Os repelentes são capazes de desorientar os mosquitos e impedir a transmissão de doenças, mas não substituem ações coletivas de prevenção. Saiba mais.
“Use repelente.” Essa é uma frase que você já deve estar cansado de ouvir.
Os repelentes agem como uma ferramenta de proteção individual que funciona não só contra o mosquito da dengue, doença que já ultrapassa 5 milhões de casos prováveis e mais de 3 mil mortes no Brasil apenas em 2024. Diversos outros insetos, entre as mais de 2.500 espécies espalhadas pelo mundo, também ficam longe de quem os utiliza. Mas, afinal, como esses produtos mantêm os insetos afastados?
Mosquitos ficam desorientados
Falando especificamente das fêmeas do Aedes aegypti, transmissor da dengue, acontece assim: para produzir ovos, elas precisam da albumina, uma proteína presente no sangue humano.
Nessa busca, os mosquitos usam suas antenas e outras partes do corpo que contenham células quimiorreceptoras. Essas células são atraídas pelo odor do suor e de outras substâncias químicas da pele, além do dióxido de carbono (CO2) presente no nosso hálito. Aí, vão ao ataque: a picada.
Porém, quando o indivíduo está usando repelente ou há algum modelo elétrico por perto, como no caso daqueles que são colocados na tomada, os mosquitos ficam desorientados. Isso porque os componentes do produto entopem os poros das antenas, bloqueando os receptores e impedindo que o inseto rastreie a pessoa que iria picar.
“O repelente não chega a provocar a morte do inseto, mas promove esse efeito de irritação, fazendo com que ele não permaneça mais no local. Ele não vai ficar próximo e não vai desferir picadas naquela pessoa”, explica Sérgio Bocalini, biólogo e vice-presidente executivo da Associação dos Controladores de Vetores e Pragas Urbanas (Aprag).
Composição dos repelentes
Os repelentes que possuem autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para comercialização no Brasil são compostos por três substâncias:
- Icaridina: vem de um derivado da pimenta e é a forma mais eficaz de proteção contra os insetos. A icaridina protege por até dez horas e não irrita a pele. Ela pode ser utilizada a partir dos dois anos de idade — antes disso, deve ser usada em uma versão específica;
- DEET (N N-DIETILMETATOLUAMIDA): é a substância mais utilizada nos repelentes. Quando presente em uma concentração de 10% a 15% da composição total do produto, tem efeito de quatro a oito horas. No entanto, não é indicada para pessoas com pele sensível, nem para crianças de até dois anos de idade. Até os sete, só são permitidas formulações com até 9% de DEET na composição;
- IR3535: é o único componente indicado para crianças menores, a partir dos seis meses de idade, e protege por até quatro horas.
De forma geral, o Ministério da Saúde não indica preferência entre eles para a prevenção contra o mosquito da dengue. Todas cumprem a função de afastar o inseto.
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Repelente de corpo ou de ambiente?
Ainda que possuam composições semelhantes, os repelentes podem ser aplicados em dois formatos principais: passando na pele ou inserindo no ambiente. Ambos devem ser reaplicados ou trocados de acordo com as orientações no rótulo do produto.
De pele
Os de pele podem ser encontrados tanto em creme quanto em spray. O funcionamento depende da sua evaporação após o contato com a pele. Por isso, a dica é passar em áreas descobertas por cima da roupa. No rosto, o ideal é aplicar na mão e depois espalhar, evitando o contato com os olhos e lembrando de depois lavar as mãos com água e sabão.
“Todos têm que ser liberados pelo Ministério da Saúde, porque como a gente vai passar na superfície do corpo, são classificados como cosméticos. São necessários vários estudos para não provocar nenhum prejuízo à pessoa durante e após a aplicação”, destaca Sérgio.
De ambiente
Já os de ambiente incluem repelentes líquidos, em formato de espiral ou de pastilhas, que são colocados na tomada. Ou seja, o aparelho produz calor, o que faz com que a composição evapore e comece a agir. É recomendado que ele seja colocado em locais de até 10m² e com boa circulação de ar.
“Quando for aplicar, é preferível que a pessoa não o faça no momento de dormir. Se for o caso, tem que ficar a uma distância de, pelo menos, uns 2 metros da cabeceira da cama, para a pessoa não ficar respirando o produto que está sendo liberado, senão ela pode ter alguns problemas de intoxicação”, alerta o biólogo.
Repelentes caseiros funcionam?
Repelentes e inseticidas “naturais” à base de citronela, andiroba, óleo de cravo, eucalipto-limão, entre outros princípios ativos, não possuem comprovação de eficácia e são contraindicados pela Anvisa — sejam eles em velas, odorizantes, limpadores ou incensos. Aparelhos que prometem a expulsão dos insetos a partir da emissão de sons, vibrações, CO2 ou luz também não são regulamentados pela agência.
“A gente até sabe que algumas plantas produzem substâncias que podem ter essa ação, mas desaconselhamos o uso dos repelentes caseiros, porque a pessoa pode ter um processo alérgico ou alguma complicação frente àquele produto. A indicação é utilizar os repelentes registrados pelo Ministério da Saúde, porque essa é a garantia de que eles foram testados e podem ser utilizados sem comprometer a saúde das pessoas”, afirma o vice-presidente da Aprag.
Outras medidas de prevenção
Ainda que seja uma boa maneira individual de se proteger contra mosquitos transmissores de doenças, no caso da dengue, os esforços coletivos também se fazem necessários para evitar a propagação do vetor:
- Vedar e remover locais que possam acumular água parada;
- Usar telas nas janelas em áreas de maior transmissão;
- Tomar a vacina, caso ela já esteja liberada para a sua faixa etária;
- Participar das ações de prevenção e controle da dengue realizadas na sua região.
“Nesse momento de transmissão do vírus da dengue, o uso dos repelentes deve ser feito de forma rotineira na vida das pessoas para evitar que o mosquito consiga desferir as picadas. E não só para a dengue, mas também para outras doenças que estão associadas a mosquitos, como chikungunya, Zika vírus e febre amarela. Para evitar todas essas outras doenças, é importante o uso dos repelentes, sim”, lembra Sérgio.
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