Tire as suas dúvidas sobre quem pode ou não doar sangue e como é feita a doação de sangue.
A doação de sangue é um hábito simples, rápido e que pode ajudar muitas pessoas. Joanna Leal, hematologista em Salvador, Bahia, responde às principais perguntas sobre o assunto.
1. Quem pode doar sangue?
De forma geral, qualquer pessoa entre 18 e 69 anos que pese mais do que 50 kg e esteja em boas condições de saúde pode realizar a doação.
2. Quem não pode fazer a doação de sangue?
Em relação à idade, menores não podem doar. Entre 16 e 18 anos, eles precisam de uma avaliação e da autorização expressa dos responsáveis.
Já pessoas acima dos 61 anos só estarão aptas a doar se já tiverem feito a primeira doação antes dos 60. “É um cuidado geral, porque, a partir dessa idade, há um risco maior de doenças cardiovasculares”, explica a dra. Joanna.
O doador também precisa pesar mais do que 50 kg, a fim reduzir o risco de mal-estar ou hipoxemia (falta de oxigenação do sangue). “Tem que ter segurança tanto para quem doa quanto para quem recebe, por isso a gente acaba sendo bastante rigoroso”, pontua a especialista.
Outras restrições estão relacionadas a doenças, quadros infecciosos e algumas condições. Você não poderá doar se:
- tiver anemia;
- tiver hipertensão ou hipotensão arterial;
- apresentar aumento ou diminuição dos batimentos cardíacos no momento da doação;
- estiver com febre ou sintomas de resfriado ou gripe no dia da doação;
- estiver grávida;
- estiver amamentando, a não ser que o parto tenha acontecido há mais de 12 meses;
- tiver diabetes com complicações vasculares ou com o uso de insulina;
- apresentar ou já tiver apresentado um teste positivo para HIV;
- tiver problemas graves no pulmão, coração, rins ou fígado;
- apresentar problemas de coagulação de sangue;
- tiver doença de Chagas;
- tiver doença de Parkinson;
- tiver algum tipo de câncer;
- tiver tuberculose extrapulmonar;
- estiver com alguma doença que gere inimputabilidade jurídica;
Você também não poderá doar se já tiver:
- tido malária;
- tido filariose linfática (elefantíase);
- tido hanseníase;
- tido leishmaniose visceral (calazar);
- tido leishmaniose tegumentar ou cutânea;
- tido brucelose;
- tido esquistossomose hepatoesplênica;
- tido hepatite depois dos 11 anos de idade;
- recebido enxerto de duramater;
- sido submetido a um transplante de órgãos ou de medula.
No caso de sintomas de gripe ou resfriado, a pessoa poderá doar depois de 7 a 10 dias que estiver assintomática. O uso de medicamentos específicos também é causa de inaptidão, como antibióticos, quimioterápicos e anticoagulantes. Além disso, quem realizou cirurgias recentemente pode precisar esperar para doar. O tempo varia de caso a caso.
Se você tiver dúvida se pode ou não ser um doador, entre em contato com o banco de sangue da sua região.
3. Pode doar sangue depois de fazer tatuagem?
A indicação é esperar 12 meses para doar após realizar tatuagem, maquiagem definitiva ou micropigmentação. “É uma regra generalizada. Mesmo sabendo que, hoje em dia, os profissionais são muito mais rigorosos em relação aos cuidados com o material e a higiene, não temos como garantir as condições do local em que o procedimento foi feito”, explica a dra. Joanna.
No caso de piercings na cavidade oral ou genital, só é permitido doar após 12 meses da retirada do acessório, já que há um risco permanente de infecção.
Veja também: Como cuidar de piercings e tatuagens?
4. Pessoas LBTQIAP+ podem fazer doação de sangue?
Até 2020, existia uma regra no Brasil que impedia homens que faziam sexo com outros homens de realizar a doação. No entanto, essa medida foi alterada pelo Superior Tribunal Federal.
