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6 fatores que afetam a produção de leite materno

Publicado em 01/08/2025
Revisado em 31/07/2025

Estresse, uso de bicos artificiais e problemas de saúde são alguns dos fatores que podem impactar o aleitamento materno. Entenda.

 

O leite materno é um alimento completo, que contém todos os nutrientes que a criança precisa nos primeiros meses de vida. A amamentação ajuda a proteger o bebê contra diarreias, infecções e alergias; reduz o risco de doenças crônicas, como hipertensão e obesidade; e contribui ainda para o desenvolvimento cognitivo. Além disso, o aleitamento também traz benefícios para a saúde materna, como redução do risco de câncer de mama, ovário e colo do útero no futuro. 

O Ministério da Saúde e a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendam a amamentação exclusiva até os 6 meses de idade — sem a necessidade de consumir água, chás, sucos ou outros alimentos nesse período. A partir dos 6 meses, a amamentação deve ser complementada com outros alimentos, mas não interrompida. A orientação é manter o aleitamento materno até os 2 anos de idade ou mais. 

Embora seja extremamente benéfico, amamentar não é tarefa fácil. Na realidade, costuma ser uma demanda cansativa, que exige muito da mãe, especialmente no início. Muitas vezes, elas encontram dificuldades pelo caminho, como fatores que podem interferir na produção de leite e atrapalhar a amamentação. Por isso, informar-se sobre o assunto e buscar orientação é tão importante. 

“A produção de leite humano pode ser influenciada por uma série de fatores, e muitas pessoas acham que se o bebê não ganha peso adequado é porque o leite é fraco, o que é um mito. Um dos motivos para isso é uma produção de leite ineficaz. Muitos deles são fisiológicos, outros emocionais, e alguns até mesmo sociais”, afirma Raquel Lotti, enfermeira obstetra e consultora internacional em lactação IBCLC.

A seguir, a especialista lista os principais fatores que podem afetar a produção de leite: 

 

  1. Desinformação e expectativas 

Muitas mães acreditam que a descida do leite ocorre logo após o parto, mas, na verdade, ela ocorre em torno de 48 a 72 horas depois. Outro pensamento errôneo é que se a mama não vaza, é porque não está produzindo leite. “Essa expectativa gera insegurança, especialmente nos primeiros dias, quando o colostro é produzido em pequena quantidade, mas seu volume é adequado para o tamanho do estômago do bebê”, explica Raquel. 

 

  1. Estresse e ansiedade

O hormônio ocitocina, essencial para a ejeção do leite, é sensível ao estado emocional da mãe. “Ambientes estressantes, pressões familiares ou hospitalares e medo de não conseguir amamentar afetam diretamente esse processo, pois o cortisol, hormônio do estresse, inibe a liberação de ocitocina”, esclarece. 

 

  1. Intervalos longos entre as mamadas

A produção de leite depende do estímulo e da drenagem da mama. Ou seja, quanto mais o bebê suga, mais leite é produzido. Quando o bebê não mama com frequência, o corpo entende que não precisa produzir tanto leite, e assim a produção diminui. 

 

  1. Uso de bicos artificiais

Raquel explica que, quando o bebê faz uso de chupeta, ele deixa de mamar em livre demanda, pois quando sente a necessidade de sugar, não vai ao peito. Isso faz com que o estímulo da mama seja menor. “Não existe uso seguro para bicos artificiais como a chupeta e a mamadeira, independentemente da idade do bebê. Não existem modelos de chupetas e mamadeiras que causam menos impactos na amamentação. Todos causam. A confusão de bico é uma das maiores causas de desmame precoce”, alerta a enfermeira. 

 

  1. Fatores fisiológicos do bebê

A pega incorreta também pode impactar a produção de leite. Se o bebê não consegue abocanhar a aréola corretamente, ele não consegue extrair o leite de forma eficiente, o que pode causar fissuras, dor e baixa extração de leite. “A anquiloglossia (língua presa) é um fator importante para observar no bebê, pois essa condição também gera menos estímulo e, por consequência, menor produção de leite, além de causar dor na mamada e fissuras mamilares”, explica. 

 

  1. Fatores fisiológicos da mãe

Algumas condições de saúde maternas — como diabetes, hipotireoidismo, síndrome dos ovários policísticos (SOP), hipoplasia mamária, retenção placentária e histórico de cirurgias mamárias (principalmente a redução de mama) — podem interferir na produção de leite, conforme explica Raquel. “Mas, atenção: isso não significa que não haverá leite, apenas que pode haver desafios adicionais. São sinais que devemos observar de perto: a produção de leite e o ganho de peso do bebê”, recomenda.  

