Qual é o papel da enfermagem? - Portal Drauzio Varella
Página Inicial
Geral

Qual é o papel da enfermagem?

enfermeira conversa com paciente. veja a função da enfermagem.
Publicado em 12/05/2023
Revisado em 16/05/2023

Eles estão presentes do nascimento ao leito de morte. Conheça o trabalho dos enfermeiros.

 

Em meio às guerras, surgiram os enfermeiros. Os métodos desenvolvidos para tratar os feridos dos confrontos, que morriam mais de infecção do que propriamente das balas ou explosões, foram a base para a prática da enfermagem como conhecemos hoje. Mesmo em tempos de paz, passamos por pelo menos um profissional de enfermagem a cada atendimento em saúde.

Durante a pandemia de covid-19, eles se fizeram ainda mais presentes, colocando-se na linha de frente dos cuidados com a população. Mas a atuação da enfermagem é muito mais ampla do que imaginamos.

 

Quais são as categorias da enfermagem?

Antes de entrarmos no dia a dia desses profissionais, é preciso entender que existem classificações distintas entre aqueles que atuam na enfermagem. Entenda o que cada um faz:

  • Auxiliar de enfermagem: O auxiliar de enfermagem realiza um curso de cerca de 15 meses, em que aprende os cuidados básicos de higiene, alimentação e conforto ao paciente. Ao concluir, ele se torna apto a realizar procedimentos simples em pacientes de pouco risco, como dar vacinas, aplicar injeções, administrar remédios e fazer alguns tipos de curativos. Todas as suas atividades devem ser monitoradas por técnicos de enfermagem ou enfermeiros.
  • Técnico de enfermagem: O técnico de enfermagem, por sua vez, precisa ter o Ensino Médio completo e realizar um curso que dura até 2 anos. Com o diploma em mãos, ele poderá lidar com pacientes de média e alta complexidade, seguindo a orientação dos enfermeiros. Na prática, poderão atuar em centros cirúrgicos e UTIs, preparando medicações, esterilizando utensílios para cirurgias, coletando material para exames e preparando os pacientes para os procedimentos.
  • Enfermeiro: Por fim, o enfermeiro é aquele que completa o curso de Enfermagem e obtém o registro profissional junto ao Conselho Regional de Enfermagem (Coren) do seu estado. É ele quem vai assistir pacientes de todos os níveis, inclusive os mais graves, e coordenar a equipe de técnicos e auxiliares.

 

O que faz um enfermeiro?

Jussara Otaviano passou por todas essas etapas e formou-se em Enfermagem em 1994, atuando no Hospital São Camilo, em São Paulo. Nos anos 2000, ela transitou pela atenção primária e ajudou na implantação da Estratégia de Saúde da Família no estado de São Paulo. Hoje, retornou ao Hospital São Camilo, agora no cargo de professora de Saúde Coletiva da Medicina.

“Na maioria das vezes, a população reconhece o profissional da enfermagem apenas no lugar de assistência, trabalhando no hospital, no cuidado direto com o paciente. Mas também tem outros lugares que precisam de um enfermeiro”, destaca Jussara.

O enfermeiro de hospital, o primeiro que vem à mente, é responsável por prestar os atendimentos iniciais, realizar exames médicos, manter os prontuários atualizados, administrar os medicamentos prescritos, monitorar o quadro dos pacientes internados, entre várias outras funções.

Porém, ele pode atuar em diversas áreas dentro e fora do hospital. Veja:

  • Enfermeiro de emergência: com agilidade e segurança, ele faz a consulta inicial de pacientes que precisam de cuidados urgentes, principalmente em unidades de emergência e prontos-socorros.
  • Enfermeiro de centro cirúrgico: auxilia e acompanha o médico e o paciente antes, durante e depois de um procedimento cirúrgico.
  • Enfermeiro de Obstetrícia: presta assistência às gestantes desde o pré-natal até o período pós-parto, sendo, inclusive, apto para realizar partos de baixo risco.
  • Enfermeiro de resgate: oferece os primeiros cuidados às vítimas de acidentes, além de preparar o seu transporte até o hospital mais próximo.
  • Enfermeiro de atendimento domiciliar (home care ou daily care): atende na casa do paciente, fora do ambiente hospitalar, e explica os cuidados básicos de higiene, alimentação e conforto aos familiares.
  • Enfermeiro da terceira idade: realiza o acompanhamento de pacientes mais idosos, ajudando desde a socialização até a reabilitação.
  • Enfermeiro de crianças (child care): atua na prevenção de doenças comuns na infância, seja dentro de creches ou de forma particular.
  • Enfermeiro de atendimento corporativo: desenvolve políticas de segurança do trabalho dentro das empresas.

“E outro lugar é a educação. Quando a gente olha artigos da área da saúde, tem uma quantidade imensa de mestres e doutores que são enfermeiros. Todo profissional de enfermagem pode seguir a carreira acadêmica, fazer um curso de especialização (mestrado, doutorado e pós-doutorado) e ensinar os que estão vindo”, acrescenta a professora do Hospital São Camilo.

