A insulina semanal será comercializada com o nome Awiqli. Nova medicação oferece mais praticidade ao paciente com diabetes tipo 1 e 2.
Recentemente, foi aprovada pela Anvisa uma nova insulina que tem como objetivo tornar a rotina de quem convive com diabetes mais fácil. A insulina icodeca, que será comercializada com o nome Awiqli, por meio da Novo Nordisk, poderá ser aplicada apenas uma vez por semana, ao contrário das opções atuais, que exigem aplicações diárias.
De acordo com a endocrinologista Claudia Liboni, do Hospital Santa Paula, da Rede Américas, o funcionamento da nova insulina está relacionado à sua ligação com a albumina, uma proteína presente no sangue e em alguns alimentos. “Ela é uma insulina que é usada uma vez por semana, porque ela tem uma maior ligação com a albumina, e isso faz com que a liberação dessa insulina seja mais lenta, e por isso possa ser usada uma vez por semana”, explica.
A endocrinologista Adriana Martins Fernandes, do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, complementa: “É a própria molécula de insulina que tem alterações na sua estrutura. Essa modificação faz com que ela seja liberada aos poucos para agir no receptor de insulina. Por isso, ela pode ser aplicada só uma vez por semana.”
A insulina semanal poderá ser utilizada tanto por pessoas com diabetes tipo 1 quanto tipo 2. No entanto, há particularidades na indicação. “A recomendação, nos casos de diabéticos tipo 1, é que não seja início de tratamento, então seria um paciente que já está usando algum outro tipo de insulina e aí vai trocar para a icodeca. Já no caso dos pacientes diabéticos tipo 2, pode ser tanto início de tratamento com insulina como troca de uma insulina anterior pela nova insulina”, explica a dra. Claudia.
Veja também: Como funciona a insulina | Animação #09
Menos aplicações, mais conforto
A grande novidade da insulina semanal está na redução do número de aplicações. Enquanto as opções anteriores exigem ao menos uma injeção por dia — chegando a quatro ou cinco, em alguns casos —, a nova formulação propõe apenas 52 aplicações por ano, substituindo as 365 aplicações do esquema convencional.
“Apesar das agulhas hoje em dia serem muito pequenininhas, ainda assim os pacientes se incomodam, principalmente aqueles que usam também as insulinas nas refeições”, comenta a dra. Claudia.
Para a dra. Adriana, a nova formulação representa um avanço. “Hoje temos insulinas de ação intermediária, de ação longa e ultra longa. A diferença é que, mesmo sendo ultra longa, elas ainda precisavam ser aplicadas diariamente”, explica. “O fato de ter uma ação ultralonga dava ao paciente mais flexibilidade no horário da aplicação — era possível aplicar em horários diferentes sem prejuízo para o controle glicêmico. Esse era o melhor perfil de ação que a gente tinha até o momento. Agora, temos uma insulina com ação lenta, prolongada e estável durante sete dias. Isso traz um conforto enorme para o paciente”, completa.
Contraindicações e efeitos colaterais da insulina semanal
Apesar dos benefícios, a insulina semanal não é indicada para todos os pacientes. Ela ainda não foi estudada em menores de 18 anos, gestantes, lactantes e pessoas com insuficiência renal crônica avançada.
Outro ponto de atenção está nos efeitos colaterais, especialmente relacionados à hipoglicemia — queda nos níveis de glicose no sangue. “O efeito colateral mais comum é a questão da hipoglicemia. Como é uma insulina de uso semanal, quando você começa a ter hipoglicemia, para reajustar a dose só na semana seguinte, então isso é um problema”, alerta a dra. Claudia. Em testes clínicos, observou-se um aumento significativo de hipoglicemia em pessoas com diabetes tipo 1. Já em pacientes com tipo 2, a tendência de aumento não foi estatisticamente significativa.
É importante esclarecer que, para os pacientes com diabetes tipo 1, a insulina semanal não substitui a insulina que é tomada antes das refeições.
Quando estará disponível?
Apesar de já aprovada pela Anvisa, a icodeca ainda não tem data confirmada para chegar às farmácias brasileiras. Mas a expectativa entre os médicos e pacientes é alta. “Os pacientes já estão perguntando e estão muito interessados, os pacientes que usam insulina, porque para eles a vida vai ficar um pouco mais fácil, em questão de número de aplicações”, conclui a dra. Claudia.
Veja também: Por que a descoberta da insulina foi revolucionária | Coluna
