Bactéria pode causar infecções ginecológicas nas mulheres e uretrites nos homens. Saiba quais são as recomendações a respeito da Mycoplasma genitalium.
No mês de julho de 2018, foram veiculadas na internet algumas notícias afirmando que a infecção causada pela bactéria Mycoplasma genitalium (MG) estava se alastrando pela Europa e deixando especialistas alarmados, já que apresentava resistência ao tratamento com alguns antibióticos. O aumento do número de infecções em alguns países europeus nos últimos anos, porém, tem relação com a dificuldade de um diagnóstico preciso e consequente tratamento da bactéria com o antibiótico inadequado.
Segundo o dr. Ricardo Vasconcelos, infectologista da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador médico do projeto PrEP Brasil, o diagnóstico preciso da infecção por MG é feito por meio de um exame chamado PCR, que consegue identificar o DNA da bactéria. “Esse exame não é facilmente encontrado em laboratórios de rotina, nem no Brasil nem no resto do mundo. Isso faz com que muitas vezes o diagnóstico não seja realizado e a infecção seja tratada equivocadamente como se fosse causada por uma bactéria mais frequente, como as que causam clamídia ou gonorreia”, explica.
Mesmo sem ter sintomas, uma pessoa pode ser portadora de uma IST e transmiti-la sem nem saber que tem. Por outro lado, se uma infecção dessas é diagnosticada, quando é feito o rastreamento, o tratamento e a cura resolvem a questão e quebram a cadeia de transmissão.
A Mycoplasma genitalium pode ser transmitida por via sexual (tanto por penetração quanto por sexo oral) e é responsável por uma pequena parcela dos quadros de uretrites em homens e infecções ginecológicas em mulheres, podendo causar sintomas como dor ou ardência ao urinar, dor durante a relação sexual, secreção na uretra (no caso dos homens) e corrimento (em mulheres). Mas ela também pode ser assintomática. Em casos graves e mais raros, a Mycoplasma genitalium pode provocar abortos e até infertilidade feminina, caso não sejam feitos diagnóstico e tratamento adequados. “Esse aumento do número de casos ainda não foi identificado no Brasil e por isso é importante desde já aumentar a vigilância para essa bactéria. Existem antibióticos disponíveis para o tratamento com sucesso do MG, mas para que continuem funcionando é preciso realizar o rastreamento e diagnóstico correto da bactéria, inclusive naquelas pessoas que são portadoras assintomáticas”, afirma o infectologista.
Prevenção
A camisinha ainda é o principal método para se prevenir das infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). Contudo, para o dr. Ricardo, a prevenção vai muito além do uso do preservativo. Para as pessoas que têm uma vida sexual ativa, principalmente aquelas que têm parceiros ou parceiras casuais, recomenda-se o rastreamento de infecções periodicamente. “Mesmo sem ter sintomas, uma pessoa pode ser portadora de uma IST e transmiti-la sem nem saber que tem. Por outro lado, se uma infecção dessas é diagnosticada, quando é feito o rastreamento, o tratamento e a cura resolvem a questão e quebram a cadeia de transmissão.”
Veja também: Entrevista sobre prevenção de IST com o dr. Ricardo Vasconcelos
No caso de ISTs que provocam sintomas como corrimentos e lesões como feridas e verrugas, o paciente deve buscar uma avaliação médica rapidamente para que sejam feitos o diagnóstico e o tratamento adequados. Também é importante avisar as pessoas com quem se relacionou recentemente para que se investigue a possibilidade de transmissão.
O infectologista indica ainda a manutenção da carteira de vacinação em dia, pois essa é uma forma de evitar a transmissão de doenças como o HPV e as hepatites A e B. “Por fim, é importante conhecer a sua vulnerabilidade à infecção por HIV para que se possa encontrar as estratégias de prevenção ao vírus que se encaixem no contexto de vida de cada um. Para isso, além da camisinha, dispomos também das profilaxias pré e pós-exposição.” Esses métodos são utilizados para prevenção do HIV e podem ser conhecidos com mais profundidade nesta entrevista.