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Entenda por que nem sempre o rastreamento do câncer de próstata é indicado

Rastreamento de câncer de próstata pode não ser indicado para todos os indivíduos. Antes, é preciso considerar idade, raça, histórico familiar, entre outros fatores.
Publicado em 27/11/2017
Revisado em 15/09/2021

Rastreamento de câncer de próstata pode não ser indicado para todos os indivíduos. Antes, é preciso considerar idade, raça, histórico familiar, entre outros fatores.

 

No Brasil, um homem morre a cada 38 minutos devido ao câncer de próstata, segundo os dados mais recentes de mortalidade do Instituto Nacional de Câncer, o Inca (13.772 casos/ano). A doença é o tipo de câncer mais incidente no público masculino, ficando atrás somente do câncer de pele não melanoma (que em geral causa menos alarde por sua baixa taxa de mortalidade).

Como o câncer de próstata não causa sintomas claros e específicos em sua fase inicial, muitos podem pensar: Por que o governo não faz um programa de rastreamento em todos os homens para detectar a doença precocemente, como acontece com as campanhas de conscientização de câncer de mama?

Rastreamento universal, segundo o Inca, significa realizar exames em indivíduos saudáveis, sem sinais ou sintomas da doença, com o objetivo de detectar o câncer em fase inicial, o que, de maneira geral, aumenta a chance de tratamentos bem sucedidos. Um rastreamento estaria configurado, por exemplo, ao se incentivar que homens a partir dos 40 anos fizessem, indiscriminadamente, o PSA e o exame de toque retal. Porém, no Brasil, a cada 10 homens diagnosticados com o tumor, nove têm mais de 55 anos. Então a saída seria manter o rastreamento, alterando a  idade para 55 anos, certo? A resposta não é tão simples.

O rastramento pode não ser indicado para todos os indivíduos. Para avaliar o quão benéfico seria realizar o rastreamento, é necessário considerar a idade, mas também outros fatores relevantes, como raça (o tumor acomete mais negros do que brancos), histórico familiar e características específicas dos tumores de próstata. Em muitos casos, por exemplo, o PSA e o exame de toque retal podem detectar um tumor de próstata de progressão tão lenta que a indicação seria não realizar nenhum tratamento. No entanto, após confirmadas alterações nesses exames, o paciente muitas vezes é submetido à biópsia, procedimento com potencial de infecções que pode demandar tratamentos extras, sem contar o risco de ser eventualmente submetido a cirurgias desnecessárias. Portanto, tanto a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) quanto o Inca estabelecem que é importante individualizar a abordagem terapêutica, embora o Inca não recomende a prática de programas de rastreamento de indivíduos sem sinais ou sintomas da doença.

Já a SBU lançou nota a respeito, em que afirma: “A Sociedade Brasileira de Urologia mantém sua recomendação de que homens a partir de 50 anos devem procurar um profissional especializado, para avaliação individualizada. Aqueles da raça negra ou com parentes de primeiro grau com câncer de próstata devem começar aos 45 anos. O rastreamento deverá ser realizado após ampla discussão de riscos e potenciais benefícios. Após os 75 anos, poderá ser realizado apenas para aqueles com expectativa de vida acima de 10 anos”.

 

Veja também: Exame de toque e PSA: fazer ou não fazer?

 

“O câncer de próstata, na grande maioria dos casos, é um tumor de evolução lenta. Cerca de 40% das condutas adotadas é a da vigilância ativa, em que o homem diagnosticado é apenas observado, para fazer o acompanhamento com a finalidade de retardar o início de tratamentos mais agressivos. Portanto, ele deve retornar ao consultório a partir de uma periodicidade pré-estabelecida, para realizar exames e acompanhar o crescimento do câncer”, explica o urologista Geraldo Faria, coordenador do Novembro Azul da SBU.

O critério de Gleason, que, somado aos exames de toque retal e de dosagem do PSA, compõe os três principais parâmetros para que o oncologista decida qual o tratamento indicado para cada paciente de câncer de próstata, foi criado na década de 1960 pelo médico americano Donald Gleason, e desde então já foi modificado três vezes para manter-se atualizado em relação à evolução no diagnóstico e tratamento da doença. Atualmente o grau de Gleason varia de 6 até 10. “Tumores de grau 6 são os mais encontrados, mas, felizmente, os menos agressivos. Tumores com Gleason 7 têm agressividade mais alta, e aqueles com Gleason 8, 9 ou 10 são os mais agressivos e necessitam de tratamentos intensivos”, complementa Faria.

O tratamento definitivo deve ser indicado se houver progressão da doença em pacientes com expectativa de vida maior que 10 anos, poupando indivíduos que tenham tumores “indolentes” (de progressão lenta) dos efeitos indesejáveis do tratamento.

Portanto, se você está lendo esta matéria e é homem, o recado é para você. Normalmente,  o risco de mutação nas células prostáticas aumenta após os 50 anos. Para negros ou quem tem histórico familiar (pais, avós ou tios com a doença), o cuidado deve começar antes, aos 45 anos. Se você tem acesso a plano de saúde, é importante conversar com um médico especialista (urologista) para que ele verifique a necessidade de se realizar o exame de toque e a dosagem de PSA e com qual idade e periodicidade.

Se você é usuário do SUS, o primeiro passo é ir à UBS (Unidade Básica de Saúde) mais próxima da sua casa para agendar uma consulta com um  clínico geral. Converse com ele sobre essa questão, pois esse especialista tem autorização para realizar o exame de toque retal (procedimento que dura menos que 15 segundos) e solicitar um exame de sangue para medir o PSA. Se ao realizar o exame for observado algo suspeito, ele pode encaminhá-lo a um urologista. Lembre-se: são frequentes os casos de pacientes que chegam a uma consulta com o especialista sem ter realizado os exames previamente requisitados. Alguns até fazem os exames, mas não vão buscar os resultados, e acabam desperdiçando a consulta com o urologista. Fique atento, mantenha tudo organizado para o dia da consulta.

Uma das principais reclamações de quem utiliza os serviços de saúde públicos é a demora para conseguir um encaminhamento. Realmente, dependendo da região do Brasil, a espera pode ultrapassar meses, mas há meios para ter seu direito atendido. O Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) listou os principais órgãos para a solução das situações indesejadas pelas quais os usuários do SUS podem passar e, quando possível, os endereços que poderão ajudá-lo a localizar os responsáveis nos estados e municípios. Há inclusive modelos de cartas, representações ao Ministério Público e ações judiciais para facilitar a reivindicação do seu direito. Acesse aqui.

Em São Paulo, há o Centro de Referência especializado em saúde do homem, que recebe pacientes encaminhados pelas UBS. Além disso, no estado de São Paulo há um programa da Secretaria de Saúde que oferece check-up gratuito para homens a partir dos 50 anos de idade, sem necessidade de encaminhamento médico, com foco nas especialidades de cardiologia e urologia. Para fazer o check-up, basta ligar para o telefone 0800-779-0000 e fornecer os dados pessoais. O agendamento deve ser feito pelo próprio paciente, por telefone, no mês de seu aniversário.

  • Colaboraram nesta matéria: Luana Viana, Rafael Machado e Runan Braz.
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