Veja também: O trabalho das enfermeiras vai além do que você imagina

 

Enfermeiro pode fazer consulta?

Uma coisa que poucos sabem é que os profissionais da enfermagem, por serem capacitados para atender diferentes tipos de pacientes em áreas tão diversas, também podem realizar consultas. 

Muitas vezes, o que é visto como uma etapa do atendimento é, na prática, uma consulta. Regulamentados pela Lei n° 7.498 e pelas resoluções do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), os enfermeiros podem realizar a anamnese e o exame físico, solicitar exames e prescrever medicações.

“Em uma Unidade Básica de Saúde, você pode ter uma consulta com o médico, mas também com o dentista, com o farmacêutico, com o nutricionista, com o terapeuta ocupacional e com o enfermeiro. Às vezes, a gente fica com uma visão de que só um ou outro profissional faz consulta, mas não é assim”, explica Jussara.

Nesse sentido, os profissionais da enfermagem também podem abrir clínicas e consultórios. A enfermeira Jussara conta que essa é uma boa alternativa, já que os enfermeiros tendem a ser bons gestores.

“O último ano da faculdade é dedicado à área da administração. É algo muito presente na nossa profissão. Então, também podemos atuar na gestão hospitalar, de serviços de atenção primária, de instituições de longa permanência e de clínicas ou consultórios”, afirma a enfermeira.

 

Qual é o perfil de um bom enfermeiro?

Além de bons gestores, os profissionais da enfermagem também precisam de algumas qualidades específicas. Na opinião de Jussara, estas são as três principais:

  • Ter uma técnica apurada: “Acho que isso já é uma realidade. Ter uma técnica perfeita e apurada, ou seja, a habilidade para fazer o trabalho, é o mínimo esperado”, diz.
  • Manter o conhecimento atualizado: “Você pode estacionar ou continuar buscando. O conhecimento é valoroso e não tem [prazo de] validade. Quanto mais você o adquire ao longo da sua carreira, mais você tem condição de ajudar o outro”, aconselha.
  • Ser acolhedor(a): “É extremamente necessário ser empático, acolher o outro que está no sofrimento e tentar resolver da melhor forma, através da técnica e do conhecimento”, pontua.

Veja também: Salvador: o trabalho dos enfermeiros durante a pandemia | Linha de Frente

 

Qual é a importância da enfermagem?

Em meio a sua trajetória na enfermagem, Jussara fez uma viagem para o sertão nordestino a fim de promover um curso de formação para lideranças comunitárias. Em uma região muito pobre, com pouquíssimos recursos para a saúde da população, ela se emocionou com uma cena: uma única enfermeira com um aparelho de medir a pressão arterial na mão.

“Só o aparelho de pressão ia resolver a situação daquela comunidade? Não. Mas ela estava ali, com a força de trabalho dela. Ali estava o SUS e ali estava a enfermagem. Só ela, mais ninguém”, lembra Jussara.

Segundo a profissional, a força da enfermagem no Brasil está, justamente, no atendimento público. Hoje, são mais de 42 mil Unidades Básicas de Saúde espalhadas pelo país e, em todas elas, há um profissional de enfermagem.

“No território mais longínquo, existe uma equipe de enfermagem. Tanto no cuidado básico quanto no intensivo, à beira do leito. O enfermeiro é aquele que fica 24 horas com o paciente. Ele consegue cumprir todos os princípios do SUS: a universalidade, a integralidade e a equidade”, afirma a enfermeira.

 

Quais são as dificuldades enfrentadas pelos enfermeiros?

No entanto, ainda que o papel dos profissionais da enfermagem seja indispensável no Brasil, existem alguns obstáculos a serem ultrapassados.

De acordo com Jussara, o primeiro deles tem a ver com a questão salarial. Em abril deste ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou o Projeto de Lei que libera verbas e acaba com as restrições para o piso nacional da enfermagem. A decisão veio depois de uma luta extensa da classe. “Que bom que nós conseguimos. Demorou muito, mas precisamos ter uma equiparação melhor do salário com outras categorias”, celebra a enfermeira.

Outro ponto é a violência sofrida pelos profissionais. De acordo com a pesquisa Perfil da Enfermagem no Brasil, realizada em 2013 pela Fiocruz e o Cofen, 84% dos profissionais de enfermagem são mulheres e mais da metade se declara preta ou parda. Sendo assim, eles costumam se tornar alvo de preconceito e agressões físicas e verbais por parte dos pacientes, além da própria violência institucional.

Por fim, há ainda a desvalorização da profissão. Na pandemia, mais de 4,5 mil trabalhadores da saúde morreram de covid-19 entre março de 2020 e dezembro de 2021, sendo a grande maioria da enfermagem. Jussara está prestes a receber uma premiação internacional da enfermagem oferecida pela rainha Silvia da Suécia. Apesar da felicidade pelo reconhecimento, ela questiona: “Nós tivemos diversos colegas que morreram na linha de frente da covid. Quantos de nós fomos premiados?”.

Veja também: Depressão, ansiedade e sobrecarga: como está a saúde mental dos profissionais de saúde?

Compartilhe