Parar de fumar não é fácil. Dor de cabeça, ganho de peso e tremores são os principais efeitos da abstinência de nicotina. Para algumas pessoas, há ainda outra dificuldade ao largar o cigarro: ir ao banheiro.
A constipação em quem está tentando parar de fumar tem explicação. É que a nicotina atua como um estimulador do sistema nervoso autônomo, responsável pelas funções involuntárias e automáticas do corpo, como a regulação dos movimentos dos músculos do intestino.
Ela também impulsiona receptores localizados no trato gastrointestinal. Esses receptores, chamados de colinérgicos, têm como função aumentar o peristaltismo (conjunto de contrações musculares) e acelerar o trânsito intestinal.
Além disso, estudos mostram que a nicotina atua nos nervos de irrigação do intestino, afetando a contração muscular. Ou seja, quanto mais o intestino se contrai, mais vezes a pessoa evacua.
“Por isso, fumantes geralmente apresentam o intestino mais solto, com maior frequência de evacuação, principalmente após o primeiro cigarro do dia. Muitos fumam pela manhã e já percebem o intestino funcionando”, explica Tassiane Alvarenga, médica endocrinologista e metabologista.
Sendo assim, quando a pessoa para de fumar, a resposta do organismo pode ser percebida pela lentidão no funcionamento do intestino.
Parar de fumar x prisão de ventre
Sentir o intestino preso ao largar o cigarro é mais comum em pessoas que já tinham a tendência a um trânsito intestinal mais lento, possuem alguma doença que afeta o intestino ou associavam o ato de fumar a momentos de estímulo intestinal.
“Por exemplo: tomavam café da manhã, fumavam e já iam ao banheiro evacuar. Assim, condicionaram esses hábitos — fumar e evacuar”, ilustra a dra. Tassiane.
Com a interrupção da nicotina, a microbiota intestinal também pode sofrer alterações, deixando o indivíduo mais suscetível ao intestino preso.
No entanto, adotar hábitos saudáveis, como beber bastante água, ingerir alimentos ricos em fibras e praticar atividades físicas, evita a sensação de prisão de ventre, já que esses fatores compensam a ausência da nicotina no organismo.
Quanto tempo após parar de fumar o intestino preso volta ao normal?
Ainda que seja uma sensação incômoda, ela passa. Em média, o intestino volta a funcionar normalmente entre duas a seis semanas depois. Em algumas pessoas, especialmente as mais sensíveis à falta de nicotina, esse período pode se estender por até três meses. Idade, sexo, estado nutricional, prática de atividade física, padrão alimentar e presença de comorbidades influenciam na adaptação.
Para combater a prisão de ventre durante a fase de abstinência do cigarro, alguns hábitos podem ajudar:
- Ingerir alimentos ricos em fibras, priorizando vegetais, frutas com casca, leguminosas e cereais integrais;
- Hidratar-se corretamente, ou seja, em torno de 30 a 35 ml por quilo de peso por dia;
- Praticar atividades físicas regularmente, especialmente exercícios aeróbicos, como bicicleta, corrida e natação;
- Manter uma rotina intestinal estruturada, por exemplo, mantendo o hábito de tomar café da manhã e ir ao banheiro se já fazia isso enquanto fumava;
- Evitar excesso de cafeína, alimentos ultraprocessados e álcool, pois eles desequilibram a microbiota intestinal.
Agora, se o intestino preso vier associado à dor abdominal intensa e persistente, febre, sangue ou muco nas fezes, fezes escurecidas, perda de peso inexplicável e distensão abdominal, procure ajuda médica. Se não conseguir evacuar por mais de quatro dias, mesmo com mudanças na alimentação e estilo de vida, também é importante consultar um especialista, em particular se houver histórico familiar de doença coronariana ou doenças inflamatórias intestinais, como doença de Crohn e retocolite ulcerativa.
“Nesses casos, é importante procurar um gastroenterologista para uma investigação adequada. Em alguns casos, pode ser necessária a realização de colonoscopia, estudo do trânsito colônico ou exames laboratoriais para descartar, por exemplo, o hipotireoidismo, que é uma causa de constipação crônica”, recomenda a endocrinologista.
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