Página Inicial
Endocrinologia

Ruído alimentar: o que é e como afeta a qualidade de vida

Pensamentos recorrentes sobre a comida podem ser frequentes em pessoas que convivem com a obesidade. Nova pesquisa aponta o que pode ajudar a reduzir o ruído

Pensar em comida o tempo todo não é normal. O chamado ruído alimentar (ou food noise) se manifesta como pensamentos frequentes e obsessivos sobre alimentação. Comum entre pessoas com obesidade, essa condição pode dificultar comportamentos saudáveis e comprometer a qualidade de vida.

“O que a gente chama de ruído alimentar ocorre quando a pessoa está almoçando e pensando no jantar, planejando a próxima refeição, com aquela voz interna na cabeça. E o problema não é só você ficar pensando na comida, é o impacto que isso traz no seu dia a dia”, afirma Marília Fonseca, endocrinologista e diretora da área médica da Novo Nordisk no Brasil. 

Segundo Luciana Verçoza Viana, endocrinologista e nutróloga do Serviço de Endocrinologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre e professora de medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o ruído alimentar pode existir em pessoas com transtornos alimentares, sobrepeso e obesidade. “Ele se manifesta através do pensamento contínuo em relação à comida, mesmo quando a pessoa está saciada. A pessoa fica ‘ruminando’ pensamentos sobre alimentos o tempo todo”, complementa. 

Pesquisas mostram que 57% das pessoas com sobrepeso ou obesidade já experimentaram o ruído alimentar, embora poucas conheçam o termo. Muitos pacientes relatam que esses pensamentos excessivos dificultam a escolha de alimentos saudáveis e a adesão a um plano de exercícios físicos.

Além de atrapalhar os esforços para a perda de peso, o ruído alimentar pode afetar o bem-estar mental, gerando sentimentos de culpa, vergonha e ansiedade.

Comer é um ato desencadeado por diversos estímulos — o mais conhecido é a fome. Contudo, também comemos por prazer e recompensa. “Pensar em comida faz parte do mecanismo de sobrevivência. Isso não deve, entretanto, atrapalhar o dia a dia do indivíduo”, alerta a dra. Luciana.

O tema é tão popular que se tornou um dos destaques do congresso da Associação Europeia para o Estudo do Diabetes (EASD 2025), realizado em Viena, na Áustria.

Veja também: O que são pensamentos intrusivos?

 

Semaglutida pode reduzir o ruído alimentar?

Uma pesquisa apresentada no congresso EASD 2025 apontou que pessoas em tratamento para perda de peso com semaglutida 2,4 mg apresentaram redução do ruído alimentar.

O levantamento INFORM, realizado pela farmacêutica Novo Nordisk (fabricante da semaglatutida), ouviu 550 pessoas dos Estados Unidos em uso da medicação. O número de participantes que relatou ter pensamentos constantes sobre a comida ao longo do dia caiu de 62% antes do tratamento para 16% durante. Além disso, 64% afirmaram ter melhora da saúde mental.

“O mais importante é que vemos o bem-estar mental aumentando significativamente. E outra coisa interessante é que não só há uma redução no ruído da comida, mas as pessoas também relatam —  80% — que fazem escolhas mais saudáveis”, destacou Emil Kongshøj Larsen, vice-presidente executivo de Operações Internacionais da Novo Nordisk, durante o evento. 

Antes do tratamento, 60% das pessoas haviam dito que o ruído alimentar causa efeitos negativos em sua vida, número que caiu para 20% com o uso da medicação. 

“O conceito de ‘ruído alimentar’ dá nome a um sofrimento silencioso que impacta a saúde mental de milhões de brasileiros com obesidade. Ao comprovar cientificamente que podemos silenciar essa voz, não estamos apenas tratando o [excesso de] peso, mas combatendo o estigma e devolvendo a dignidade ao paciente”, disse a dra. Marília. 

A dra. Luciana reforça que pessoas em uso de medicamentos agonistas dos GLP-1 — como a semaglutida — geralmente referem uma redução ou “silenciamento” do ruído alimentar, embora ainda não se saiba exatamente como. “O mecanismo de ação dessas medicações no cérebro ainda não é completamente estabelecido. Uma hipótese é que, como existem receptores cerebrais para o GLP-1, a droga se ligue a esses receptores e ‘silencie’ os pensamentos inadvertidos em relação à comida. No entanto, a ciência está recém começando a investigar essa hipótese.”

 

Medidas além da medicação

Outras medidas podem funcionar como aliadas na redução do ruído alimentar, como exercício físico, meditação, dança, atividades manuais, entre outras. O ideal, segundo a dra. Marília, é buscar atividades que proporcionem relaxamento e satisfação, o que é individual de cada pessoa. 

“Lembrando que o próprio exercício físico libera as endorfinas, que são as ‘moléculas do prazer’, ou seja, no fim você estaria ajudando a controlar essa parte do apetite hedônico [vontade de comer por prazer e não por fome]”, explicou.

Veja também: Novos medicamentos para a obesidade

 

A jornalista viajou para o evento a convite da Novo Nordisk.

Compartilhe
Sair da versão mobile