Fenômeno raro, a superfecundação heteroparental só pode ser detectada a partir de um exame de DNA. Entenda.
Irmãos gêmeos de pais diferentes. Será que isso existe mesmo? A série Pedaço de Mim, lançada em 2024 pela Netflix, trouxe à tona esse tema: a personagem Liana, interpretada pela atriz Juliana Paes, fica grávida de gêmeos e, após fazer o exame de DNA, descobre que cada bebê é filho de um homem diferente.
O fenômeno, embora pareça só uma história fictícia, realmente existe: chama-se superfecundação heteroparental e é muito raro.
Segundo o dr. Fernando Prado, ginecologista, obstetra e especialista em reprodução humana, diretor clínico da clínica Neo Vita e membro da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM), a superfecundação heteropaternal acontece quando uma mulher ovula dois óvulos diferentes, com intervalo de até 48 horas, e tem relação com homens diferentes e cada óvulo é fertilizado pelo sêmen de um desses homens também.
“Ou seja, ela engravida de uma gestação gemelar que vão ser gêmeos da mesma mãe, só que de pais diferentes. Então são duas placentas, duas bolsas amnióticas, são duas crianças geneticamente diferentes da mesma mãe, porém, de pais diferentes e que vão nascer juntos no mesmo dia ou com uma diferença de alguns minutos de um para outro”, explica o médico.
Fenômeno muito raro
O especialista explica que a superfecundação heteroparental é um fenômeno raríssimo, pois muitas coincidências precisam ocorrer simultaneamente para que ela aconteça.
“A chance de um casal sem dificuldade para engravidar conquistar uma gravidez natural em um ciclo menstrual é de apenas 10% a 15%. E a probabilidade dessa gravidez ser gemelar já é bastante rara por si só: de um a cada 250 nascimentos”, destaca.
Quando falamos em superfecundação heteroparental, as chances são bem menores. “Não temos nem uma estatística precisa na literatura médica para determinar qual é realmente a chance de acontecer, pois é necessária a ovulação de mais de um óvulo no mesmo ciclo menstrual, a relação com dois parceiros diferentes em um curto período, a fecundação e implantação de dois óvulos e o desenvolvimento da gravidez. É extremamente raro, é praticamente como ganhar na loteria”, completa ele.
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Confirmação é feita com DNA
A superfecundação heteroparental é identificada a partir de um teste de DNA. Sem o exame, o caso pode passar despercebido, especialmente se os pais forem fisicamente parecidos.
“A não ser que haja uma questão racial bem marcante. Por exemplo, um pai é oriental e o outro é negro, um é branco e o outro é oriental, aí obviamente vai ter uma suspeita quando as crianças nascerem. Mas se as crianças forem parecidas fisicamente e não tiver nenhuma suspeita de que houve uma gravidez que seja heteroparental, é impossível saber a não ser por um teste de DNA mesmo”, explica o dr. Fernando.
De acordo com o médico, a recomendação é que o teste de DNA seja feito após o nascimento, já que exames invasivos durante a gestação podem trazer riscos aos bebês.
Riscos de uma gravidez gemelar
O especialista esclarece que, em tese, não existem riscos adicionais em uma gestação em que ocorre a superfecundação heteroparental se comparada a uma gestação gemelar comum – em que ambos os bebês são da mesma mãe e do mesmo pai.
“Então, uma gestação de gêmeos, seja ela heteropaternal ou homopaternal, traz os mesmos riscos de uma gestação gemelar, que é um risco aumentado de prematuridade, principalmente, de pressão alta na gravidez e de diabetes gestacional, entre outros. São raras outras complicações e são as mesmas nessas duas modalidades basicamente”, afirma.
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