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Gripe: ciclo de infecção, complicações e vacinação

Publicado em 17/06/2025
Revisado em 17/06/2025

A gripe pode causar complicações em pessoas mais velhas devido ao enfraquecimento do sistema imunológico.² Entenda a importância da vacinação. 

 

A gripe é uma infecção do sistema respiratório causada pelo vírus influenza. É uma das infecções mais frequentes em todo o mundo e se espalha com facilidade³, embora a maioria das pessoas consiga se recuperar por conta própria após uma semana de sintomas.

Veja os detalhes: 

  • Transmissão 

Segundo a Dra. Rosana Richtmann, infectologista do Instituto de Infectologia Emílio Ribas e diretora do Comitê de Imunização da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), o vírus influenza causa doença respiratória que pode afetar, em especial, o trato respiratório superior. A transmissão geralmente acontece quando uma pessoa infectada, por meio da tosse ou espirro, espalha no ar, gotículas que contêm o vírus e entram em contato com as mucosas (boca, olhos e nariz) de outra pessoa.³

Além disso, também é possível se infectar por meio do contato com superfícies contaminadas com o vírus. “Ele consegue sobreviver em algumas superfícies por horas, inclusive na mão, caso não sejam higienizadas. É muito importante que a pessoa infectada, e mesmo aquela que não queira se contaminar, tenha o hábito de higienizar não só o ambiente, mas principalmente as mãos”³, explica a médica. 

  • Replicação viral  

A especialista detalha como o vírus se replica ao infectar uma pessoa: “O vírus entra nas nossas mucosas, e tem uma proteína na superfície do vírus, que é a hemaglutinina, que se liga a alguns receptores que estão na superfície das nossas células, que a gente chama de receptores do ácido siálico. Então, ele entra através desses receptores nas nossas células do trato respiratório e usa as nossas células para poder se replicar e fazer com que o seu material genético consiga, inclusive, contaminar outras células vizinhas, causando a doença. E também essa replicação viral faz com que você consiga transmitir o vírus para outras pessoas.”

        Veja também: Por que a gripe é mais comum no inverno | Animação #05

  • Período de incubação

O período de incubação – ou seja, tempo entre se infectar e começar a ter sintomas – é muito curto no caso da gripe, segundo a Dra. Rosana. “Nós estamos falando de [um período de] um a quatro dias, e às vezes você tem o contato um dia, e no dia seguinte você já pode começar com os sintomas, e isso é muito importante por causa de contaminação e disseminação. Às vezes, pessoas mesmo antes de começar a ter o quadro clínico, por ter essa replicação viral, já estão transmitindo [a doença]”, alerta.  

  • Sintomas 

A partir desse mecanismo de proliferação do vírus no trato respiratório superior, o corpo gera uma resposta inflamatória que resulta em sintomas como congestão nasal, tosse, dor de cabeça, dores no corpo, mal-estar e principalmente febre, que em geral aparece de maneira abrupta.

“O que chama muito a atenção no vírus influenza, do ponto de vista clínico, é que ele habitualmente [causa um quadro que se] inicia com febre alta. Agora que vai chegar a época do outono-inverno, uma pessoa que começa com o quadro clínico de moleza no corpo e principalmente início abrupto de febre, nós temos que pensar na possibilidade de influenza e já tomar as medidas, tanto de terapêutica quanto de isolamento, próprias para o vírus”, diz a infectologista.

  • Tempo de transmissibilidade

O tempo em que uma pessoa infectada transmite o vírus varia entre adultos e crianças. “No adulto, o tempo de transmissibilidade do vírus influenza ocorre, em geral, nos primeiros 3 dias da doença. Já o vírus pode ser detectado entre 5 e 7 dias.⁶ Na criança, esse tempo é um pouco prolongado, então, em geral, a gente acaba deixando a criança em condições de isolamento por um período um pouco maior, de até dez dias”, diz ela.  

Riscos aumentam com o envelhecimento 

O envelhecimento natural do sistema imunológico – chamado de imunossenescência – faz com que as pessoas mais velhas fiquem mais vulneráveis à doença e respondam pior, do ponto de vista imune, à infecção do vírus², conforme explica a médica. 

“Por outro lado, essas mesmas pessoas que são mais vulneráveis também respondem pior às vacinas. Então, hoje nós temos vacinas específicas, vacinas para a população 60+, para estimular mais a resposta imune.”  

A complicação mais comum entre os idosos são complicações respiratórias baixas (do trato respiratório inferior), como pneumonia. “Não é nada incomum a pessoa, depois de ter um quadro de gripe, acabar tendo uma complicação com uma pneumonia bacteriana. Existe um sinergismo, uma interação entre o vírus e algumas bactérias”, afirma.

        Veja também: Por que a gripe pode ser tão perigosa?

