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Endometriose: por que o diagnóstico é difícil e demorado?

Algumas pacientes levam anos para receber o diagnóstico da endometriose, doença que atinge mais de 6 milhões de mulheres no Brasil.
Publicado em 09/08/2022
Revisado em 09/08/2022

Algumas pacientes levam anos para receber o diagnóstico da endometriose, doença que atinge mais de 6 milhões de mulheres no Brasil.

 

A cantora Anitta, ao comentar em suas redes sociais que se submeteria a uma cirurgia para tratar a endometriose, trouxe à tona uma série de manifestações acerca da demora em se conseguir o diagnóstico da doença.

Embora haja 6,5 milhões de mulheres com endometriose no país, segundo um levantamento feito em 2020 pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), mulheres levam de 8 a 10 anos para saberem que têm a doença. Isso significa anos de idas frequentes a médicos, exames variados, gastos e sofrimento físico e psicológico para, por fim, conseguir entender o que acontece e iniciar o tratamento.

“Os sintomas da endometriose podem surgir em outras situações, não são específicos, o que dificulta o diagnóstico”, explica a ginecologista e obstetra Renata Lopes Ribeiro, mestre em ciências pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).

Além disso, é comum que mulheres acreditem que é normal sentir dor intensa ao menstruar, um dos sintomas da doença. Soma-se a isso o fato de que muitos médicos menosprezam as queixas, o que é comum em relação a problemas relacionados à saúde da mulher.

 

Endometriose

Em entrevista ao podcast “Por que Dói?”, a ginecologista e obstetra Kelly Cristina Tavares explicou que a endometriose é causada pela menstruação retrógrada, em que células do endométrio, que revestem o interior do útero, não são expelidas durante a menstruação e caem na cavidade abdominal. A partir daí, elas se implantam no intestino, na bexiga, no peritônio (membrana que recobre os órgãos pélvicos e a parede abdominal), na vagina, atrás do colo do útero, entre outros locais.

Esses implantes endometrióticos causam um processo inflamatório doloroso, que piora com o passar dos anos e gera cólicas menstruais intensas, dor durante a relação sexual e, por vezes, até fora do período menstrual. “A dor na relação sexual na posição de quatro apoios é bem característica, mas muitas pacientes ficam constrangidas ao relatar o sintoma ou acham que é assim mesmo, que sempre dói”, esclarece a dra. Renata.

Veja também: 6 fatos sobre endometriose

 

Demora no diagnóstico e tratamento

Para a dra. Renata, há vários motivos que levam à demora no diagnóstico. O primeiro, já mencionado aqui, diz respeito ao fato de que os sintomas nem sempre são específicos, portanto podem ser confundidos com os de outras doenças ou considerados comuns.

Além disso, é normal que mulheres e até médicos considerem que cólicas intensas e dor durante as relações sexuais sejam normais. “Se atrapalha o dia a dia, se atrapalha a qualidade de vida, não é normal”, conclui a médica.

Outro motivo, ainda de acordo com a ginecologista, é que muitos médicos não estão preparados para identificar os sintomas, e acabam atribuindo os sintomas a outros problemas. Pergunto se não falta um olhar cuidadoso por parte de muitos profissionais, e a médica concorda: “Alguns profissionais não valorizam as queixas.”

As pacientes, muitas vezes, também têm dificuldade de falar sobre o assunto. Ainda impera a ideia de que mulheres devem suportar os sintomas relacionados à menstruação, mesmo que eles sejam incapacitantes. Além disso, falar sobre sexo ainda é tabu: “As pacientes ficam constrangidas de falar sobre o assunto com o ginecologista, imagine com outros profissionais”, diz a dra. Renata.

Outro fator que dificulta o diagnóstico é que os exames mais específicos, como o ultrassom ginecológico com doppler e preparo intestinal, são caros e precisam ser realizados por especialistas que nem sempre podem ser encontrados em todas as regiões e centros de saúde do Brasil. “Os exames de rotina não detectam a endometriose”, avisa a dra. Renata. “O ultrassom com preparo intestinal é considerado o padrão ouro [para o diagnóstico]”, concorda a dra. Kelly Cristina.

Com todos esses entraves, é de se esperar que o diagnóstico leve tempo. Mas isso tem mudado aos poucos, conforme há mais informações sobre a doença e sobre o fato de que as mulheres não devem sentir dores incapacitantes e achar que isso é normal.

O diagnóstico é importante porque a endometriose não tem cura, é uma doença crônica, mas pode, sim, ser controlada. O tratamento, em geral, envolve a suspensão da menstruação e, em casos mais graves, quando a endometriose atinge órgãos mais importantes como intestino e bexiga, é indicada a cirurgia, em geral por videolaparoscopia. “E pacientes com endometriose que são inférteis muitas vezes precisam, primeiro, passar pela cirurgia, retirar esses focos de endometriose — porque o objetivo da cirurgia é retirar ao máximo todos os focos — e, daí sim, se não conseguir engravidar, de repente precisa de um tratamento de reprodução assistida — a fertilização in vitro”, conclui a dra. Kelly Cristina. 

“O importante é a mulher perceber que, se a dor impacta o dia a dia, se reduz a qualidade de vida, se a faz perder dias de trabalho ou estudo, se dificulta uma vida sexual satisfatória, ela deve procurar ajuda médica”, enfatiza a dra. Renata. 

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