Atualmente, a contraindicação está relacionada a comportamentos de risco, independentemente da orientação sexual. É uma forma de avaliar se a pessoa esteve exposta a situações com um risco maior que o habitual de adquirir infecções sexualmente transmissíveis. “Por exemplo, se a pessoa tem mais de um parceiro ao longo do ano fazendo sexo desprotegido ou se faz uso de drogas injetáveis”, elenca a hematologista.
5. Pessoas de qualquer tipo sanguíneo podem doar?
Sim, e devem. A doação feita por pessoas com Rh negativo, independentemente do tipo, é extremamente útil para repor os estoques dos bancos de sangue. Além disso, o tipo O negativo pode doar para todos os demais tipos sanguíneos, salvando ainda mais vidas.
6. Quais são os cuidados antes de fazer a doação de sangue?
“A gente pede que a pessoa vá alimentada, descansada e não tenha ingerido bebidas alcoólicas nas últimas 24 horas”, destaca a dra. Joanna. Não é preciso realizar nenhum exame anteriormente, apenas estar assintomático e em boas condições de saúde.
7. Como funciona a doação de sangue?
O momento da doação de sangue acontece da seguinte forma:
- A pessoa apresenta um documento de identidade oficial com foto;
- Ela passa por uma pré-triagem, em que os profissionais de saúde avaliam se há sinais de anemia, observam o peso e checam os sinais vitais;
- É feita uma triagem mais detalhada, em que o candidato à doação é questionado sobre o seu estado de saúde, alimentação, histórico de doenças, uso de medicação, viagens, entre outras perguntas.
- Se estiver tudo certo, a pessoa é encaminhada para a coleta de sangue. O processo dura cerca de 15 minutos e são retirados de 405 ml a 465 ml de sangue, bem como amostras para exames sorológicos.
Veja também: O que acontece com o sangue após a doação?
8. Quais são os cuidados depois de doar sangue?
Pouco depois da doação, o doador pode experimentar sintomas leves, como tontura, dor de cabeça e mal-estar. Por isso, é importante se manter hidratado e bem alimentado. Também é recomendado evitar grandes esforços físicos e ingerir bebidas alcoólicas. O sangue, por sua vez, será testado para infecções e doenças como hepatite B, hepatite C, HIV, sífilis e doença de Chagas.
9. Quantas vezes uma pessoa pode doar sangue ao longo do ano?
Os homens podem realizar quatro doações ao ano com um intervalo de 60 dias entre elas. Já as mulheres podem realizar três doações com um intervalo de 90 dias.
“A diferença se dá por conta da estrutura corporal e das perdas menstruais. Se a mulher doar muito frequentemente, o risco dela evoluir para um quadro de anemia é maior”, explica a hematologista.
10. Dá para doar componentes específicos do sangue?
Sim e, inclusive, essa é uma ótima forma de ajudar outras pessoas. Componentes como plaquetas, hemácias, leucócitos e plasma são essenciais para pacientes em tratamentos quimioterápicos, por exemplo. A quantidade de elementos presentes nas doações de sangue total não é suficiente para suprir a demanda, por isso, doar componentes específicos é uma prática bastante incentivada pelos profissionais de saúde.
11. Por que é tão importante doar sangue?
“Por amor ao próximo. Existem pessoas que estão internadas ou foram submetidas a cirurgias e tratamentos e acabam enfrentando um quadro de redução da produção de células de sangue”, lembra a dra. Joanna.
Atualmente, no Brasil, apenas 14 a cada mil habitantes (1,4%) doam sangue de forma regular. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), esse percentual deveria ser de 3%. Uma única doação pode salvar até quatro vidas.
“Se você pode doar, faça esse gesto de amor. Com uma bolsinha, você salva várias pessoas”, afirma a hematologista.
Veja também: Como funciona a doação de plaquetas