Entenda como o diabetes descontrolado pode afetar os vasos e nervos e prejudicar a função erétil e quais as opções de tratamento para o problema.
A relação entre diabetes e impotência sexual, termo popular para a disfunção erétil, é uma dúvida cada vez mais comum entre os homens diagnosticados com a doença. Segundo dados do Google Trends, a pergunta “diabetes causa impotência?” está entre as mais buscadas quando o assunto é saúde masculina, reflexo da preocupação real com o impacto da doença na vida sexual.
De fato, a disfunção erétil pode ser uma das consequências do diabetes, especialmente quando a glicemia permanece descontrolada. A condição é caracterizada pela dificuldade de atingir ou manter uma ereção suficiente para a atividade sexual e afeta não apenas a saúde física, mas também o bem-estar emocional e os relacionamentos.
Estudos indicam que mais da metade dos homens com diabetes tipo 2 desenvolvem disfunção erétil em algum momento da vida, sendo esse um dos problemas sexuais mais comuns na população masculina. A disfunção pode surgir de 10 a 15 anos antes em pacientes diabéticos do que naqueles sem a doença.
Como o diabetes interfere na função sexual
A ereção depende de um bom fluxo sanguíneo e da ação coordenada dos nervos. Quando o diabetes está descompensado, ele pode comprometer essas estruturas, dificultando o processo natural da resposta sexual.
“A condição é mais comum em homens com diabetes devido ao impacto da doença nos vasos sanguíneos e nervos. Com o tempo, o diabetes mal controlado causa danos vasculares (microangiopatia) e neuropatia diabética. Além disso, fatores hormonais, como baixos níveis de testosterona (hipogonadismo), também são mais frequentes em diabéticos e contribuem para a impotência”, explica Karolline Figueiredo, médica clínica-geral e emergencista que atua no SUS.
Ela reforça que esses mecanismos aumentam significativamente o risco de disfunção erétil em homens com diabetes quando comparados àqueles que não têm a doença.
Ouça: DrauzioCast #176 | Disfunção erétil
O que acontece nos vasos e nos nervos
A hiperglicemia crônica, ou seja, a presença constante de altos níveis de açúcar no sangue, é a principal responsável pelos danos vasculares e neurológicos.
Segundo a médica, esse processo afeta o corpo de diversas maneiras, como:
- Dano endotelial: o revestimento interno dos vasos é prejudicado, reduzindo a produção de óxido nítrico, uma substância essencial para a dilatação dos vasos e a ereção;
- Aterosclerose precoce: placas se acumulam nos vasos, limitando o fluxo sanguíneo para o pênis;
- Neuropatia periférica: os nervos responsáveis por transmitir os sinais de excitação podem sofrer danos;
- Inflamação crônica e estresse oxidativo: fatores que agravam ainda mais os danos aos vasos e nervos.
Essas alterações dificultam tanto o início da ereção quanto a sua manutenção, e o problema pode ocorrer de forma progressiva.
É possível prevenir?
A boa notícia é que, com os cuidados certos, é possível reduzir significativamente o risco de desenvolver disfunção erétil. “Manter a glicemia sob controle, com a hemoglobina glicada idealmente abaixo de 7%, é uma das principais formas de evitar danos aos nervos e vasos”, destaca a dra. Karolline.
O risco de impotência tende a aumentar com o tempo de diagnóstico e com o grau de descontrole glicêmico, o que reforça a importância de um acompanhamento médico contínuo desde o início da doença. Outros cuidados essenciais incluem:
- Manter os níveis de colesterol e pressão arterial sob controle;
- Manter o peso corporal adequado;
- Parar de fumar (no caso de pacientes tabagistas).
Quanto mais cedo essas medidas forem adotadas, menor o risco de complicações como a disfunção erétil.
Veja também: Diabetes e qualidade de vida: como é conviver com a doença
E quando o problema já está instalado?
Existem diferentes opções de tratamento para homens com diabetes que já lidam com a disfunção erétil. As estratégias são semelhantes às adotadas para pacientes sem diabetes, mas a resposta pode ser menos eficaz, exigindo abordagens combinadas.
De acordo com a especialista, os tratamentos incluem:
- Inibidores da fosfodiesterase-5 (como sildenafila e tadalafila), que são a primeira linha de tratamento, embora nem sempre funcionem bem em diabéticos;
- Reposição de testosterona, em casos de deficiência hormonal;
- Dispositivos a vácuo, que promovem ereção por pressão negativa;
- Injeções intracavernosas, que estimulam diretamente a ereção;
- Próteses penianas, indicadas em casos refratários.
Ela ainda reforça que, por conta das comorbidades comuns entre pessoas com diabetes, o tratamento deve ser individualizado e sempre acompanhado por profissionais de saúde. A resposta ao tratamento também pode variar conforme o grau de comprometimento vascular e neurológico, o que reforça a importância do diagnóstico precoce e do cuidado contínuo.
Estilo de vida também faz a diferença
Além dos medicamentos, mudanças no estilo de vida são fundamentais e podem melhorar não só a função sexual, como o controle geral da doença. Entre as medidas indicadas, estão:
- Exercício físico regular, que melhora a circulação e a sensibilidade à insulina;
- Alimentação equilibrada, como a dieta DASH (plano alimentar cujo objetivo principal é controlar a pressão arterial) ou mediterrânea;
- Perda de peso, quando há sobrepeso;
- Sono de qualidade, essencial para manter os hormônios em equilíbrio;
- Redução ou abandono do consumo de álcool e cigarro;
- Apoio psicológico ou terapia sexual, especialmente em casos de ansiedade ou depressão.
Informação é fundamental
Falar sobre a disfunção erétil ainda é um tabu para muitos homens. Mas entender que ela pode ser um sinal de alerta do diabetes mal controlado e que existem formas de prevenção e tratamento pode mudar esse cenário.
Buscar ajuda médica ao perceber alterações na função sexual não é apenas uma questão de saúde íntima, mas um passo essencial para o cuidado integral com a saúde.
Referências:
- Shindel AW, Lue TF. Sexual Dysfunction in Diabetes. [Updated 2021 Jun 8]. In: Feingold KR, Ahmed SF, Anawalt B, et al., editors. Endotext [Internet]. South Dartmouth (MA): MDText.com, Inc. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK279101/
- PEREIRA, Maria da Graça et al. Funcionamento sexual, controlo metabólico e qualidade de vida em pacientes com Diabetes Tipo 1 e Tipo 2. Rev. SBPH, v. 17, n. 1, p. 70-87, 2014. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-08582014000100005
- Verywell Health. Diabetic Erectile Dysfunction Reversal. Disponível em: https://www.verywellhealth.com/diabetic-erectile-dysfunction-reversal-5214645
- Diabetes UK. Sexual problems in men. Disponível em: https://www.diabetes.org.uk/about-diabetes/looking-after-diabetes/complications/sexual-problems-men