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Gestação tardia: até quando é possível engravidar com óvulos próprios?

Publicado em 05/02/2025
Revisado em 05/02/2025

O congelamento de óvulos pode ser uma estratégia importante para mulheres que desejam adiar a maternidade ou ainda não têm certeza se querem ser mães. 

 

Adiar a maternidade por razões pessoais, profissionais ou de saúde é uma escolha cada vez mais comum entre as mulheres. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) publicados em 2024 mostram que o número de mulheres que decidiram ter filhos após os 40 anos aumentou 65,7% em 12 anos. Entre aquelas com idades entre 30 e 39 anos, o crescimento foi de 19,7% no mesmo período.

“A postergação da decisão de ter filhos para idades mais avançadas alinha-se à tendência de aumento da participação das mulheres no mercado de trabalho e ao aumento da escolarização”, destaca o IBGE na 3ª edição do documento Estatísticas de gênero: indicadores sociais das mulheres no Brasil.

No entanto, o relógio biológico impõe limites que muitas vezes só se tornam evidentes quando a mulher decide engravidar. Afinal, até que idade é possível gestar usando os próprios óvulos? E quais são as alternativas para quem deseja postergar esse plano?

Para a dra. Amanda Lino, médica ginecologista e especialista em reprodução assistida na clínica GAVVA, em São Paulo, o congelamento de óvulos pode ser uma estratégia importante para mulheres que desejam adiar a maternidade ou ainda não têm certeza se querem ser mães.

Além disso, é fundamental compreender como a idade impacta a fertilidade, a importância da preservação dos óvulos e o que o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece nesse contexto para apoiar mulheres que enfrentam essa decisão.

 

Como o “relógio biológico” afeta a fertilidade

Relógio biológico é um termo popularmente usado para se referir ao conjunto de mudanças naturais que ocorrem no corpo ao longo do tempo, especialmente em relação à capacidade reprodutiva. No contexto da fertilidade feminina, ele está relacionado à diminuição gradual da quantidade e da qualidade dos óvulos com o passar dos anos.

Diferentemente dos homens, que produzem novos espermatozoides continuamente ao longo da vida, as mulheres nascem com um número finito de óvulos. “O que torna essa realidade ainda mais impactante é o fato de que, após o nascimento, as mulheres não têm a capacidade de produzir novos óvulos. Esse estoque vai sendo gradualmente consumido até o esgotamento total, culminando na menopausa, quando a fertilidade chega ao fim”, explica a dra. Amanda.

        Veja também: Homens podem ter filhos em qualquer idade?

 

Existe uma idade limite para engravidar com óvulos próprios?

Embora não exista uma idade exata, o declínio da fertilidade fica mais significativo a partir dos 35 anos. “Após essa idade, as chances de uma gestação natural começam a diminuir e, depois dos 40, essa redução se acentua drasticamente. Para termos uma referência, a probabilidade de engravidar aos 40 anos, após um ano de tentativas, é de aproximadamente 20%. Ou seja, de cada 100 mulheres, apenas 20 conseguirão engravidar naturalmente. Esse cenário fica ainda mais desafiador após os 45 anos, quando a chance cai para menos de 1% após um ano de tentativas”, destaca a especialista.

Mesmo que seja possível engravidar com óvulos próprios até o início da menopausa, a probabilidade de sucesso diminui. Por isso, mulheres que desejam adiar a maternidade devem considerar a reserva ovariana e planejar a gestação com antecedência.

 

Qualidade dos óvulos na gestação tardia e impactos na saúde do bebê

Com o passar dos anos, a qualidade dos óvulos tende a diminuir, afetando diretamente a fertilidade feminina. Os óvulos mais velhos apresentam maior probabilidade de alterações cromossômicas, dificultando a concepção e aumentando o risco de complicações. “Isso pode levar à formação de embriões alterados cromossomicamente, resultando em dificuldades para engravidar, maior risco de abortos espontâneos e maior probabilidade de síndromes genéticas, como a síndrome de Down”, explica a dra. Amanda.

Além disso, a saúde do bebê também pode ser prejudicada, já que a qualidade dos óvulos impacta o desenvolvimento inicial da gestação. Por isso, é preciso ter uma maior atenção durante o acompanhamento pré-natal.

        Veja também: Quando a gravidez é considerada tardia?

 

Alternativa para preservação da fertilidade

Para mulheres que desejam adiar a maternidade, o congelamento de óvulos é a principal estratégia de preservação da fertilidade. “O procedimento consiste em resgatar e congelar óvulos que seriam naturalmente destruídos naquele mês, armazenando-os para uso futuro”, detalha a especialista.

O processo dura cerca de duas semanas e envolve o uso de medicações para estimulação dos ovários, monitoramento por ultrassonografia e coleta de exames de sangue. Fatores como a idade da mulher no momento do congelamento (quanto mais jovem, melhores os resultados), saúde geral, quantidade de óvulos disponíveis e custos do procedimento devem ser considerados antes da decisão.

 

O congelamento de óvulos é oferecido pelo SUS?

O SUS oferece suporte para a preservação da fertilidade, especialmente em casos de risco iminente de perda da capacidade reprodutiva, como em mulheres submetidas a tratamentos oncológicos ou que enfrentam condições médicas que afetam diretamente a fertilidade, como a endometriose. Apesar de existirem limitações e critérios de elegibilidade, esse atendimento público gratuito representa um avanço na garantia de direitos reprodutivos.

De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o Brasil conta com 161 Centros de Reprodução Humana Assistida, distribuídos por diferentes regiões do país. Desses, dez realizam procedimentos de reprodução assistida pelo SUS, localizados em sete cidades: São Paulo, Ribeirão Preto, Porto Alegre, Brasília, Goiânia, Natal e Belo Horizonte. Embora ainda não seja amplamente disponível em todos os estados, o serviço beneficia pacientes que não teriam acesso a tratamentos na rede privada devido aos custos elevados.

Mulheres diagnosticadas com câncer, por exemplo, podem recorrer ao SUS para realizar o congelamento de óvulos antes de iniciar a quimioterapia ou radioterapia, procedimentos que podem comprometer a fertilidade. Na rede privada, esse serviço pode custar a partir de 20 mil reais.

O congelamento de óvulos não garante, por si só, a gravidez no futuro. Trata-se de uma alternativa para preservar a fertilidade, mas o sucesso depende de vários fatores, como a idade da mulher no momento do congelamento e a qualidade dos óvulos.

        Veja também: SUS oferece congelamento de óvulos para mulheres com câncer

 

Recomendações para quem deseja adiar a maternidade

Seja por motivos pessoais ou profissionais, o adiamento da maternidade deve considerar os limites biológicos da fertilidade. Para quem deseja manter a possibilidade de engravidar no futuro, o congelamento de óvulos pode ser uma opção importante. “Essa ferramenta não elimina os desafios, mas amplia as opções, permitindo que cada mulher planeje sua maternidade de forma mais alinhada ao seu contexto de vida e tenha a liberdade de escolher no seu tempo”, finaliza a dra. Amanda.

Nesse processo, o aconselhamento profissional e avaliações médicas regulares ajudam a traçar o melhor caminho, de acordo com o momento de vida, expectativas e condições de cada mulher.

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