 90% na redução do risco.
“Um dos principais fatores foi a adesão. Tomar uma injeção a cada dois meses é muito mais fácil do que lembrar de tomar comprimido todo dia. Isso elimina o estresse da rotina, além de evitar estigmas. Algumas mulheres não podem nem guardar remédios em casa ou precisam esconder do parceiro. Com a injetável, isso é resolvido”, explica o dr. Roberto.
A PrEP injetável foi aprovada pela Anvisa em 2023, mas ainda não está disponível no SUS. O especialista lembra ainda que a PrEP, seja em comprimido ou injetável, é extremamente útil e pode ser usada junto com outros métodos, como o preservativo.
“O ideal é que a escolha seja autônoma, com acompanhamento de um profissional de saúde, e que a pessoa siga aquilo que melhor se encaixa na sua realidade. Trata-se de autonomia e empoderamento: evitar HIV, outras ISTs e gravidez. É um pacote completo de escolha”, conclui.
Veja também: PrEP e PEP: como funcionam os medicamentos que protegem da infecção por HIV?