Álcool e cigarro estimulam a produção de dopamina, um neurotransmissor envolvido nas sensações de prazer.
Já percebeu que algumas pessoas sentem mais vontade de fumar um cigarro quando tomam uma cerveja ou outro tipo de bebida alcoólica, principalmente em reuniões com os amigos? A explicação para o desejo duplo, segundo estudos e especialistas da área, envolve tanto a bioquímica do corpo quanto as esferas social e cultural.
No organismo, as duas drogas estimulam a produção da dopamina, um neurotransmissor (mensageiro químico) envolvido nas sensações de prazer. Quando essas substâncias são ingeridas em conjunto, portanto, os indivíduos sentem ainda mais euforia, ficam mais bem-humorados e têm sensação de plenitude – mas só no curto prazo.
Há ainda outro ponto citado por alguns estudos: a bebida alcoólica e a nicotina do cigarro funcionam de forma antagônica em uma espécie de círculo. Isso porque o álcool é uma substância depressora do sistema nervoso que causa sonolência e relaxamento, enquanto a nicotina tem efeito estimulante. Logo, a pessoa tem mais vontade de fumar quando bebe para suprir a sonolência provocada pela bebida.
Para o médico Nicollas Nunes Rabelo, neurocirurgião e diretor das Ligas Acadêmicas da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (SBN), os dois hábitos são ruins e não existe nenhum nível saudável de consumo das duas drogas, nem mesmo em encontros sociais.
“O nível de segurança é zero. No meu ponto de vista médico, esses prazeres curtos gerados por álcool e cigarro são só efeitos deletérios. Algumas pessoas ficam na busca eterna de alguma coisa para lidar com frustrações, mas na verdade precisamos olhar para trás e tentar reequilibrar algo que não está no lugar”, comenta.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o consumo ativo de cigarro é responsável por tirar a vida de 8 milhões de pessoas por ano no mundo. Quase 90% dessas mortes ocorrem por causa do uso direto da droga. Os óbitos restantes são de fumantes passivos – aqueles que inalam a fumaça dos derivados do tabaco.
O cigarro também está associado a pelo menos 50 tipos de doenças, como cânceres de pulmão, fígado, bexiga, esôfago, pâncreas e colo do útero; problemas no aparelho respiratório, a exemplo de asma, enfisema pulmonar e infecções respiratórias; e enfermidades cardiovasculares, como acidente vascular cerebral (AVC) e infarto agudo do miocárdio.
Já o álcool, também segundo a OMS, é responsável pela morte de 3 milhões de pessoas por ano no planeta. Além disso, está associado a 5,1% das doenças e lesões – como transtornos mentais, cirrose hepática, diferentes tipos de câncer e ferimentos resultantes de acidentes de trânsito -, provocando ainda problemas sociais e econômicos, tanto para os indivíduos que bebem em excesso como para aqueles que vivem ao redor.
Álcool e cigarro: socialização, cultura e disponibilidade
Além da questão físico-química, aspectos comportamentais, sociais e culturais também contribuem para a associação entre cigarro e bebida alcoólica. É o que afirma o psicólogo Paulo Henrique Dias Quinderé, doutor em saúde coletiva e professor da Universidade Federal do Ceará (UFC).
Tanto o álcool como o cigarro, de acordo com ele, são substâncias usadas por algumas pessoas para socializar e estabelecer interações. “Então eles estão relacionados diretamente com nossas memórias afetivas, seja porque a gente comemorou, porque a gente está feliz ou até porque a gente vai afogar as mágoas, como dizemos no jargão comum. Eu diria, portanto, que essas memórias afetivas estão relacionadas ao uso coletivo e à maneira como a gente utiliza essas substâncias como forma de interação social.”
Outro ponto que favorece o consumo da dupla nada saudável é o fato de as duas drogas serem lícitas e vendidas em diversos pontos comerciais, diferentemente das drogas ilícitas. Além disso, ainda existe uma publicidade massiva de álcool nos veículos de comunicação, o que, segundo a OMS, também favorece o uso, em especial entre os jovens.
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Parar de fumar e beber
Por causa das questões fisiológicas, culturais e sociais associadas ao álcool e ao cigarro, sem contar o lobby das duas indústrias, pode ser difícil para a pessoa parar de fumar e beber. Nesses casos, segundo o dr. Rabelo, é essencial procurar ajuda de especialistas da medicina e da psicologia.
“A primeira coisa é buscar ajuda de um profissional sério que o indivíduo goste. Na sequência, é preciso entender qual o problema de base psicológico e tratá-lo, seja a depressão ou qualquer outro transtorno. Cada caso demanda um tratamento específico”, disse ele.
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