Doença celíaca pode demorar até 7 anos para ser diagnosticada no Brasil

Pessoas com essa condição de saúde devem modificar sua dieta para o resto da vida. Diagnóstico é simples, mas muitas vezes leva anos para ser feito.

Prateleira com pães escrita gluten free.

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Publicado em: 4 de outubro de 2019

Revisado em: 11 de agosto de 2020

Pessoas com doença celíaca devem modificar sua dieta para o resto da vida. Muitas vezes, o diagnóstico leva anos para ser feito.

 

Ao contrário do que muitas pessoas pensam, o glúten não é um carboidrato, e sim uma proteína presente em cereais, como trigo, centeio e cevada. A confusão acontece porque os produtos derivados desses alimentos, como pães e massas, geralmente são enquadrados no grupo dos carboidratos.

O glúten tem uma estrutura complexa e, assim como outras proteínas, sua digestão começa no estômago. Essa digestão é parcial, já que o glúten é a única proteína que o organismo não consegue digerir totalmente. Mesmo assim, seu consumo não causa problemas para a maioria das pessoas. Para outras, porém, os danos podem ser tão graves que o consumo deve ser não só moderado, mas proibido. É o caso daqueles que têm doença celíaca.

Veja também: Artigo do dr. Drauzio sobre a doença do glúten

A doença celíaca é uma enfermidade autoimune. Quando o glúten é ingerido, desencadeia uma reação do intestino delgado que faz com que o sistema imunológico do celíaco ataque seus próprios tecidos saudáveis. Essa reação provoca uma inflamação no intestino que leva à má absorção ou até interrupção do processo de absorção de nutrientes. Nesse quadro surgem sintomas típicos de quem comeu algo que não caiu bem, como vômito, diarreia, gases, sensação de inchaço, dores abdominais e azia. Muitas pessoas se acostumam a conviver com esse desconforto, não procuram um diagnóstico e permanecem ingerindo glúten.

A doença, no entanto, vai mais longe, e pode provocar problemas bem mais graves, como lesões de pele, anemia, perda óssea e desnutrição. Em crianças, ela pode ser a responsável pelo atraso no crescimento e desenvolvimento, por isso costuma ser mais evidente e ter um diagnóstico mais rápido. Isso pode causar uma falsa impressão de que é uma doença da fase infantil, quando na verdade ela pode se desenvolver em qualquer momento da vida. O que acontece muitas vezes, é que o indivíduo tem a predisposição para desenvolver a doença, já que é uma condição de caráter hereditário, mas ela ainda não se manifestou. Episódios que causam algum tipo de desequilíbrio no organismo como uma gestação ou uma crise de estresse, por exemplo, podem ser o “gatilho” para a manifestação da doença, que passa a desencadear a reação imunológica.

 

Diagnóstico tardio da doença celíaca

 

O diagnóstico é feito com um exame de sangue que analisa a dosagem de anticorpos específicos (IgA e IgG) e uma biópsia realizada por meio de endoscopia. Nesse segundo exame, é importante que seja feita uma avaliação da parte alta do intestino para verificar se existem danos decorrentes da inflamação. Com os resultados de ambos os exames o médico pode fazer o diagnóstico.

Veja também: Dr. Drauzio comenta sobre a doença celíaca no DrauzioCast

A estimativa é de que uma em cada cem pessoas seja celíaca, ou seja, trata-se de uma doença comum. Apesar do diagnóstico ser relativamente simples, frequentemente ele leva anos para acontecer. No Brasil, após o surgimento dos primeiros sintomas, a doença celíaca leva em média sete anos para ser corretamente diagnosticada. O problema acontece porque muitas vezes os pacientes apresentam sintomas menos característicos, como aftas, fraqueza muscular, menstruação irregular e queda de cabelo, que podem fazer com que a enfermidade não seja sequer levantada como possibilidade. Estudos indicam que a doença celíaca pode se manifestar em mais de 60 sintomas diferentes, confundindo e dificultando bastante o diagnóstico. Por outro lado, quando a pessoa tem sintomas mais típicos, é comum que especialistas se concentrem em tratar esses sintomas, e não a origem do problema.

Talvez você conheça alguém que tenha episódios recorrentes de azia e queimação e lance mão com frequência de antiácidos e outros medicamentos para desconforto gástrico. Ou quem sabe você mesmo tenha esses problemas. Nesse caso, vale a pena notar se existe uma conexão entre os sintomas e o consumo de glúten. Se existir, procure uma consulta com um gastroenterologista especializado em doença celíaca.

 

Só tirar o glúten da dieta não basta

 

A partir da confirmação do diagnóstico, o paciente precisa seguir uma dieta 100% livre de glúten. Isso é relativamente simples, mas não é fácil.

Não basta apenas comprar produtos livres de glúten e parar de comer alimentos que contenham a proteína. O glúten facilmente vai parar em alimentos que não o continham originalmente. A aveia, por exemplo, apesar de não ter glúten, frequentemente é cultivada em áreas onde também se planta trigo, e acaba sendo “contaminada”. É a chamada contaminação cruzada, que pode ocorrer em todas as etapas de uma cadeia produtiva: plantio, colheita, armazenamento, industrialização, transporte e até na manipulação final de produtos.

 

Vídeo: Dr. Drauzio responde se glúten é veneno

Se o paciente vive em uma casa onde outras pessoas consomem glúten, o ideal é fazer a separação de todos os itens. Além dos alimentos, a pessoa celíaca deve ter seus próprios utensílios, panos, toalhas de mesa e até esponja própria, pois a louça precisa ser lavada separadamente.

 

Sensibilidade ao glúten não celíaca

 

Além dos celíacos, algumas pessoas podem ter sintomas desagradáveis ao ingerir glúten, mas não chegam a desencadear a reação autoimune que define a doença. Nesse caso, trata-se de sensibilidade ao glúten não celíaca (SGNC), condição que atinge em média 5% da população no Brasil. Os sintomas podem variar muito de pessoa para pessoa, mas os mais comuns são dores no estômago, náuseas, diarreia, distensão abdominal, anemia, entre outros. Geralmente, eles aparecem alguns dias ou horas após o consumo de glúten.

Os marcadores de identificação da SGNC ainda não são conhecidos e, por isso, o diagnóstico é feito por exclusão. Ou seja, para detectar a patologia é necessário antes descartar a possibilidade de doença celíaca e de alergia ao trigo (exclusão por meio de testes alérgicos apropriados). Após descartadas as duas condições, indica-se que o paciente siga uma dieta sem glúten por pelo menos quatro semanas. A seguir, ele deve voltar a ingerir alimentos com glúten e avaliar os efeitos. Se os sintomas desaparecerem durante a dieta sem glúten e surgirem novamente na dieta com glúten, conclui-se que ele tem sensibilidade ao glúten não celíaca. Importante ressaltar que esse processo deve ser acompanhado por um nutricionista.

Existem ainda pacientes com outras condições como, por exemplo, a síndrome do intestino irritável, que também se beneficiam de uma alimentação sem glúten. É fundamental que antes de fazer qualquer adequação na dieta, a pessoa consulte seu médico, para avaliar se algum sintoma recorrente pode ou não estar relacionado ao consumo de glúten. Após o diagnóstico, se for necessário mudar a alimentação, é muito importante o acompanhamento de um nutricionista, que é o profissional capacitado para avaliar e prescrever uma dieta específica para cada caso.

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