Página Inicial
Genética

Síndrome de Leigh: conheça a doença neurodegenerativa hereditária rara

bebê de costas sendo auscultado. síndrome de Leigh afeta bebês
Publicado em 08/09/2023
Revisado em 23/09/2024

A síndrome de Leigh afeta um a cada 40 mil nascidos vivos e pode se manifestar no primeiro ano de vida.

 

A síndrome de Leigh é uma doença neurológica progressiva que afeta o sistema nervoso central, principalmente o tronco cerebral e o cerebelo. Amanda Shinzato, assessora genética da Igenomix Brasil e atuante no setor de aconselhamento genético na área de reprodução humana, explica que essa “é uma doença genética causada por uma deficiência na produção de energia celular (conhecida como ATP) que afeta principalmente o sistema nervoso causando danos neurológicos graves e progressivos”.

Ou seja, a causa se deve por defeitos no mecanismo de produção de energia pelas mitocôndrias, organelas celulares que constituem verdadeiras “usinas energéticas”.  Essa síndrome ocorre principalmente em crianças nos primeiros 24 meses de vida e até o momento não existe cura.

Segundo a assessora genética, a maioria dos óbitos acontecem antes do terceiro ano de vida e decorrem de complicações respiratórias ou cardíacas, justamente por conta do mau funcionamento celular, associadas a casos de infecções recorrentes que reduzem a expectativa de vida dos pacientes. Alguns casos de início tardio podem ocorrer com manifestação na fase adulta com longa sobrevida, dependendo das complicações envolvidas. 

 

Sintomas da síndrome de Leigh

Amanda Shinzato esclarece que os sintomas neurológicos iniciam de modo inesperados com sinais que incluem convulsões, hipotonia (diminuição do tônus muscular), atraso motor, declínio cognitivo, ataxia (incapacidade de coordenação, principalmente dos movimentos voluntários), distonia (contrações musculares involuntárias de longa duração) e neuropatia periférica (fraqueza, dormência e dor devido a danos nos nervos). 

“Outros comprometimentos clínicos são cardiomiopatia hipertrófica (doenças cardíacas), anormalidades respiratórias, disfunções gastrointestinais (diarreia, vômitos, disfunções na deglutição), alterações oftalmológicas (nistagmo, atrofia óptica, estrabismo, oftalmoplegia), hipertricose, anemia, disfunção renal e hepático”, afirma.

        Veja também: Distonia causa espasmos, mas é diferente do tique nervoso

 

Como a síndrome de Leigh é diagnosticada? 

Existem métodos para diagnosticar a síndrome de Leigh. Segundo a especialista, o diagnóstico é realizado a partir da descrição clínica detalhada do paciente em conjunto com os resultados da ressonância magnética que evidencia as lesões bilaterais dos gânglios basais e/ou tronco cerebral. Os exames laboratoriais resultam em elevados níveis de lactato no sangue e/ou líquido cefalorraquidiano ou possível indício de acidose, além da possibilidade de teste genético molecular para fechar o diagnóstico. 

“Relacionado à síndrome há aproximadamente 80 genes e mutações em DNA mitocondrial (DNA restrito à mitocôndria) conhecidos. Assim, de acordo ao quadro clínico do paciente, o teste genético pode ser direcionado a um gene único ou ao sequenciamento do genoma mitocondrial ou a testes genômicos mais abrangentes”, diz. 

Portanto, um dos fatores que dificultam a busca por novas terapias é a falta de modelos eficazes da doença.

 

Quais os possíveis tratamentos para a síndrome?

Como a maioria das condições genéticas, a especialista esclarece que a síndrome de Leigh não tem cura e seu tratamento deve ser acompanhado por uma equipe médica qualificada a fim de promover mais qualidade de vida dos pacientes. 

“Há tratamentos disponíveis para reduzir a acidose aguda com administração adequada de bicarbonato de sódio ou citrato de sódio. Com supervisão médica deve ser feita a medicação anticonvulsiva correta e adaptada ao tipo de convulsão do paciente. É possível personalizar a melhor terapia para tratamento da distonia e adequada terapia anticongestiva para a insuficiência cardíaca.”

Ainda reitera que o acompanhamento médico deve ser realizado em intervalos regulares (geralmente a cada seis a 12 meses) para monitorar a progressão e o surgimento de novos sintomas. Por isso, são recomendadas avaliações neurológicas, oftalmológicas e cardiológicas. 

Pode ser sugerida ainda a administração de vitaminas e, em alguns casos, uma dieta especial pode ser prescrita e acompanhada por um nutricionista com experiência em distúrbios metabólicos.

        Veja também: Atrasos no desenvolvimento infantil: como identificar?

 

A síndrome de Leigh pode ser prevenida?

Amanda Shinzato informa que a síndrome de Leigh possui manifestação clínica e gravidade variada de acordo com a alteração genética associada a diversas mutações, podendo ser hereditária de acordo com o padrão genético de herança (mitocondrial, recessivo ou ligado ao X). 

“Identificar a mutação responsável pela ocorrência da síndrome numa família é importante para se evitar a recorrência, pois se a mutação estiver no DNA das mitocôndrias (organelas responsáveis pela energia celular), o risco de transmissão para a próxima geração é exclusivamente materno. No entanto, se for uma mutação recessiva ou ligada ao cromossomo X, os riscos são distintos. Com o conhecimento da mutação também é possível realizar Testes Genéticos Pré-Implantacionais (PGT) para seleção de embriões com baixo risco para a doença”, aconselha.

Os testes genéticos pré-implantacionais (PGT) são ferramentas utilizadas com o tratamento de reprodução assistida, como explica a especialista: “O momento ideal para a determinação do risco genético e a discussão sobre a disponibilidade de testes genéticos pré-natais/pré-implantacionais é antes da gestação. Da mesma forma, as decisões relativas a testes para determinar o perfil genético de membros assintomáticos da família em risco”.

A assessora genética da Igenomix Brasil lembra que o apoio psicológico para o paciente e a família é essencial. A investigação científica continua os seus esforços e muitos pesquisadores estão a tentar desenvolver um tratamento eficaz.

Compartilhe
Sair da versão mobile