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Infectologia

Dengue Sorotipo 3: entenda por que ela pode ser a responsável pelo aumento de casos no país em 2025

Publicado em 17/02/2025
Revisado em 17/02/2025

Após um recorde histórico de infecções em 2024, órgãos de saúde buscam alternativas para conter a propagação da dengue, em especial a variante conhecida como DENV-3, o sorotipo 3, que não circulava no país desde 2008. 

 

Verão, clima tropical e uma preocupação recorrente: como conter a dengue? Em 2024, o Brasil registrou números alarmantes, ultrapassando 6,6 milhões de casos e 6.041 mortes, um aumento de 400% em relação a 2023, quando foram registrados 1.179 óbitos. 

Para 2025, a perspectiva não é otimista. Mudanças climáticas, políticas públicas insuficientes e ambientes propícios à proliferação do mosquito agora se somam ao retorno do sorotipo DENV-3, ausente do território brasileiro por mais de uma década. Entenda os impactos dessa variante, que se tornou uma das principais preocupações em saúde pública.



Após recorde de 2024, números podem aumentar em 2025

O primeiro mês de 2025 registrou 170.376 casos prováveis de dengue no Brasil, além de 38 mortes confirmadas e 201 óbitos em investigação, segundo o Painel de Monitoramento de Arboviroses do Ministério da Saúde. O Governo Federal já reconhece que a maior circulação do sorotipo 3 (DENV-3) é um dos fatores determinantes para a escalada de casos.

        Veja também: 15 dúvidas sobre a vacina contra a dengue



Por que a atenção se volta para o DENV-3?

A dengue possui quatro sorotipos distintos – DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4 –, todos capazes de causar desde infecções assintomáticas até formas graves da doença. Cada sorotipo é independente, ou seja, uma infecção por um deles não confere imunidade contra os demais. Esse é um dos principais desafios para as autoridades sanitárias, pois uma pessoa pode ser infectada até quatro vezes ao longo da vida, aumentando o risco de manifestações mais severas.

Como o DENV-3 teve circulação reduzida no Brasil desde 2008, grande parte da população nunca foi exposta a essa variante, o que facilita sua disseminação e, consequentemente, o crescimento do número de casos.

“Quando uma pessoa contrai dengue tipo 2, por exemplo, seu organismo desenvolve anticorpos e uma resposta imune específica apenas contra esse sorotipo. Isso gera dois problemas: primeiro, a vulnerabilidade à infecção pelos outros três sorotipos; segundo, uma maior probabilidade de quadros graves em novas infecções. Isso ocorre porque o sistema imunológico ‘lembra’ do sorotipo anterior e produz anticorpos contra ele, mas esses não são eficazes contra os demais, gerando uma inflamação exacerbada”, explica Alexandre Naime Barbosa, infectologista, chefe do Departamento de Infectologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e coordenador científico da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI). “É como se o organismo colocasse muita energia para criar um míssil poderoso, mas incapaz de atingir o alvo correto”, complementa.

Os sintomas da dengue são semelhantes

Independentemente do sorotipo, os sintomas da dengue são semelhantes. Muitas infecções podem ser assintomáticas ou manifestar apenas sinais leves. No entanto, é importante ficar atento à febre alta repentina, entre 39°C e 40°C, acompanhada de pelo menos dois dos seguintes sintomas: dor de cabeça intensa, dor atrás dos olhos, dores musculares e articulares, náusea, vômito e manchas vermelhas na pele.

Nos casos graves, após a fase febril, podem surgir sintomas como dor abdominal intensa, vômitos persistentes, sangramento de mucosas e hemorragias.

        Veja também: Como identificar a dengue grave?

 

Quando procurar atendimento médico?

Se houver suspeita de dengue, é fundamental buscar atendimento médico para um diagnóstico preciso e o tratamento adequado. Não tome qualquer remédio: a automedicação pode agravar os sintomas, pois alguns medicamentos aumentam o risco de hemorragias. Apenas um profissional pode indicar a hidratação correta, calculada de acordo com o peso do paciente, e prescrever analgésicos seguros para aliviar os sintomas. “Buscar assistência médica logo nos primeiros sinais da doença é essencial. Quando o manejo clínico é feito nos estágios iniciais, a taxa de mortalidade se aproxima de zero. O diagnóstico precoce salva vidas”, ressalta o dr. Barbosa.

Medidas adotadas pelo Governo Federal e Ministério da Saúde

Diante do aumento expressivo de casos desde o ano passado, o Governo Federal intensificou ações de combate à dengue, destinando R$ 1,5 bilhão para medidas emergenciais. Entre elas, destaca-se a ativação do Centro de Operações de Emergência (COE), responsável por coordenar estratégias preventivas e fortalecer a capacidade de resposta do sistema de saúde. Além disso, foi implementado o Plano Nacional de Contingência, que adapta estratégias regionais conforme a realidade epidemiológica de cada estado, com destaque para São Paulo, que concentrou cerca de 32% dos casos em 2024, além de Amapá, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Tocantins, Mato Grosso do Sul e Paraná, que também registraram altos índices de infecção.

Ainda dentro do plano de enfrentamento, o Ministério da Saúde está usando tecnologias recentes, como a expansão do método Wolbachia, que libera mosquitos Aedes aegypti com a bactéria Wolbachia e impede que os vírus da dengue se desenvolvam dentro dele. 

A ideia é que esses mosquitos se reproduzam com os Aedes aegypti locais, estabelecendo, aos poucos, uma nova população dos mosquitos, todos com Wolbachia. O método foi utilizado em testes na cidade de Niterói (RJ) desde 2015, com redução de 69,4% dos casos de dengue, 56,3% dos casos de chikungunya e 37% dos casos de Zika, segundo o Ministério da Saúde.

        Veja também: Bactéria Wolbachia inibe transmissão de dengue e outras arboviroses

 

Vacinação contra a dengue

Embora as doses disponíveis ainda sejam limitadas, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece a vacina gratuitamente para jovens entre 10 e 14 anos, faixa etária que concentra a maior parte das hospitalizações pela doença. No setor privado, a imunização está disponível para pessoas de 4 a 60 anos, sem necessidade de prescrição médica. Para indivíduos acima de 60 anos, a vacinação só é permitida mediante recomendação médica.

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