“Este medicamento é contraindicado em caso de suspeita de dengue”: entenda o risco da automedicação em caso de dengue e por que o aviso que você ouve nos comerciais deve ser levado a sério.
Febre, dores pelo corpo, mal-estar, falta de apetite. Esses são alguns dos sintomas da dengue que podem facilmente ser confundidos com problemas corriqueiros. É nessa confusão que muita gente recorre a um hábito perigoso: a automedicação.
Mas, se você reparar nas propagandas de remédios, vai perceber que a maioria delas termina com um aviso: “Esse medicamento é contraindicado em caso de suspeita de dengue”. O alerta não é mera formalidade. O uso sem prescrição médica de alguns medicamentos, além de não funcionar contra a dengue, pode ainda agravar a doença.
Como é feito o tratamento da dengue?
De acordo com o dr. Álvaro Pulchinelli, presidente da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML), o tratamento para a dengue é basicamente sintomático. Isso quer dizer que não existe um remédio que atue especificamente contra o vírus da dengue, mas, sim, contra os seus sintomas. “A preocupação é conter e combater os efeitos que a própria evolução da doença causa, como febre, dor e mal-estar”, explica o toxicologista.
Entre os poucos medicamentos prescritos para esses casos, estão a dipirona e o paracetamol. Ambos atuam como analgésicos (alívio de dores) e antitérmicos (alívio de febres), mas não oferecem os riscos de outros anti-inflamatórios, como veremos a seguir.
Por que a automedicação é perigosa em caso de suspeita de dengue?
A automedicação é temerária em qualquer doença. Mas, segundo o dr. Álvaro, no caso da dengue, existe um problema a mais.
É que um dos efeitos da doença no organismo é a diminuição das plaquetas no sangue, estruturas responsáveis pela coagulação, um processo essencial para a reparação de vasos, contenção de hemorragias e cicatrização de feridas. Além, é claro, de provocar os sintomas já citados, como febre, dores musculares, mal-estar, entre outros.
Acontece que muitos dos medicamentos utilizados cotidianamente para amenizar esses sintomas também interferem na coagulação, “afinando” o sangue. É o caso, por exemplo, da aspirina e do AAS.
A aspirina, com o objetivo de aliviar as dores, impede que as células do organismo produzam prostaglandinas. As prostaglandinas, além de terem um papel fundamental na percepção da dor, também atuam na formação dos coágulos. Portanto, quando não são produzidas, esse processo fica comprometido.
“Então, se a coagulação já está prejudicada por causa da doença e nós tomamos um medicamento que a altera ainda mais, a chance de termos um quadro hemorrágico, que cause uma perda sanguínea importante, é maior”, explica o dr. Álvaro.
Se essa perda estiver relacionada a um ferimento visível, é possível procurar ajuda médica e contê-la rapidamente. O problema é se ela acontecer internamente, como no tubo digestivo, no trato urinário ou até mesmo no sistema nervoso central, causando um AVC. Aí, os danos são maiores e pode ser que o próprio paciente demore a perceber que algo está errado.
Outros medicamentos dentro da classe dos anti-inflamatórios também são contraindicados, assim como os corticoides e a ivermectina, cuja suposta indicação para a dengue surgiu através de uma fake news na internet.
“Por que as pessoas caem na tentação de usar um medicamento desses? Porque os anti-inflamatórios inibem toda uma cascata de reações no organismo. Com isso, em tese, [esses medicamentos] teriam uma ação mais potente contra os sintomas. Por outro lado, o risco de sangramento é tão grande, que a gente contraindica de forma absoluta”, alerta o toxicologista.
Em casos raros, a automedicação pode ser fatal. A própria dengue pode ter um curso de evolução grave em algumas pessoas. Associado ao uso de medicamentos contraindicados, então, o perigo se potencializa.
O que fazer em caso de suspeita da doença?
Portanto, se você estiver sentindo um dos sintomas da dengue, é fundamental procurar assistência médica. Somente o profissional de saúde será capaz de avaliar o seu caso. Se a doença for confirmada, em quadros mais leves, as recomendações envolvem ficar em repouso, seguir as orientações médicas e hidratar-se bem. Já nos quadros mais severos, pode ser necessária a internação.
Após o diagnóstico, dois exames são indicados:
- Teste sorológico: importante para confirmar a infecção, deve ser feito a partir do 6° dia de sintoma e é útil tanto do ponto de vista epidemiológico quanto para avaliar a evolução do quadro;
- Hemograma: avalia a contagem das plaquetas, portanto esse exame pode dar indícios de uma evolução desfavorável, auxiliando na prevenção e tratamento de problemas mais graves.
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