São muitos os desafios para a obtenção de uma vacina para a dengue, e as condições atuais ainda são insuficientes. Leia mais no artigo do dr. Drauzio.
O vírus da dengue infecta anualmente 300 milhões de pessoas no mundo, das quais 96 milhões desenvolvem os sintomas clássicos da doença. Segundo a Organização Panamericana da Saúde, no período de 2003 a 2013, o número de casos nas Américas aumentou cinco vezes.
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Existem quatro tipos de vírus da dengue (sorotipos 1, 2 , 3 e 4), que podem causar infecções assintomáticas, sintomas virais discretos e inespecíficos, os sintomas caraterísticos da doença ou formas mais graves que evoluem com extravasamento de plasma sanguíneo para fora dos capilares, tendências hemorrágicas e morte.
Pessoas que já foram infectadas por um dos sorotipos correm risco de desenvolver quadros mais graves, ao ser infectadas por um vírus de outro sorotipo.
São muitos os desafios para a obtenção de uma vacina contra a dengue: precisa oferecer proteção contra os quatro sorotipos, faltam modelos de animais de experimentação que apresentem quadro comparável ao do homem, e o conhecimento dos fenômenos imunológicos envolvidos ainda é incompleto.
Depois de décadas de tentativas para chegar à vacina, acaba de ser publicado um estudo conduzido com uma preparação desenvolvida pela parceria francesa entre a Sanofi e o Instituto Pasteur.
De junho de 2011 a março de 2012, foram vacinadas crianças de 9 a 16 anos, em cinco países latino-americanos: Brasil, Colômbia, México, Porto Rico e Honduras.
Nesse estudo fase 3, foram divididas em dois grupos 20.869 crianças saudáveis. O primeiro recebeu três doses da vacina: no instante inicial, 6 meses e 12 meses mais tarde; o segundo recebeu três injeções de uma preparação inerte (placebo), administradas com os mesmos intervalos.
A redução do número de casos graves a requerer hospitalização é encorajadora, porque reflete o impacto da vacina na diminuição da morbidade e reduz os custos sociais e o sofrimento imposto pela doença.
A vacinação apresentou 60,8% de eficácia.
A proteção contra os quatro sorotipos, no entanto, foi desigual: 50% para o sorotipo 1, 42% para o sorotipo 2, 74% para o sorotipo 3 e 78% para o sorotipo 4 – em número arredondados.
A eficácia medida pela redução do número de crianças que precisaram ser hospitalizadas foi de 80,3%. No grupo vacinado, o número de quadros clínicos graves foi 95,5% menor.
Os efeitos colaterais da vacina foram semelhantes aos do grupo-placebo, sem diferença nenhuma na incidência de eventos adversos. Crianças anteriormente infectadas por um dos sorotipos não tiveram complicações; pelo contrário, a eficácia da vacina foi até mais alta: 79,4%.
Difícil explicar a diversidade dos graus de proteção para os quatro sorotipos, bem como as razões pelas quais crianças previamente infectadas por um dos sorotipos foram protegidas com mais eficácia do que as virgens de infecção.
A redução do número de casos graves a requerer hospitalização é encorajadora, porque reflete o impacto da vacina na diminuição da morbidade e reduz os custos sociais e o sofrimento imposto pela doença.
Esse estudo demonstra que é possível administrar numa única preparação, uma vacina segura e ao mesmo tempo eficaz contra os quatro sorotipos da dengue.