Aplicativos de ciclo menstrual são ótimos para autoconhecimento e organização do dia a dia, mas não devem ser usados como método para evitar gravidez.
O ciclo menstrual causa uma verdadeira montanha-russa nas emoções da mulher. Em média, ele dura 28 dias, e nesse período, as variações dos níveis dos hormônios envolvidos no ciclo reprodutivo podem provocar diferentes alterações de humor e de comportamento.
Para lidar com essas oscilações e entender melhor o funcionamento do próprio corpo, muitas mulheres estão usando aplicativos (apps) que ajudam a monitorar o ciclo menstrual, mas é preciso fazer um alerta: esses aplicativos não servem para evitar a gravidez.
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Com eles, é possível ter uma noção dos dias férteis, períodos pré-ovulatórios e dias de fluxo menstrual. Alguns apps também estimam o início dos sintomas desagradáveis da tensão pré-menstrual (TPM), como dor de cabeça, inchaço, cólicas, irritabilidade, entre outros. É possível, também, personalizar o uso do aplicativo com informações sobre o seu humor, sintomas desagradáveis, dieta, sono, prática de atividade física, ocorrência de relações sexuais etc. A partir desses dados, o app cria um gráfico que pode ajudar a mulher a se organizar, fornecendo informações como “no 14º dia, você costuma ter mais dor de cabeça e nas mamas e vontade de comer doces”.
Sabendo desses padrões com antecedência, é possível tomar algumas medidas profiláticas: se você tem muita dor de cabeça no dia x, comece a tomar analgésicos dois dias antes da menstruação; se tem muita vontade de doces, prepare-se mentalmente e planeje-se para dar preferência a chocolates 70% cacau.
Conhecer as mudanças hormonais durante o ciclo menstrual é tão importante que equipes de esporte feminino de alto rendimento estão utilizando esses aplicativos para monitorar os incômodos típicos desse período e, assim, poder adaptar dietas, carga de treinos e sono para melhorar o desempenho das atletas.
Método contraceptivo digital?
O problema é que muitas mulheres não usam os apps apenas para a organização, mas também como método contraceptivo, já que eles estimam o período fértil. O tema gerou debate quando, em agosto de 2018, o Food and Drug Administration (FDA), órgão regulador de alimentos e medicamentos dos Estados Unidos, aprovou pela primeira vez na história um aplicativo de menstruação como método para evitar gravidez. A decisão causou polêmica e desconfiança entre ginecologistas.
O aplicativo em questão precisa ser usado juntamente com um termômetro de temperatura corporal basal (TCB), mais sensível que os termômetros comuns usados para medir febre. Com as informações pessoais inseridas pela usuária e as temperaturas medidas de acordo com orientações do próprio aplicativo, a tecnologia seria capaz de informar os dias em que a mulher precisa “usar proteção” (situação indicada por um círculo vermelho) ou nos quais ela “não está fértil” (círculo verde). O desenvolvedor do aplicativo, baseado na Suécia, recomenda medir a temperatura pelo menos cinco vezes por semana e esperar três ciclos completos para que o programa entenda bem o ciclo pessoal da usuária.
Perguntei à ginecologista e obstetra Débora Tonetti, professora da Universidade São Camilo, em São Paulo, se ela recomendaria aplicativos como método anticoncepcional, e ela foi enfática. “Acho muito arriscado. Como prevenção de gravidez, só vai funcionar para mulheres que têm ciclos bem regulares e que conhecem muito seu próprio corpo. Ainda assim, não é garantido, pois estresse, atividade física, gordura corporal, tudo interfere em nosso ciclo a cada mês. Sem contar que muitas pacientes acabam ovulando precoce ou tardiamente. O aplicativo entraria como um método contraceptivo comportamental, como é o caso da tabelinha, coito interrompido, temperatura basal e análise do muco cervical, que não recomendamos na prática clínica.”
Por outro lado, aplicativos podem ser úteis para quem deseja ter filhos. “Nesses casos, a gente recomenda ter relação sexual dois dias antes da ovulação e dois dias depois”.
Tonetti reforça que há alternativas muito mais eficazes para quem não deseja engravidar, como o DIU de cobre (disponível no SUS), que não tem ação hormonal. “A escolha de um método contraceptivo é muito individualizada, o que é bom para uma mulher, não necessariamente vai funcionar para outra. Por isso é importante conversar com um ginecologista”.
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