Importância da vacinação contra a gripe 

O melhor método de prevenção contra a gripe é a vacinação. “A vacina da rede pública e privada contém três tipos de cepas, dois influenza A e um influenza B, por isso que a gente chama ela de trivalente, e são vacinas que são feitas a partir de laboratórios sentinelas que informam a Organização Mundial de Saúde quais vírus circularam no momento para compor a vacina. Essa vacina é atualizada todo ano, daí a necessidade de nos vacinarmos uma vez por ano”³, explica a Dra. Rosana. 

A médica esclarece ainda que a proteção da vacina dura em torno de seis meses, o que coincide com o período em que o vírus tem maior circulação. Porém, uma pessoa que viaja do Hemisfério Sul, onde está o Brasil, para o Hemisfério Norte, em uma outra época em que haja maior circulação de influenza por lá, pode, eventualmente, tomar uma segunda dose para estar protegida antes de viajar.

“De uma maneira geral, as populações de maior risco devem ser vacinadas anualmente, mas eu diria que praticamente todos nós devemos, independente do risco, atualizar a nossa vacinação anual”³, completa. 

O SUS disponibiliza a vacina trivalente para grupos prioritários, que geralmente incluem crianças de 6 meses até 6 anos de idade, gestantes e puérperas, idosos, povos indígenas, pessoas com deficiência, profissionais da saúde, entre outros. Na rede privada, também é possível encontrar a vacina quadrivalente (com duas cepas de vírus A e duas cepas de vírus B) para pessoas a partir dos 6 meses.³

Vacina de alta dosagem

No Brasil, as vacinas disponíveis contra a gripe são atualizadas anualmente para proteger a população contra os subtipos do vírus em maior circulação. Existem três tipos: a trivalente de dose padrão, a quadrivalente de dose padrão e a quadrivalente de alta dose. O imunizante de alta dose é destinado a quem tem mais de 60 anos e possui uma quantidade maior de antígenos, ou seja, de substâncias que estimulam a resposta imune. Essa é uma maneira de intensificar a reação imunológica, que, como eu falei, costuma ser mais fraca entre os idosos.

O importante mesmo é manter em dia a vacinação contra a gripe. Se você faz parte dos grupos vulneráveis, converse com o seu médico e considere se vacinar.

        Veja também: Especialista responde 6 perguntas sobre a gripe

Conteúdo produzido em parceria com a farmacêutica Sanofi. 

Referências: 

  1. Warren-Gash C, Blackburn R, Whitaker H, McMenamin J, Hayward AC. Laboratory- confirmed respiratory infections as triggers for acute myocardial infarction and stroke: a self-controlled case series analysis of national linked datasets from Scotland. European Respiratory Journal [Internet]. 2018 Mar 1;51(3).[Acesso em 14 Fev 2025]. Disponível em: https://erj.ersjournals.com/content/51/3/1701794
  2. Gavazzi G. et al. The Lancet Infectious Diseases; 2002: 2(11), 659-666
  3. Gripe Influenza. [Acesso em 16 de Fev de 2025] Disponível em https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/g/gripe-influenza
  4. Byrd-Leotis L, Cummings RD, Steinhauer DA. The Interplay between the Host Receptor and Influenza Virus Hemagglutinin and Neuraminidase. International Journal of Molecular Sciences. 2017 Jul 17;18(7):1541.
  5. WHO Influenza Seasonal. [Acesso em 20 de Março de 2025] Disponível em: https://www.who.int/en/news-room/fact-sheets/detail/influenza-(seasonal)
  6. How Flu Spreads [Acesso em 20 de Março de 2025] Disponível em: http://medbox.iiab.me/modules/en-cdc/www.cdc.gov/flu/about/disease/spread.htm
  7. Lee JKH, Lam GKL, Yin JK, Loiacono MM, Samson SI. High-dose influenza vaccine in older adults by age and seasonal characteristics: Systematic review and meta-analysis update. Vaccine: X [Internet]. [Acesso em 15 Fev 2025];14:100327. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2590136223000682?via%3Dihub
  8. Garg S, Jain S, Dawood FS, Jhung M, Pérez A, D’Mello T, et al. Pneumonia among adults hospitalized with laboratory-confirmed seasonal influenza virus infection—United States, 2005–2008. BMC Infectious Diseases. [Acesso em 15 Fev 2025]. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4550040/
  9. Chang LJ, Meng Y, Janosczyk H, Landolfi V, Talbot HK. Safety and immunogenicity of high-dose quadrivalent influenza vaccine in adults ≥65 years of age: A phase 3 randomized clinical trial. Vaccine. 2019 Sep;37(39):5825–34. [Acesso em 24 Out 2023]. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/31431411

MAT-BR-2501060 – Junho/2025

Ilustrações: Tainá Ferrari Wagner

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