Sociedades médicas e Ministério da Saúde lançam recomendações para vacinação no RS

carro passa por rua alagada. Sociedades médicas indicam vacinação para vítimas das enchentes no RS.

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Publicado em: 16/05/2024

Revisado em: 17/05/2024

Sociedades médicas de infectologia e imunizações lançam recomendações para vacinação das vítimas das enchentes do Rio Grande do Sul. Leia na coluna de Mariana Varella.

 

As enchentes no Rio Grande do Sul (RS) já atingiram 441 dos 497 municípios do estado. Quase 2 milhões de pessoas já foram afetadas; dessas, 340 mil estão desalojadas.

Segundo o boletim da Defesa Civil divulgado no dia 10, as forças de segurança e voluntários conseguiram resgatar mais de 70 mil pessoas até o momento. São mais de 20 mil homens e mulheres mobilizados pelas Forças Armadas para conter os efeitos das enchentes que ainda devem continuar nos próximos dias.

Veja também: Doenças mais frequentes após o contato com a água de enchente

Assim, devido à exposição a água contaminada, moradores e socorristas estão em risco de contrair doenças e sofrer acidentes associados às enchentes.

“São doenças que podem ser contraídas pelo contato com a água contaminada e infecções respiratórias que podem ser adquiridas em abrigos e locais de aglomeração”, explica o infectologista Alessandro Pasqualotto, presidente da Sociedade Gaúcha de Infectologia (SGI).

O médico atende, juntamente com outros colegas da SGI, vítimas das enchentes em campo. “O sistema de saúde do Rio Grande do Sul praticamente se desfez”, diz.

Para evitar maiores danos, a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), a SGI e a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) lançaram, no dia 10, recomendações de imunizações indicadas para a população exposta a enchentes e as equipes de socorro e resgate.

O intuito do documento é garantir que crianças e adolescentes estejam protegidos contra doenças evitáveis por vacinação; reduzir a probabilidade de surtos de doenças evitáveis por vacinação em grandes aglomerações; orientar a imunização adequada para a prevenção de doença; e orientar e contribuir com os esforços das autoridades públicas na gestão e imunização de imunizantes nas equipes atuando em campo, para que trabalhem com segurança.

O documento observa, ainda, que para a vacinação de rotina durante os períodos de enchentes, crianças e adolescentes sem registro de vacinação devem ser tratados como se estivessem em dia com as vacinas e receber somente as doses indicadas de rotina para a sua idade atual. As famílias devem ser informadas sobre a necessidade de comparecer posteriormente a uma unidade de saúde para avaliação da carteira e da necessidade, ou não, de atualizar sua vacinação.

As gestantes devem receber as vacinas inativadas especialmente indicadas para pessoas deslocadas por desastres, desde que não contraindicadas para esse grupo.

 

Vacinas especialmente recomendadas em situações de enchentes

Além das vacinas administradas rotineiramente como parte dos programas de imunização à população em geral, as seguintes vacinas devem ser administradas a pessoas expostas, exceto se portarem documento com registro das doses realizadas (carteira de vacinação):

 

  1. Influenza 2024 e COVID-19

Quem vacinar: todas as pessoas com 6 meses de idade ou mais, exceto aquelas com contraindicações para as vacinas.

Justificativa: essas vacinas são importantes para evitar surtos em abrigos e devem ser recomendadas para todos. No entanto, ambas passam a ter sua eficácia cerca de duas semanas após sua aplicação e, portanto, outros cuidados, para mitigar a transmissão desses vírus respiratórios devem ser adotadas.

 

  1. Tríplice Viral (Sarampo, Rubéola, Caxumba)

Quem vacinar: todas as pessoas entre 12 meses e 59 anos de idade, exceto aquelas com contraindicações para essa vacina e as que tiverem registro documentado na carteira de vacinação de duas doses da vacina após o primeiro ano de vida.

Justificativa: vacinas são importantes para evitar surtos em abrigos e devem ser recomendadas para todos que não estejam vacinados pelo menos com 1 dose.

 

  1. Hepatite A

Quem vacinar: desde 2014, a vacina hepatite A é recomendada pelo PNI para todas as crianças aos 12 meses de idade (até os 5 anos, se ainda não vacinadas). Nos CRIEs, a vacina está disponível para pacientes imunodeprimidos, seja por doença ou tratamento, e para portadores de doenças crônicas especificadas. A vacina também é recomendada no país para controle de surtos demonstrando alta efetividade nesses cenários.

Recomendação em enchentes: devido ao risco de surtos durante e após períodos de enchentes, há um alto risco de exposição ao vírus da hepatite A no Rio Grande do Sul. Assim, as sociedades médicas recomendam, se disponível, a vacinação para os grupos de alto risco para as complicações expostos no documento.

 

  1. Tétano

Quem vacinar: adolescentes, adultos e idosos devem receber uma dose de reforço antitetânico se não tiverem sido vacinados contra o tétano nos últimos 5 anos ou sem a carteira de vacinação.

Justificativa: em situações de inundação, o contato com água e objetos contaminados pode aumentar o risco de feridas e cortes, aumentando o risco de tétano. Por isso, é importante assegurar que todos estejam com a vacinação antitetânica atualizada, especialmente se estiverem envolvidos em trabalhos de resgate, limpeza ou reconstrução.

 

  1. Raiva

Quem vacinar: a vacina antirrábica só deve ser usada para profilaxia pós-exposição em caso de acidente de risco para a raiva (por exemplo, após mordida de animal mamífero, inclusive cavalos e gado) ou exposição a morcego de acordo com as diretrizes do Ministério da Saúde. A prevenção pós-exposição pode incluir uma série de doses da vacina e uso de soro antirrábico heterólogo ou homólogo, a depender do tipo de acidente de risco, e deve ser instituída o mais brevemente possível.

Justificativa: em caso de desastres ambientais, resgates e a convivência com animais domésticos ou não, o risco de acidentes de risco para a raiva tem maior risco de ocorrer. O uso de imunizante contra a raiva não deve ser feito de rotina, nem mesmo para aqueles envolvidos nos regastes. Seu uso deve ser restrito para casos de acidentes de risco para a raiva, conforme protocolo usual para essa situação médica. Pessoas nessas situações de risco devem procurar imediatamente um serviço de saúde para avaliação. 

Além dessas vacinas, se possível, socorristas devem se imunizar também contra a hepatite B, por estarem potencialmente expostos a fluidos corporais, e febre tifoide.

Veja também: O que fazer em caso de mordida de animal doméstico? 

 

Ministério da Saúde

O Ministério da Saúde lançou, no dia 16, orientações sobre as ações de vacinação no estado do Rio Grande do Sul, durante o período da calamidade decorrente das inundações.

“Estas indicações visam, sobretudo, a proteção das pessoas que se encontram nos abrigos, em especial aquelas que tiveram contato com águas de enchentes, bem como profissionais, socorristas e voluntários que estão apoiando as ações de resgate e assistência no Rio Grande do Sul, a fim de minimizar o risco da ocorrência de doenças imunopreveníveis”, diz a nota.

As recomendações incluem as vacinas contra influenza, covid-19, tétano, hepatite A e raiva.

“Existiu uma discordância [entre o Ministério da Saúde e as sociedades médicas] sobre a indicação da vacina para hepatite A, o que deve ter sido motivado por estoque limitado. Frente à atual crise, entendemos que o melhor é aceitarmos a divergência, considerando que nossa posição já está publicada em nota técnica, e seguirmos trabalhando juntos, pois precisamos muito da união de esforços neste momento”, finaliza o dr. Pasqualotto.

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