        Veja também: Mitos e verdades sobre amamentação

 

Sinais de baixa produção de leite

É importante observar sinais que podem indicar uma baixa produção de leite, como:

  • Fraldas com pouco ou nenhum volume de xixi e cocô, principalmente nos primeiros dias de vida do bebê;
  • Mamadas longas e não efetivas;
  • Baixo ganho de peso;
  • Padrão de sucção não regular do bebê no peito;
  • Bebê inquieto e que não apresenta sinais de saciedade após as mamadas;
  • Intervalos curtos entre as mamadas;
  • Bebês muito sonolentos que não acordam para mamar (sinal de hipoglicemia).

Em relação aos intervalos entre as mamadas, Raquel explica que o esperado é que um bebê em aleitamento materno exclusivo mame a cada duas horas e meia a três horas (durante a noite, o intervalo pode ser um pouco maior). 

Quando o bebê mama em intervalos muito curtos — de 40 minutos a uma hora, por exemplo — isso pode ser um sinal de alerta. Mas é preciso observar a situação: muitas vezes, o bebê quer o peito em intervalos menores não por fome, mas para matar a sede, ou para acalento. Nesses casos, costumam mamar um pouquinho e ficam relaxados. 

O alerta é quando demonstram estar com fome novamente nesse curto período de tempo.

“Esse bebê faz intervalos curtos e a gente vê que quando ele pede o peito de novo, depois de uma hora, 40 minutos, ele vem com fome para o peito, ele quer mamar mesmo, fazer alta extração de leite. Então ele mama um pouco, fica um pouco saciado, mas como ele não consegue fazer uma ingesta de um volume adequado de leite, ele vai mamando picado”, detalha.

 

O que fazer para aumentar a produção de leite

Algumas dicas importantes para ter mais leite incluem: 

  • Manter uma alimentação saudável, com variedade de alimentos;
  • Amamentar em livre demanda; 
  • Evitar o uso de bicos artificiais;
  • Hidratar-se bem, conforme o seu corpo pede.

Além das medidas mencionadas, a enfermeira comenta que existem alguns fármacos e substâncias naturais que estimulam a produção de leite, mas que sem o estímulo adequado da mama, têm pouca resposta.

De forma resumida, quanto mais a criança mamar, mais leite a mãe irá produzir. “Por isso, é fundamental amamentar a criança sempre que ela quiser. Mas para que a criança consiga retirar o leite com eficiência, é preciso que ela esteja mamando em uma boa posição e com a pega adequada”, orienta a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).

“Corrigir a pega e o posicionamento do bebê na mama ajuda na efetividade da mamada. Procurar ajuda de um profissional que trabalhe com amamentação desde o pré-natal para identificação de fatores de risco para baixa produção de leite e no pós-parto para avaliar todo processo de amamentação [também são medidas eficazes]. Tenha uma consultora para chamar de sua. Busque informação sempre”, indica Raquel. 

Além disso, também é possível buscar orientação nos bancos de leite, que são serviços especializados, ligados ao Ministério da Saúde, responsáveis pela promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno. Para buscar o banco de leite mais próximo, acesse o site da Rede de Bancos de Leite Humano

 

Uso de bombas extratoras

Segundo a especialista, uma das estratégias usadas pelos profissionais para o aumento da produção de leite é o uso da bomba extratora para tentar aumentar o estímulo da mama. “A bomba elétrica tem uma melhor resposta que a bomba manual devido à força de extração. Mas esse estímulo pode também ser feito manualmente”, afirma.

Porém, ela destaca que a bomba extratora não deve ser usada para mensurar a produção de leite, pois extrai leite apenas usando a pressão negativa (sucção), enquanto o bebê usa, além da sucção, o movimento da língua e da mandíbula para a extração de leite (pressão positiva), fazendo com que o volume de leite extraído seja muito maior que o da bomba. 

Ou seja, o estímulo do bebê será sempre a melhor opção. Mas a bomba pode auxiliar a manter a produção de leite em alguns casos, como, por exemplo, quando o bebê está na UTI neonatal e a mãe está impossibilitada de amamentá-lo, ou quando a mãe precisa retornar ao trabalho e fica muitas horas longe do bebê (com a extração da bomba, ela mantém o estímulo durante o período em que não pode amamentar). 

        Veja também: Bico do peito machucado? Saiba como cuidar dos mamilos

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