É verdade que os ciclos menstruais das mulheres se sincronizam?

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Publicado em: 7 de abril de 2023

Revisado em: 19 de maio de 2023

Você já deve ter ouvido falar que ciclos menstruais se sincronizam, que mulheres que passam muito tempo juntas começam a menstruar juntas. Mas isso é mito. 

 

Possivelmente já aconteceu de você passar tanto tempo com uma amiga ou familiar a ponto de perceber que a menstruação “desceu” na mesma época. Por mais que isso deixe muitas mulheres felizes, por compartilharem juntas um fenômeno tão pessoal, a verdade é dura: a ideia de que os ciclos menstruais sincronizam com a convivência não passa de um mito. 

Essa crença surgiu na década de 1970, após a publicação de um estudo na revista “Nature”. Mais tarde, outras pesquisas não corroboraram a mesma conclusão. Mas aí, a teoria já havia se popularizado.

 

O que dizia o estudo original?

A pesquisa que causou a confusão foi conduzida pela psicóloga americana Martha Kent McClintock. Ela analisou os ciclos menstruais de 135 mulheres que estudavam em uma faculdade nos Estados Unidos. A conclusão foi a de que a data de início da menstruação era mais parecida entre estudantes que dividiam o quarto do que entre pares aleatórios.

A explicação estaria na troca de feromônios, isto é, moléculas que são constantemente cruzadas entre os animais para que eles se entendam mesmo sem a comunicação verbal. Essa troca induziria a sincronização dos ciclos. 

Assim, segundo a teoria evolucionista, as mulheres passariam a ovular ao mesmo tempo, dificultando que um único homem pudesse engravidar várias delas concomitantemente.

“Seria um mecanismo de defesa contra um macho dominante, como o dono de um harém de mulheres. Ele teria dificuldade em estabelecer o controle reprodutivo se todas as fêmeas estivessem ovulando ao mesmo tempo”, explica a dra. Olívia Oléa, médica ginecologista e obstetra especialista em sexualidade humana.

A pesquisa foi publicada na revista “Nature”, em 1971. Porém, críticas em relação à metodologia utilizada por McClintock e o fato dela não ter sido capaz de explicar exatamente o motivo da sincronização colocaram a teoria em cheque.

 

O que a ciência descobriu depois?

A fim de conferir se essa hipótese fazia sentido, vários estudos foram realizados posteriormente. A conclusão, no entanto, foi outra: não há evidências que confirmem a sincronização das menstruações.

Na Universidade de Chicago, uma pesquisa comparou dados dos ciclos de babuínos coletados ao longo de seis anos. Depois, eles compararam essas informações usando dois modelos — aquele proposto por McClintock e outro atribuído ao acaso. Ao fim da análise, este último foi considerado o mais adequado.

Outro estudo conduzido pela Universidade de Oxford em parceria com o aplicativo de fertilidade Clue avaliou os padrões do ciclo menstrual de 360 pares de mulheres que conviviam juntas ao longo de três meses consecutivos (assim como fez Martha). A descoberta foi no sentido contrário: no fim do trimestre, 75% das duplas menstruaram em datas mais distantes do que no início. Sendo assim, os ciclos estariam se afastando, e não sincronizando.

Veja também: Entenda as fases do ciclo menstrual

 

Então, por que a teoria inicial ficou tão popular?

Por ter vindo a público na década de 1970, momento em que emergia o movimento feminista, o estudo acabou reforçando os discursos de cooperação mútua entre as mulheres.

Além disso, como detalha a dra. Olívia, às vezes, a sincronização acontece mesmo. Mas é apenas uma coincidência. 

“Cada pessoa tem variações de periodicidade e duração da menstruação. Em alguns momentos, o primeiro dia do ciclo pode coincidir com o de alguma companheira, mas, na maior parte das vezes, não coincidirá. Isso é passageiro, visto que depois os ciclos se separam”, ressalta a médica.

Outra justificativa é a necessidade de criar uma conexão especial com uma colega ou namorada, compartilhando a experiência menstrual que, muitas vezes, é cercada de tabus.

“Na falta de estudos científicos que expliquem as coisas direito, os mitos prevalecem. E foi isso o que ocorreu: uma mistura de um estudo mal feito com a tendência social para crenças populares”, afirma a ginecologista.

 

Quais fatores realmente influenciam o ciclo menstrual?

O estilo de vida, algumas doenças metabólicas, o uso de medicamentos específicos e até o momento de vida podem influenciar o ciclo menstrual, antecipando ou atrasando a menstruação.

A dra. Olívia lista os fatores mais comuns:

“Talvez seja decepcionante para algumas pessoas, mas não há provas científicas de sincronização menstrual entre mulheres da nossa espécie”, conclui a especialista.

Veja também: Coisas que acontecem no corpo durante a menstruação: o que é normal?

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