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Mulheres estão fazendo menos mamografias

Publicado em 18/10/2017
Revisado em 11/08/2020

Taxa de realização de mamografia pelo SUS tem diminuição acentuada, alertam pesquisadores.

 

Todos os anos, com a chegada do mês de outubro e a campanha Outubro Rosa, dezenas de recomendações são veiculadas para que as mulheres façam mamografia a fim de prevenir o câncer de mama. Ainda assim, pesquisadores da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) e da Rede Goiana de Pesquisa em Mastologia alertam para uma diminuição acentuada no número de exames realizados pelo SUS. Falta de informação sobre como e onde realizar a mamografia é um dos principais motivos para essa queda.

 

Veja também: Recado em video do dr. Drauzio sobre mamografia

 

A recomendação da SBM é que as mulheres façam a mamografia a partir dos 40 anos de idade. Pelo SUS,  a faixa dos 50 aos 69 anos é definida como público prioritário para a realização do exame preventivo, segundo normas da Organização Mundial da Saúde (OMS) seguidas pelo Ministério da Saúde.

Há alguns meios de se conseguir acesso a esse exame tão importante. Um dos mais comuns é a paciente ir até a UBS – Unidade Básica de Saúde – mais próxima de sua residência e se consultar com um médico ginecologista, que solicitará o exame. O resultado chega na própria unidade, pois sua interpretação é realizada pelo médico e demora cerca de um mês para ficar pronta. É importante ressaltar que a mamografia de rastreamento é diferente da mamografia diagnóstica (quando o médico suspeita que a paciente tenha a doença), que requer resultado mais rápido.

 

Veja também: Como funciona o SUS?

 

Além disso, segundo informações da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, mulheres paulistas com idade entre 50 e 69 anos já podem realizar, gratuitamente pelo SUS, exames de mamografia no mês em que comemoram aniversário, sem a necessidade de apresentar pedido médico. Para fazer o agendamento da mamografia basta ligar para o central de atendimento da secretaria, pelo número 0800-779-0000. O serviço telefônico estará disponível de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h.

Por fim, há também um programa do Governo do Estado denominado ”Mulheres de Peito”. Uma carreta-móvel oferece mamografias grátis sem necessidade de pedido médico para mulheres dentro dessa faixa etária. São quatro unidades que circulam em diversos locais do Estado. Para saber os próximos locais em que a carreta estará, ligue (11) 3066-8000.

 

Obstáculo I

 

É claro que o caminho para realizar a mamografia nem sempre é tão simples e alguns entraves são responsáveis pela baixa adesão das mulheres, apesar de toda campanha para que elas façam o exame.

Em todo o país, existem 1.535 mamógrafos que realizam exames pelo SUS. Isso quer dizer que o número de aparelhos existentes no sistema é quase duas vezes maior que o necessário para cobrir toda a população brasileira, conforme parâmetro do Inca (Instituto Nacional de Câncer), que indica um aparelho para cada 240 mil habitantes.

Entretanto, segundo informações da Sociedade Brasileira de Mastologia, o Inca esperava que 10 milhões de mulheres na faixa etária dos 50 aos 60 anos realizassem a mamografia em 2013, mas apenas 2,5 milhões de mulheres fizeram o exame no período – uma cobertura de 24,8%, índice muito abaixo da recomendação da OMS, que é de 7 milhões. Ou seja, elas não estão realizando o exame como deveriam.

”O número de mamógrafos é suficiente no país, no entanto eles são mal distribuídos – quase 50% dos mamógrafos estão na região Sudeste –, deixando boa parte da população do interior e de pequenas cidades descoberta, com impossibilidade de fazer o exame de maneira rápida”, explica dr. Antonio Frasson, presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia.

”A gestão ainda é um grande problema dentro do SUS. O sistema de marcação de exames e consultas é complexo e as mulheres ficam esperando meses até conseguir uma vaga. No Hospital do Câncer aqui de Goiânia temos três mamógrafos, entretanto, eles só funcionam em períodos específicos por motivos de contenção de gastos e disponibilidade técnica. Então, muitas vezes reclamamos de falta verba, mas é necessário também que as secretarias de Saúde de cada Estado façam a sua parte, se organizem melhor. Temos exemplos de gestão que funcionam, como o Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp) e o Hospital Pérola Byngton, ambos em São Paulo”, afirma o presidente do conselho deliberativo da SBM, dr. Ruffo de Freitas Júnior.

 

Obstáculo II

 

Ainda de acordo com o estudo da SBM, os números no Distrito Federal são os que mais surpreenderam os pesquisadores, já que nos últimos anos a região apresentava uma curva de crescimento na cobertura mamográfica: 14,2% em 2013; e 16% em 2014. Já em 2015 esse número caiu para 1,5%, situação pior do que a do Estado do Amapá (3,9%).

Existem 12 mamógrafos no DF que seriam suficientes para realizar 120 mil mamografias por ano pelo SUS, caso houvesse técnicos e médicos radiologistas suficientes. ”No entanto, há carência de profissionais, que priorizam as emergências, realizando tomografias e ressonâncias, e ‘cortam’ a agenda de mamografias durante o ano, ou seja, os mamógrafos ficaram praticamente parados em 2015. Os números de 2014 são atribuídos à terceirização de um serviço de unidades móveis, cujo contrato não foi renovado no ano seguinte. Esse serviço ajudou a aumentar o número de exames e as mulheres não precisavam de pedido médico, porém, após receber o laudo, não tinham um acompanhamento para diagnóstico e tratamento, caso fosse necessário”, diz a nota.

”Eu também acrescento que os números de mamografias realizadas ainda são baixos porque ainda há muita falta de informação e o medo da dor, do diagnóstico, de descobrir um câncer”, reforça Frasson. 

 

Como resolver o entrave?

 

Na opinião do dr. Ruffo, o fato de a mulher precisar ir até as unidades de saúde acaba sobrecarregando o sistema. Todo esse processo poderia ser otimizado em duas etapas, por exemplo: o médico da família que passa nos bairros já teria um levantamento das mulheres que deveriam fazer o procedimento por conta da idade. No dia da visita, ele  já informaria a paciente sobre o dia e o horário do agendamento. Depois disso, o resultado chegaria via carta com o laudo assinado explicando se ela precisaria voltar ou não à unidade de saúde. ”Isso ajudaria a desafogar o sistema e todos os resultados já estariam nos bancos de dados”, conclui. 

Para o professor Paulo Hoff, titular de Oncologia e Radiologia da Faculdade de Medicina da USP, a questão dos problemas técnicos e da má distribuição é resultado de uma má gestão dos recursos financeiros. “Não tem justificativa. É obrigação do gestor local manter a estrutura e equipamentos adequados.” 

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