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Endocrinologia

Remissão do diabetes tipo 2 é possível em alguns casos, mas não há cura

O diabetes tipo 2 não tem cura. Em alguns casos, porém, é possível alcançar a remissão da doença. Saiba o que isso significa

O diabetes é uma condição crônica que atinge cerca de 20 milhões de brasileiros, sendo o tipo 2 responsável pela grande maioria dos casos. Embora não tenha cura, em alguns casos, a doença pode entrar em remissão. Mas o que isso significa? 

Há um consenso entre as sociedades médicas: considera-se que o diabetes entrou em remissão quando o paciente está com a hemoglobina glicada abaixo de 6,5% sem a necessidade de medicamentos por pelo menos três meses. “Um bom jeito de explicar isso é: a pessoa continua tendo o diabetes tipo 2, mas a doença fica quietinha”, explica Fernando Valente, endocrinologista e diretor da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD). 

 

Perder peso é o melhor caminho 

Retomar os índices normais de glicemia sem o uso de medicamentos não é simples, mas é possível. Para isso, é preciso perder peso, reduzindo, principalmente, a gordura visceral. “Mesmo que o peso total não diminua muito, o importante é reduzir a gordura da barriga, que é uma gordura que causa inflamação. Essa gordura produz resistência à insulina, ou seja, produz substâncias que atrapalham a ação da insulina”, diz o especialista.

É claro que, se o paciente tiver uma grande redução de peso, naturalmente a gordura visceral irá diminuir. A principal recomendação é manter um estilo de vida saudável, com redução da ingestão de gorduras saturadas, gorduras trans e alimentos ultraprocessados, além da prática regular de exercícios físicos. Mesmo assim, é importante destacar que a remissão não é uma possibilidade para todos os pacientes diagnosticados com a doença. 

 

Quando a remissão é possível?

Existem alguns fatores que podem influenciar a possibilidade de uma pessoa com diabetes tipo 2 alcançar ou não a remissão, segundo o dr. Fernando. Por exemplo, pacientes que mantêm índices de glicose e hemoglobina glicada muito elevados, naturalmente, têm menor probabilidade de conseguir controlar a doença sem o uso de medicações.

Outro ponto importante é a quantidade de medicamentos usados para o diabetes: quanto mais remédios são necessários, pior; se a pessoa está perto de um bom controle com apenas um medicamento, é sinal de que a função do pâncreas está melhor do que em indivíduos que precisam de três ou mais remédios. 

O uso ou não de insulina também conta. No diabetes tipo 2, diferentemente do tipo 1, ela não é imediatamente necessária, pois o pâncreas ainda a produz. Quando há necessidade de usar insulina, mesmo que haja perda de peso, já existe um grau maior de falência pancreática, o que dificulta a remissão.

Mas um dos fatores mais relevantes talvez seja o tempo de diagnóstico. Pessoas que foram diagnosticadas há menos tempo têm maior chance de atingir a remissão, porque há maior reserva pancreática. “Com um tempo mais curto de diagnóstico — alguns estudos sugerem menos de seis anos —, a chance de remissão é maior, porque isso quer dizer que ainda não deu tempo para chegar a essa falência pancreática”, diz o médico. 

Veja também: Diabetes e qualidade de vida: como é conviver com a doença

 

Remissão é difícil de ser mantida a longo prazo

A remissão a longo prazo não é impossível, mas é improvável. “Infelizmente, não é o mais comum, porque a remissão do diabetes está muito ligada à perda de peso. Se as pessoas têm obesidade e perdem pelo menos 10% do peso, a chance de remissão aumenta bastante, e a partir de 15% de perda de peso, ela é grande, se a pessoa tiver pouco tempo de diagnóstico e não usar insulina. Então, ela é dependente do peso. E a gente sabe a dificuldade de uma pessoa com obesidade manter o peso perdido, porque a obesidade é uma doença crônica, complexa, progressiva e recidivante”, afirma o endocrinologista.

Quando ocorre uma grande perda de peso, o corpo não entende isso como algo desejável, mas sim como uma ameaça. Por isso, ele diminui o gasto enérgico e aumenta o apetite para fazer com que o indivíduo recupere o peso. Assim, é muito comum ganhar peso novamente, o que faz com que o pâncreas volte a ficar sobrecarregado e os níveis de açúcar no sangue elevados. 

“Tem um estudo que mostra, por exemplo, que das pessoas que perderam pelo menos 15% do peso, 86% ficaram em remissão um ano depois dessa perda. No entanto, cinco anos depois, nesse mesmo estudo, essas taxas estavam em torno de 13%, justamente porque é difícil manter o peso adequado e também difícil manter bons hábitos de vida cronicamente.”

 

Acompanhamento médico deve se manter em todos os casos

A possibilidade de remissão pode encorajar pacientes a suspender remédios por conta própria, o que é perigoso. “O diabetes tipo 2 é uma doença silenciosa de modo geral. A pessoa pode se sentir bem por um período prolongado, então, o risco de descompensação e de progressão da doença, com falência pancreática, é maior”, alerta o médico.

Ele explica que, no momento em que se recebe o diagnóstico, pelo menos metade da função pancreática foi comprometida. Ao suspender medicamentos sem orientação, é provável que a glicose volte a subir, aumentando o risco de complicações como alterações na visão e nos rins, perda de sensibilidade nos pés, infarto e AVC. 

E até com a glicemia controlada, existem pessoas que têm maior predisposição a desenvolver determinadas complicações. O acompanhamento médico, com exames regulares e rastreamento de complicações, continua sendo necessário mesmo para pacientes em remissão — pois não há cura. “O diabetes é uma doença crônica, exige acompanhamento contínuo, e uma vez que a pessoa foi diagnosticada, sim, ela sempre vai ter diabetes. Mesmo que a doença esteja controlada, ou seja, mesmo que os níveis de glicose normalizem, ou se mantenham em nível de pré-diabetes, a pessoa continuará tendo diabetes”, finaliza o dr. Fernando.

Veja também: DrauzioCast #168 | Tira-dúvidas sobre diabetes

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