As oscilações hormonais durante o ciclo menstrual e ao longo da vida têm impacto direto no equilíbrio emocional das mulheres. Entenda qual é a relação entre hormônios e saúde mental.
Quem nunca chorou pelo motivo mais bobo e no dia seguinte descobriu que era apenas efeito da TPM, a tensão pré-menstrual? O funcionamento do organismo das mulheres (e dos homens também) é regulado pelos hormônios. Essas substâncias, produzidas pelo sistema endócrino, têm funções específicas e influenciam diretamente o nosso crescimento, comportamento e bem-estar.
É por isso que, durante o ciclo menstrual, quando os hormônios oscilam, as emoções oscilam também. Outras sensações como fome, saciedade, sono, estado de alerta, felicidade e tristeza são igualmente resultado dessas mudanças.
Sendo assim, os hormônios têm um impacto direto na saúde mental, tanto positiva quanto negativamente. Nas mulheres, ainda mais.
Mulheres são mais sujeitas às alterações hormonais
“Em comparação com os homens, as mulheres têm duas a três vezes mais chances de desenvolver um transtorno depressivo e ansioso quando estão em idade reprodutiva”, afirma a psiquiatra Christiane Ribeiro, especialista em saúde mental da mulher e doutoranda em Medicina Molecular pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Na prática, isso significa que a população feminina é mais suscetível às mudanças de humor justamente nos períodos de maior oscilação hormonal — que ocorrem antes da primeira menstruação, ao longo da gestação e do pós-parto, na perimenopausa e na própria menopausa.
“Entre as mulheres, existem algumas que são ainda mais vulneráveis. E como a gente determina isso? Temos fatores genéticos envolvidos, como, por exemplo, se a mulher tem algum familiar direto com um quadro psiquiátrico. Fatores de resiliência e de personalidade também influenciam”, complementa a psiquiatra.
Um exemplo é o TDPM, transtorno disfórico pré-menstrual. Ele difere da TPM, a tensão pré-menstrual, que atinge cerca de 80% das mulheres com sintomas como inchaço nas mamas, dores de cabeça, cólicas, irritabilidade e tristeza. Isso acontece devido à interação dos hormônios produzidos nesse período com os neurotransmissores do sistema nervoso central. No caso do TDPM, que atinge de 5% a 8% das mulheres, tais sintomas ficam muito mais exacerbados, levando até a comportamentos depressivos e pensamentos suicidas.
Como os hormônios alteram o humor?
É preciso entender que, geralmente, os transtornos mentais não estão diretamente associados às alterações hormonais. Mas elas aparecem como causas secundárias, muitas vezes intensificando os sintomas. A seguir, estão os hormônios que mais afetam a saúde mental feminina:
Hormônio do amor
A ocitocina recebe esse apelido por ter uma ação direta nas emoções. Ela é acionada quando recebemos ou praticamos uma gentileza e também quando estamos próximos de alguém que amamos. No momento em que isso acontece, algumas regiões do sistema límbico, a rede neuronal que faz a mediação entre emoção e motivação, são ativadas.
Durante a gravidez, os níveis desse hormônio também aumentam. “A ocitocina tem funções relacionadas à contração uterina e à amamentação, por exemplo. Ela ajuda na empatia da mãe com o bebê”, acrescenta a dra. Christiane.
Hormônio do sono
A melatonina tem como principal função regular o nosso descanso. É ela quem comanda o ciclo circadiano, também conhecido como relógio biológico. Além disso, ela produz a serotonina, o hormônio (que, na verdade, é um neurotransmissor) da felicidade. E ainda está diretamente ligada ao prazer e ao controle da ansiedade.
“A melatonina começa a ser produzida pela glândula pineal durante o anoitecer. Ao regular o sono, ela está regulando também o nosso bem-estar, a capacidade de reter informações, a memória e a disposição. Tudo isso altera o bem-estar e o humor”, diz a psiquiatra.
Hormônio do estresse
O cortisol, por sua vez, está associado ao controle dos níveis de estresse. Ele varia durante o dia, aumentando pela manhã e diminuindo conforme a noite se aproxima. A sua produção acontece em situações de irritação, liberando, por exemplo, a adrenalina, neurotransmissor responsável por deixar o corpo alerta frente ao perigo.
O cortisol é produzido pelas glândulas suprarrenais e controla também a nossa imunidade, que está intimamente ligada ao comportamento social. “Quando a pessoa se encontra sobre altos níveis de estresse, ela acaba sofrendo um impacto direto na imunidade e fica mais vulnerável a doenças”, explica a especialista.
Com o estresse excessivo, o cortisol pode levar a crises de ansiedade e quadros de depressão.
Hormônios sexuais
O estrógeno e a progesterona também afetam diretamente a saúde mental das mulheres. A sua produção aumenta após a menarca (primeira menstruação), deixando a mulher mais suscetível às alterações hormonais. Durante a gravidez e o pós-parto, eles também tendem a deixar a mulher mais sensível, provocando cansaço, sono excessivo e maior propensão ao choro.
Na menopausa, a sua inconstância pode gerar muito estresse e interferir na libido. É nesse período que a testosterona, o “hormônio masculino”, também sofre uma queda no organismo que pode levar a quadros de ansiedade e diminuição do bem-estar.
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Como diferenciar um transtorno psicológico de um desequilíbrio hormonal?
“Mulheres que têm quadros de depressão, ansiedade, transtorno bipolar ou esquizofrenia podem ter uma sensibilidade hormonal maior e apresentarem uma exacerbação dos sintomas no período anterior à menstruação”, ressalta a dra. Christiane. Ou seja, muitas vezes, fica difícil diferenciar o que é um problema de saúde mental e o que são os efeitos das mudanças hormonais no corpo.
A primeira coisa a se fazer é identificar os momentos em que os sintomas se intensificam e diminuem. Se eles cessam ou amenizam consideravelmente depois que a menstruação ocorre, é importante ligar o sinal de alerta.
Em seguida, busque a ajuda de um profissional que seja capaz de rastrear se há alguma questão clínica envolvida. Falta de energia, lentidão e problemas para dormir podem indicar um quadro depressivo, mas também podem ser causados pela diminuição dos hormônios da tireoide, por exemplo.
“Não é de praxe a gente ficar solicitando vários exames durante a consulta psiquiátrica. Mas, no primeiro atendimento, a gente costuma pedir para entender se há alguma situação clínica que pode estar alterando o humor”, detalha a especialista. Alguns desses exames são o T3 total e T4 livre, dosagem de hormônio tireoestimulante (TSH), hormônio folículo estimulante (FSH), entre outros.
O tratamento varia de caso para caso e pode incluir a regulação hormonal, como o uso de anticoncepcional, se necessário.
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